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PT convoca jornada de luta e dirigente fala em “ofensiva do capital articulado aos EUA”

© Robson Fernandjes / Fotos PúblicasManifestação na av. Paulista
Manifestação na av. Paulista - Sputnik Brasil
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Um dia depois que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, se reuniu com aliados para arquitetar uma nova manobra para votar o pedido de impeachment contra a Presidenta Dilma, a Comissão Executiva Nacional do PT denunciou a gestação de um estado de exceção no país e convocou uma Jornada em Defesa da Democracia para fazer frente às ameaças golpistas.

“O PT exorta todos os seus militantes a construírem uma trincheira de luta pela democracia, pelos direitos dos trabalhadores/as, pelos direitos humanos, em defesa da Petrobras e do povo brasileiro. Que ninguém se cale! Levantemo-nos juntos!”, diz o texto da resolução publicada ontem.

Na segunda-feira (3), segundo fontes da agência Estado, Cunha se encontrou com aliados do PSDB, do DEM e do Solidariedade para discutir como a pauta do impeachment poderia ser avançada sem comprometer diretamente o presidente da Câmara, suspeito de ter recebido R$ 5 milhões em propina, segundo recente delação do consultor Júlio Camargo no âmbito da Operação Lava Jato.  

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Supostamente, os grupos opositores acordaram a possibilidade de que, após o Tribunal de Contas da União emitir seu parecer a respeito das contas de governo de Dilma, Cunha rejeite o pedido de abertura de processo de impeachment. Em seguida, porém, a oposição apresentaria um recurso, que seria então votado e aprovado, garantindo assim a votação do impeachment, baseado na acusação de crime de responsabilidade fiscal.    

Em entrevista exclusiva à Sputnik, Carlos Henrique Árabe, Secretário Nacional de Formação Política do PT, falou sobre a convocatória dirigida aos militantes do partido, a onda reacionária na América Latina, a política para a educação do governo Dilma e o atentado contra a sede do Instituto Lula, atingido por uma bomba caseira no último dia 30 de julho. A seguir, a entrevista na íntegra:

Sputnik: Ontem (4), a Comissão Executiva Nacional do PT convocou uma Jornada em Defesa da Democracia. Por que convocar este evento, neste momento, é importante?

Carlos Henrique Árabe: Em primeiro lugar, esta jornada já está em andamento com a convocação dos movimentos sociais de diversas mobilizações em defesa da democracia e dos direitos econômicos e sociais dos trabalhadores e do povo. Por que isso ocorre neste momento? Porque há ameaças de direita no Brasil, de caráter golpista, no sentido de tentar impedir o governo da Presidenta Dilma e no sentido até de tentar um golpe autoritário contra o governo.

Como os movimentos sociais entendem que os movimentos da direita buscam instaurar um regime autoritário e, ao mesmo tempo, destruir todas as conquistas dos últimos doze anos, os movimentos sociais estão agindo em autodefesa e em defesa da democracia. O Partido dos Trabalhadores convoca os seus militantes, seus filiados e seus eleitores para engrossar essas jornadas que já estão em andamento: este é o sentido da convocação do PT.

S: O senhor diria que essa onda conservadora que ocorre no Brasil faz parte de um esforço midiático espelhado em outros países da América Latina?

CH: A nossa avaliação é que isso faz parte de uma contraofensiva conservadora do que podemos chamar de um poder internacional, ligado ao grande capital, aos interesses dos bancos, e associado ou articulado aos Estados Unidos.

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Quando se olha a América Latina, há situações e movimentos muito parecidos no Equador, em El Salvador, na Venezuela, na Argentina… No Paraguai, tivemos um golpe por cima, um golpe “institucional” que depôs o Presidente [Fernando] Lugo, e isso inaugurou um movimento da direita associado internacionalmente que, para nós, aparece assim: as forças de direita, eleitoralmente, estão perdendo. Na democracia – imperfeita, com muitos problemas, muito dominada pelo dinheiro –, ainda assim, nessa democracia, ainda que seja limitada, mas potencialmente podendo ser aprofundada pelo povo, nesta democracia a direita está perdendo. Ela não está conseguindo convencer a maioria de que as suas propostas são melhores que a esquerda. Então, o que ela faz nesta situação? Ela prefere acabar com a democracia. Isso é uma coisa antiga no mundo, mas que está sendo atualizada, hoje, na América Latina, e não só no Brasil.

S: Uma das principais pautas do governo Dilma é em favor de uma “Pátria Educadora”. No dia 14 de agosto, dentro do contexto dessa convocação à Jornada em Defesa da Democracia, haverá um Ato Nacional pela Educação. No entanto, uma das críticas que se fazem ao atual governo diz respeito aos cortes nesta área. Como o senhor encara esta situação?

CH: O dia 14 vai ser um momento importante de debate, de defesa das nossas conquistas na Educação, e nós temos certeza que se houver restrições de gastos, o governo vai rever. Porque o objetivo é avançar a partir das conquistas que nós já temos. 

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Essas conquistas implicam em uma grande ampliação das oportunidades de estudar para o povo, numa ampliação do ensino público – que nós queremos que seja maior –, numa extensão do tempo de estudo para o povo, não só para a elite. Quer dizer: no Brasil, os que têm condições – os que tinham condições – de estudar mais, de chegar até a universidade, era claramente um setor muito limitado – e muito limitado pela renda. A nossa conquista foi abrir esse território da educação para o povo. E nós temos certeza que o governo da Presidenta Dilma tem isso como uma bandeira central, como um compromisso central. E tem diálogo com as universidades, com o movimento da educação. E, havendo, sim, hoje, restrições temporárias, elas serão superadas.

S: O senhor tem algum prazo estimado para a retomada dos investimentos em Educação, após essas “restrições temporárias”?

CH: A ideia é que não haja interrupção. Em situações de governo, muitas vezes há um setor, digamos assim, “mais realista que o rei”. Então, neste caso, se houver restrições impostas pelo setor da Fazenda, elas serão removidas por decisão do governo, em diálogo com o movimento da educação.

S: Em relação ao atentado ocorrido contra o Instituto Lula, a resolução da Comissão Executiva Nacional do PT do dia 4 diz que foi um atentado de caráter fascista. O senhor pode comentar essa declaração?

Sim. Acho muito importante a sua questão. Em primeiro lugar, foi um atentado com material violento, e é importante lembrar que ao lado do Instituto Lula fica a sede de um hospital. Nem isso essa direita considera. 

É um atentado visando o Presidente Lula: nós não achamos que é um atentado contra a parede, é um atentado contra o Lula, e entendemos que é um atentado contra a esquerda. 

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Nós não minimizamos isso, e entendemos que as diversas forças de direita são coniventes com o atentado – incluída boa parte dos meios de comunicação. Esses setores ou silenciaram, não se pronunciaram, não falaram nada – então são coniventes, são omissos –, ou procuraram justificar, dizendo que o PT está exagerando uma ameaça. Nós sabemos que os movimentos de direita violentos, e que no final da linha suprimem a liberdade, começam com tentativas, com exercícios de força; e se não há reação, eles crescem e avançam. Por isso que nós terminamos nosso documento da Executiva com a frase “Que ninguém se cale!”: 

Que ninguém se omita. Que nos levantemos. Que não aceitemos. Não é só o PT que está em jogo. O que está em jogo são as liberdades democráticas no Brasil. No Brasil e na América Latina. 

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