O Pentágono insiste que a base aérea de Incirlik, na Turquia, foi usada nesta semana para atacar as posições na Síria da organização terrorista Estado Islâmico, proibida na Rússia e em outros países.
Seis caças F-16 da Força Aérea dos EUA chegaram a Incirlik, no sudeste da Turquia, no início desta semana, pouco depois de que Ancara abriu o acesso estadunidense às bases turcas para lidar com a ameaça terrorista.
Em um comunicado divulgado na tarde da quarta-feira (12), o Pentágono lista os ataques realizados por seus aviões. São nove golpes aéreos no solo sírio e dez no solo iraquiano, que visaram unidades de infraestrutura, material bélico e armazéns do Estado Islâmico.
No entanto, o jornal norte-americano The Daily Beast cita um relatório de um grupo de observadores sírio denunciando a morte de vários civis, inclusive crianças, após um dos golpes aéreos em Alepo. A área atacada não era controlada pelo Estado Islâmico.
Já segundo a organização Airwars, que coleta dados sobre a operação militar da coalizão ocidental contra o Estado Islâmico, o número total das baixas entre civis, desde o início da campanha, chegou a quase 1.250.
Turquia nega
O chanceler turco, Mevlut Cavusoglu, negou que houvesse decolagens de combate de Incirlik, nem de qualquer outra base aérea turca, senão que a pista da base foi usada para voos de observação.
O ministro negou também que esteja em curso uma operação terrestre contra os curdos da Síria, mas confirmou que o governo da Turquia não aprova a atuação dos curdos, porque, mesmo combatendo o Estado Islâmico, não são uma força que luta pela paz e estabilidade na Síria.
Cavusoglu declarou que a zona tampão entre a Turquia e a Síria, cuja criação é um dos objetivos da coalizão internacional, não admitirá militantes curdos da Síria no seu território, mas sim, militantes da oposição armada que luta também contra o regime de Bashar Assad, terão o acesso e poderão implanar as suas forças nesta zona. Esta declaração foi seguida por outra, dizendo que a Turquia não apoia o regime de Assad, alegando a declaração de Genebra que prevê convocação das eleições antecipadas.
O chanceler negou também que haja qualquer tipo de parceria com o Irã na busca pela solução pacífica do conflito. "Nós não participamos de fato deste processo, mas exprimimos o nosso apoio total à trégua", disse Cavusoglu.
Atentado
A tensão cresceu drasticamente após o atentado de 20 de julho, quando um membro do Estado Islâmico fez-se explodir durante uma reunião de ativistas pacíficos curdos, matando 32 pessoas. Um dia depois do ataque, vários policiais turcos foram violentamente mortos por militantes do braço armado do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK) em um ato de “vingança”.
Logo depois, o exército turco participou de um tiroteio transfronteiriço após um ataque por parte do Estado Islâmico do território sírio. O que seguiu foi a primeira operação militar turca no solo sírio depois do início do conflito no Oriente Médio.
O convite turco para que militares estadunidenses usem suas bases militares abriu novamente para os EUA o caminho ao Oriente Médio. Até que o general Raymond Odierno, comandante pronto a se reformar, considerou, em um discurso na noite passada, que Barack Obama deveria estudar a opção de voltar de novo ao Iraque.
Devastado por longos anos de guerra e instabilidade, após o derrubamento e morte de Saddam Hussein, sob pretexto de combater a ameaça de usar armas químicas (que Bagdá não possuía, e os EUA admitiram isso – depois), o Iraque se tornou um dos territórios almejados pelo Estado Islâmico. Um documento recentemente desclassificado confirma que a negligência dos EUA em lidar com grupos extremistas como o Estado Islâmico do Iraque, em 2012, pode ter sido um dos fatores do desenvolvimento rápido e ascensão do Estado Islâmico na sua versão atual.
Depois, os EUA saíram do Iraque, deixando o país sem governo (derrubado por eles) e sem apoio. Agora, generais querem voltar, usando como pretexto a guerra na região.
No entanto, o general Odierno disse que agressão demasiada iria “quebrar” tanto o Iraque, como a Síria.
A Rússia apresentou recentemente o seu projeto de solução pacífica do conflito no Oriente Médio. O chanceler russo Sergei Lavrov asseverou que é preciso coordenar as forças que já estão combatendo na região, deixando o “acerto das contas” para depois.
Frisou também que os combatentes devem atacar o Estado Islâmico, e não tentar derrubar o governo sírio de Bashar Assad, como o faz a oposição armada síria. Segundo o ministro, a deposição violenta do presidente sírio abriria acesso fácil e rápido ao poder regional do Estado Islâmico.