O artigo veio a público na sequência da reunião entre o presidente russo Vladimir Putin e o vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, em Moscou, na quarta-feira (28).
"A Alemanha enviou um sinal na quarta-feira de que está repensando sua relação com a Rússia, quando o vice-chanceler e ministro da Economia, Sigmar Gabriel, se reuniu com o presidente russo Vladimir Putin em Moscou", diz o texto.
"Berlim está à procura de maneiras de modificar ou mesmo de levantar as atuais medidas punitivas contra Moscou. No entanto, tal decisão provavelmente criaria atrito entre a Alemanha e a maioria dos países da Europa Central e Oriental, o que significa que Berlim ainda não está pronta para uma mudança formal de direção", acrescenta a análise.
O autor, em seguida, enumera as razões pelas quais a Rússia e a Alemanha poderiam ser de algum interesse uma para a outra.
Interesse da Alemanha na Rússia
"As sanções da União Europeia (UE) contra Moscou tornam a exportação de mercadorias para a Rússia complicada. Além disso, a Alemanha e a Rússia haviam planejado aumentar o comércio antes da crise, com negociações para trens, fábricas de produtos químicos e outros projetos sobre a mesa", observa a agência, acrescentando que "a Alemanha também está interessada em melhorar seus laços com a Rússia no setor de energia".
"A Alemanha é o maior consumidor de gás natural russo. Este fato obriga Berlim a se certificar de que as empresas de energia alemãs e russas continuem a cooperar. Também força Berlim a se equilibrar entre a contenção da influência de Moscou na Europa Central e Oriental e a necessidade de garantir que a Rússia continue a vender gás natural a preços acessíveis".
Outra razão, segundo o artigo, é que a Alemanha vê a Rússia como um "jogador-chave na resolução da crise na Síria, que está diretamente ligada ao aumento da chegada de requerentes de asilo na Europa".
O argumento ecoa um discurso recente do analista político Ian Bremmer – colunista da revista Time e presidente da consultoria Eurasia Group –, que disse que os europeus "ficaram fartos das sanções antirrussas". E, como a Ucrânia "deixou as manchetes", disse ele, "vê-se mais líderes europeus dizendo: ‘vamos tentar normalizar nossas relações com o Presidente Putin".
Interesse da Rússia na Alemanha
O artigo sugere ainda que "o Kremlin vê as reuniões com altos funcionários europeus como prova de que não está isolado e como um meio de gerar atrito entre os membros da UE".
"Putin provavelmente também pensa em longo prazo. Gabriel é o líder do Partido Social Democrata, que tradicionalmente tem sido simpático para com a Rússia. Com a popularidade do partido União Democrata Cristã da chanceler alemã Angela Merkel em declínio devido à crise dos refugiados, há uma chance de Merkel não ser vitoriosa nas próximas eleições gerais, previstas para 2017. O Partido Social Democrata também está sendo prejudicado por causa da crise dos refugiados, mas a preservação das boas relações da Rússia com a centro-esquerda alemã poderia ser útil no caso de o partido ter um bom desempenho daqui a dois anos", argumenta a Stratfor.
Atenção da Ucrânia e os Estados Unidos
O encontro de Gabriel com o Presidente Putin, segundo a agência privada de inteligência norte-americana, vai chamar a atenção da Ucrânia e dos Estados Unidos.
"Embora países do Ocidente como a Itália e a França sejam favoráveis a uma flexibilização das tensões com o Kremlin, a maioria dos membros da UE na Europa Central e Oriental continua a pressionar por uma linha dura sobre Moscou", adverte o relatório.
Portanto, conclui a agência, "a Alemanha vai provavelmente decidir lidar com uma crise de cada vez".