Nada pessoal, são só negócios: EUA não se importam com posição turca sobre curdos sírios

© AFP 2023 / SAUL LOEBPresidente dos EUA, Barack Obama, ajustando seus fones de ouvido de tradução simultânea durante uma conferência com o então primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, em 2014
Presidente dos EUA, Barack Obama, ajustando seus fones de ouvido de tradução simultânea durante uma conferência com o então primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, em 2014 - Sputnik Brasil
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O ex-embaixador e diplomata e atual deputado oposicionista turco Osman Koruturk divulgou à Sputnik a sua opinião sobre o estado atual das relações americano-turcas tendo em conta a crise síria e sublinhou que a política da Turquia na Síria prejudica as relações do país com os EUA, especialmente após o ultimato turco “ou nós, ou os curdos sírios”.

“Quando as autoridades turcas puseram os EUA perante o ultimato na forma ‘ou nós ou o Partido da União Democrática [PYD]’, os americanos não deram uma resposta concreta, preferindo se limitar a uma formulação evasiva sobre a defesa dos seus próprios interesses. Qual foi o sentido de fazer tal ultimato? De acordo com o diplomata, se tratou de um erro de Ancara.

Primeiro-ministro turco Ahmet Davutoglu e Secretário-Geral da OTAN Jens Stoltenberg durante a conferência de imprensa na sede da aliança, Bruxelas, Bélgica, 30 de novembro de 2015 - Sputnik Brasil
‘OTAN deve excluir Turquia da aliança por traição’
Segundo Osman Koruturk, a Turquia “que se transformou em Estado instável e inseguro aos olhos da comunidade internacional” distanciou-se intencionalmente dos outros membros da OTAN e escolheu os aliados errados:

“A Turquia é um membro da OTAN, mas vemos que ela se desviou quase completamente da linha de parceria eficaz com o Ocidente. Todos os membros da Aliança estão de um lado e a Turquia está no lado oposto. Ao nosso lado só estão a Arábia Saudita e o Qatar. Esta colaboração não traz resultados além de a Turquia mergulhar ainda mais na solidão e no isolamento na região”.

Será que a Turquia pode romper este círculo vicioso ao realizar uma operação terrestre na Síria? O diplomata acha que é uma ideia ruim.  

“Se a Turquia se atrever a realizar uma operação militar na Síria, ela irá enfrentar não só o exército governamental da Síria. Na Síria há forças diversas: o Irã, a Rússia e, por outro lado, vários grupos terroristas. Será que faz sentido para a Turquia invadir a Síria e se opor a todas estas forças simultaneamente?”, pergunta.

Osman Koruturk ressalta que os EUA perseguem os seus próprios interesses apoiando os curdos sírios e não se importam com a opinião de Ancara neste assunto:

“A América usa as forças do PYD contra o Daesh na região, de modo que a colaboração com os curdos sírios é muito importante para a liderança americana. Como se sabe, os Estados Unidos, neste caso, tentam defender os seus próprios interesses. E, de acordo com as declarações da liderança norte-americana, eles não se importam se a Turquia vê os curdos sírios como terroristas ou não"

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‘Turquia perdeu iniciativa e impacto na crise síria’
Relativamente à questão sobre o que deve a Turquia fazer nas atuais circunstâncias, Osman Koruturk respondeu da seguinte forma:

"Primeiro de tudo, a Turquia tem de rever radicalmente a sua política síria, que está errada desde o início até ao fim. Todos os problemas com que a Turquia se defronta hoje, incluindo os ataques terroristas, decorrem disso mesmo.

Além disso, o diplomata apelou às autoridades de seu país para "conduzir uma política equilibrada, destinada a garantir a integridade territorial do Estado vizinho e a estabelecer relações estáveis na região".

Ancara considera o partido curdo PYD como um braço do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), tratado como uma organização terrorista na Turquia.

O apoio de Washington à legitimidade dos curdos sírios está gerando tensão na relação entre os EUA e Ancara. Após instrutores militares norte-americanos terem realizado o treinamento de alguns grupos de combatentes curdos, o presidente turco Tayyip Erdogan chegou a declarar que os EUA teriam que fazer uma escolha entre Ancara e os curdos.

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