A má relação entre a Turquia e a Rússia remete a um jogo de pôquer em que o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, não tem nenhuma carta decente, escreveu jornal alemão Frankfurter Rundschau (FR) no domingo (6).
"Felizmente, ainda se trata apenas de palavras e sanções econômicas, como a proibição russa de importação de frutas e legumes da Turquia, que Erdogan chamou de ‘risível’", nota o autor do artigo, Frank Nordhausen.
"A ordem de Putin para os turistas deixarem de visitar a Turquia é menos divertida", continua o FR, salientando que Ancara tem poucos meios para responder as medidas da Rússia, postas em prática depois que os caças turcos derrubaram um bombardeiro russo Su-24 sobre a Síria no último dia 24 de novembro.
"Putin ainda não jogou o seu trunfo mais forte. A Turquia é dependente do gás natural russo para 54 por cento do seu abastecimento energético, e a Rússia tem o contrato para construir a primeira usina de energia atômica da Turquia", observa a publicação alemã.
"Os europeus devem agir para ajudar a tirar Erdogan da armadilha em que ele se meteu”, prossegue o artigo. "Se o abate do Su-24 foi concebido para ser um aviso a Moscou, ele saiu pela culatra. Como disse um comentarista turco, ninguém dança com o urso russo com impunidade".
Nordhausen adverte que uma situação tão fratricida deve ser resolvida com a ajuda das nações europeias. Atualmente, em Istambul, o escritor diz ter sido lembrado dos idos tempos imperiais na última sexta-feira (4), pela passagem de um navio russo através do Estreito de Bósforo onde um soldado mascarado estava de pé sobre o deck, equipado com um MANPAD (sistema de defesa aérea portátil), um sistema de míssil superfície-ar em seus ombros.
"Os dois países ainda não estão atirando contra os soldados uns dos outros tão frequentemente como eles fizeram durante a rivalidade secular entre os impérios Otomano e Russo. Mas o guerreiro do MANPAD no Bósforo deveria avisar a Turquia de quão pouco a separa de uma ‘guerra quente’" ressaltou o autor do artigo.
Segundo ele, as potências europeias, que deram ao presidente turco uma impressão de fraqueza devido à crise dos refugiados, devem agora se levantar e defender Ancara, a fim de evitar a escalada ainda maior da situação.
"Os europeus devem agir, no seu próprio interesse, para ajudar o presidente turco a sair da armadilha em que ele se meteu A União Europeia pode fazer isso a partir de uma posição de força, já que a Turquia é dependente dela agora mais do que nunca", opinou o jornalista.