Turquia acusa curdos de atentado em Ancara para criar ‘pretexto para invadir Curdistão’

© Haluk YavuzhanExplosão na capital da Turquia, Ancara, 17 de fevereiro.
Explosão na capital da Turquia, Ancara, 17 de fevereiro. - Sputnik Brasil
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O primeiro-ministro da Turquia Ahmet Davutoglu manifestou que o executor do atentado em Ancara que levou as vidas de 28 pessoas foi o cidadão sírio Salih Necar, nascido em 1992 e oriundo da área da Amud na província de Hasakah no Curdistão sírio. A Sputnik tentou saber se é verdade.

Lembramos que a explosão de um carro-bomba aconteceu em 17 de fevereiro às 18h21 (hora local) em um cruzamento movimentado da capital turca, não muito longe dos prédios do Parlamento, do Estado Maior do Exército, e de um bairro de residências militares. Segundo as autoridades da Turquia, a explosão aconteceu em um momento quando um comboio militar parou no sinal vermelho. Apesar da maioria das vítimas serem militares, os civis também foram atingidos. O atentado levou as vidas de 28 pessoas e feriu mais de 60.

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Para saber se as acusações por parte de Davutoglu têm base, a sede da Sputnik na Turquia falou com Hakem Xalo, copresidente do Conselho Legislativo do cantão curdo de Cezire na Síria e representante do partido curdo Partido da União Democrática (PYD) na área de Amud que disse que o partido iniciou a sua própria investigação sobre a identidade do suposto terrorista para negar ou confirmar as palavras do premiê turco.

“Na sequência da investigação realizada soube-se que em Amud não vivia e não vive nenhum membro da família Necar. Mais de que isso, ninguém com tal nome da família se aderiu às fileiras da Unidades de Proteção Popular YPG na cidade de Amud. Foram interrogados habitantes da área e nenhum deles conhece pessoa chamada Salih Necar. Amud é uma cidade pequena, aqui todos conhecem um outro…”, sublinhou Xalo.

© Sputnik / Hikmet DurgunHakem Xalo, copreisidente do Conselho Legislativo do cantão curdo de Cezire na Síria
Hakem Xalo, copreisidente do Conselho Legislativo do cantão curdo de Cezire na Síria - Sputnik Brasil
Hakem Xalo, copreisidente do Conselho Legislativo do cantão curdo de Cezire na Síria
Tomando isso em conta, o político curdo rejeitou as acusações de Ancara:

“Nós negamos categoricamente as acusações contra nós feitas pelo premiê turco. Mesmo se houvesse alguém com nome da família Necar, ele provavelmente aderiu às fileiras da Frente al-Nusra ou Daesh. Nem as forças da autodefesa curda, nem o PYD tem a ver com a organização do atentado em Ancara e na Turquia em geral. Nós defendemos o nosso povo da ameaça do Daesh e outras organizações terroristas no nosso território”.

Mas qual é o motivo verdadeiro das acusações turcas?

“Ancara em fazer declarações do envolvimento do PYD nas explosões na Turquia tenta criar um pretexto para invadir o território de Rojava [norte da Síria, região curda], e nada mais”.

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O grupo terrorista Daesh (proibido na Rússia e reconhecido como terrorista pelo Brasil) autoproclamou-se "califado mundial" em 29 de junho de 2014, tornando-se imediatamente uma ameaça explícita à comunidade internacional e sendo reconhecida como a ameaça principal por vários países e organismos internacionais. Porém, o grupo terrorista tem suas origens ainda em 1999, quando um jihadista da tendência salafita, o jordaniano Abu Musab al-Zarqawi, fundou o grupo Jamaat al-Tawhid wal-Jihad. Depois da invasão norte-americana no Iraque em 2003, esta organização começou a fortalecer-se, até transformar-se, em 2006, no Estado Islâmico do Iraque. A ameaça representada por esta entidade foi reconhecida pelos serviços secretos dos EUA ainda naquela altura, mas reconhecida secretamente, e nada foi feito para contê-la. Como resultado, surgiu em 2013 o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que agora abrange territórios no Iraque e na Síria, mantendo a instabilidade e fomentando conflitos.

Não há uma frente unida de combate contra o Daesh: contra o grupo lutam as forças governamentais da Síria (com apoio da aviação russa) e do Iraque, a coalizão internacional liderada pelos EUA (limitando-se a ataques aéreos), assim como milícias xiitas libanesas e iraquianas. Uma das forças mais eficazes que combatem o Daesh são as milícias curdas, tanto no Curdistão iraquiano, como no Curdistão sírio.

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