“Não há dúvida alguma de que as relações entre a Rússia e a Sérvia sempre tiveram um caráter muito especial, tanto no passado como hoje. É muito importante para nós que a Sérvia, ultimamente, mesmo sob pressão dura de países ocidentais, não trai as nossas relações bilaterais. Quanto às aspirações do país de integrar-se à União Europeia, para nós não tem aqui nenhum obstáculo insuperável. Tem uma enorme diferença entre a UE e a OTAN e, respectivamente, entre as tentativas desse bloco militar de arrastar a Sérvia para a zona de influência da organização e as negociações sobre a aproximação entre o país e a UE <…> Na nossa opinião, é imprescindível que essa aproximação não se torne para a Sérvia um objetivo em si, que o país não sacrifique seus próprios interesses com vista a atingi-lo”.
Konstantin Kosachev: Somos totalmente contra a expansão da OTAN. A nossa posição sobre o assunto é a mesma tanto referente à Sérvia como a qualquer outro país arrastado para esse bloco, porque a expansão da OTAN é um fator que divide e amplia a divisão na Europa. Pois em vez de eliminar a cortina de ferro e a chamada muralha, essas são empurradas para o leste. Isso cria obstáculos à cooperação de países europeus, inclusive a Rússia, no combate a nossos desafios e ameaças comuns, em particular o terrorismo. Eu acho que formulando sua posição referente à OTAN, a Sérvia não faz escolha entre esse bloco e algum outro. A escolha é entre a OTAN e o sistema livre de alianças, com segurança coletiva e integral. A Rússia fez sua escolha. Optamos pelo sistema da segurança integral na Europa. Esperamos que a Sérvia fique ao nosso lado nessa luta pela integridade e união europeia. Gostaria de sublinhar que não se trata de uma aliança com a Rússia, mas da cooperação de todos os países que acreditam que não se pode dividir a Europa em blocos. Esse é um dos verdadeiros interesses nacionais da Sérvia, que faz parte da família europeia.
K.K.: Mesmo que observemos alguns momentos positivos, podemos resumir que, infelizmente, há mais motivos para avaliar os resultados do Tribunal como negativos. <…> Temos notado que, na maioria dos casos, o Tribunal virou um instrumento de acusação de uma das partes do conflito. Basta olhar as estatísticas de atas de acusação. 80% destas julgam os sérvios. A condenação de Karadzic é rígida demais sem qualquer razão. É óbvio que naquele conflito na Bósnia e Herzegovina muita coisa foi cometida por pessoas que representaram outras partes envolvidas, que também poderiam ser acusadas pela prática de crimes similares. Quanto à sentença absolutória de Seselj, acho que ninguém tinha acreditado nisso. Não sei quais eram os motivos dos juízes do Tribunal, mas não se pode excluir que esses motivos tenham algo a ver com a campanha eleitoral que se desenrola na Sérvia nesses dias, com o desejo de utilizar isso como mais um instrumento para pressionar o governo atual do país, talvez promovendo alguns interesses relacionados a negociações sobre o Kosovo ou sobre o arrastamento à OTAN. Talvez, isso possa ser uma das explicações, porém não tenho como afirmar.
K.K.: O problema é que o Ocidente tem fracassado em todos os seus empreendimentos na política exterior dos últimos anos. As ações provocativas no Cáucaso, o ataque da Geórgia à Ossétia do Sul. Há outra situação complicada, que, mesmo inspirada pelo Ocidente, não pode ser caraterizada como bem-sucedida. Estou falando sobre o Iraque de 2003, que resultou em fracasso do Ocidente. A Líbia de 2011 é mais um fracasso. Há a Síria, que antes do início da operação militar russa era um óbvio fracasso do Ocidente. Só houve duas situações que foram resolvidas com sucesso, mas foram resolvidas conjuntamente, com a participação da Rússia. São a destruição das armas químicas sírias e a resolução do problema do programa nuclear iraniano. Sendo assim, o mundo ocidental, inclusive o presidente Obama, às vésperas das eleições nos EUA, tem que reconhecer que todas as tentativas de excluir a Rússia do processo diplomático durante os últimos anos foram um erro, ou avaliar os sucessos das negociações com a Síria e o Irã como ocasionais, que não representam soluções integrais, atribuindo à Rússia a imagem de um país-problema, um país-ameaça, continuando a atuar como se nada tivesse acontecido, como se o Ocidente não tivesse errado. Essa é uma questão que, se for colocada no âmbito de campanhas eleitorais, pode levar à vitória ou ao fracasso, inclusive nos Estados Unidos.