Panorama internacional

Dependência dos EUA e recusa de adesão ao BRICS foram erros da Argentina mais graves, dizem analistas

A Argentina pagou um alto preço em termos econômicos e de reputação ao abandonar o BRICS há dois anos, avaliam especialistas ouvidos pela Sputnik.
Sputnik
Nesta quarta-feira (10), completam-se dois anos da posse de Javier Milei como presidente da Argentina. Uma de suas primeiras decisões no cargo foi recusar a adesão ao BRICS.
De acordo com o presidente do Centro de Integração e Cooperação da Rússia e América Latina (CIRCAL), Esteban Perié, a Argentina perdeu uma oportunidade histórica nesse período e se privou da possibilidade de ampliar seus mercados, obter financiamento em condições mais favoráveis e diversificar sua economia.

"A recusa em aderir ao BRICS não foi apenas uma divergência diplomática: foi a rejeição de um espaço que hoje reúne mais de 40% da população mundial e fortalece sua posição como um dos centros econômicos mais dinâmicos do planeta. Isso resultou na perda pelo país da oportunidade de expandir mercados, obter financiamento acessível e diversificar sua política externa em um mundo já abertamente multipolar", afirmou o analista.

Segundo Perié, as perdas econômicas são especialmente evidentes. As relações com a Rússia se deterioraram drasticamente: as exportações caíram de US$ 1,4 bilhão (R$ 7,6 bilhões) para apenas US$ 250 milhões (R$ 1,36 bilhão). O mesmo ocorre nas relações com a China, onde projetos estratégicos foram paralisados por decisão do governo argentino, afirmou.
O especialista observou que, ao abandonar o BRICS, a Argentina perdeu o acesso a instrumentos-chave, como o comércio em moedas locais, essencial para um país que sofre cronicamente com a escassez de dólares, e a possibilidade de obter empréstimos do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, que financia infraestrutura em condições mais favoráveis do que as oferecidas por instituições ocidentais.
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Além disso, segundo Perié, Javier Milei cometeu outro erro estratégico ao se afastar da integração latino-americana: em um mundo que caminha para a consolidação de blocos regionais, a Argentina está se isolando de seus parceiros naturais e mercados próximos. Tal ruptura pode enfraquecer a soberania nacional do país, adicionou o especialista.

"A política externa de Milei não amplia a presença da Argentina no mundo, mas, ao contrário, a reduz, condiciona e torna mais dependente. Como resultado, o país perde voz, aliados e margem de manobra em um momento em que o mundo precisa de mais autonomia, integração regional e capacidade diplomática para o diálogo", disse.

O analista também avalia que outro erro do governo argentino foi a subordinação da política externa argentina aos interesses dos EUA.

"Talvez a consequência mais grave tenha sido a perda de autonomia. A política externa passou a se submeter às decisões dos Estados Unidos, especialmente à luz do retorno de Donald Trump [...] O abandono do BRICS foi, nesse sentido, um sinal claro: a Argentina renunciou voluntariamente à possibilidade de gerir sua própria agenda", afirmou Perié.

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Outro analista internacional, Christian Lamesa, também expressou a opinião de que seguir cegamente os interesses dos EUA é inaceitável para a Argentina, pois isso leva o país a perdas econômicas.

"Estes dois anos foram caracterizados pela aceitação incondicional de todos os pedidos da Casa Branca. Isso representou um retrocesso para a Argentina, porque nosso país tem outros parceiros comerciais e potenciais aliados com os quais compartilhamos uma história comum e relações importantes, como China, Brasil, México, Venezuela e, claro, a Rússia", disse.

O presidente da Argentina, Javier Milei, iniciou há dois anos uma "terapia de choque" que afetou todos os setores da economia e grande parte da população do país.
O reformador ameaçou abolir o Banco Central e, com o objetivo de revitalizar a economia enfraquecida, substituir o peso pelo dólar, quando a moeda nacional "se tornasse uma espécie de peça de museu". No entanto, essa medida ainda não foi implementada.
Diante do aumento da dívida pública e da inflação, o governo argentino conta com o apoio dos EUA.
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