Estela de Carlotto, presidente das Avós da Praça de Maio, ressalta que sua organização tem “uma longa história de 38 anos de luta como consequência de uma ditadura cívico-militar que sequestrou 30 mil pessoas, entre elas, nossos filhos e nossos netinhos nascidos durante o cativeiro de suas mães”.
“A resposta, dada por um representante do presidente, foi de que Macri não poderia nos receber por falta de tempo, por ter outros compromissos. Não nos deu outra data nem remarcou para mais adiante, a não ser que aceitássemos ser recebidas por outra autoridade do Governo, que preside a Casa Civil. Diante dessa realidade, aceitamos o encontro para tratar dos temas emergentes que temos na maioria dos organismos de direitos humanos da República Argentina. Ele vai nos receber nos próximos dias e vamos dialogar, levando nossas necessidades. Mas também queremos saber – e essa é uma pergunta para o presidente – qual o seu programa, seu projeto de gestão de Governo no tema dos direitos humanos, e todas as suas questões, porque o que está acontecendo agora é muito preocupante, as medidas que o Governo está tomando são muito, muito preocupantes.”
"No nos derrotó haber llevado 1flor a la tumba de ntros hijos, sino q eso nos dio fuerza para buscar a ntros nietos" pic.twitter.com/6zoDhI3u8f
— Abuelas Plaza Mayo (@abuelasdifusion) 10 janeiro 2016
A presidente da organização Avós da Praça de Maio pensa que há mudanças muito relevantes na política de direitos humanos, ao se comparar o Governo Macri com os Governos dos Kirchner:
“Eu diria que há uma mudança de 180 graus, porque todos os Governos anteriores nos receberam, e os que mais deram respostas favoráveis, nos ajudaram economicamente, nos escutaram, nos consultaram, sobretudo dando respostas às nossas demandas, foram os Governos de Néstor e de Cristina Kirchner. Os 12 anos em que governaram foram, para nós, uma possibilidade de realizar muitíssimos avanços, do que é, na verdade, a memória e a justiça.”
"Além disso, no tema dos direitos humanos sociais, há as demissões maciças de trabalhadores, a detenção, neste momento, como presa política, de uma militante do norte de nosso país [a ativista Milagro Sala], da Província de Jujuy, que por se manifestar num protesto foi detida e está encarcerada”, acrescentou.
Já a presidente da Organização Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, nega ter pedido uma entrevista com Mauricio Macri. Ela destaca a importância de sua organização – que tem uma rádio, uma revista e uma universidade [Universidad Popular Madres de Plaza de Mayo] – e desenvolve “um trabalho político muito importante”.
“Não pedimos entrevista a Macri porque, antes de ele ser presidente, nós o consideramos nosso inimigo. Um homem que esteve muito perto das Forças Armadas, um homem que esteve de acordo com o sequestro, morte e desaparecimento de nossos filhos. Portanto, o tratamos como inimigo.”
“Nunca cobramos pela morte dos nossos filhos”, diz a presidente das Mães da Praça de Maio. “Nós consideramos que a vida não tem preço, a vida não pode valer dinheiro, e a um grande capitalista a única coisa que importa é dinheiro. Temos um enfrentamento muito grande com o Governo, e por isso me acusam de ser violenta.”
“Nós, as Mães, defendemos todos. Não defendemos apenas nossos filhos. As Mães defendem todos por igual. Para nós, todos os desaparecidos merecem o mesmo respeito e o mesmo trabalho. Estamos num momento muito difícil, em que querem tirar tudo o que temos. Eles têm os juízes e os maiores meios de comunicação à sua disposição.”