‘Expansão da OTAN amplia divisão da Europa’

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Senador Kosachev - Sputnik Brasil
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Em entrevista exclusiva à Sputnik Sérvia, o senador Konstantin Kosachev, presidente do Comitê Internacional do Senado russo, fala sobre o Ocidente e a Europa. Seguem os trechos mais importantes da entrevista.

“Não há dúvida alguma de que as relações entre a Rússia e a Sérvia sempre tiveram um caráter muito especial, tanto no passado como hoje. É muito importante para nós que a Sérvia, ultimamente, mesmo sob pressão dura de países ocidentais, não trai as nossas relações bilaterais. Quanto às aspirações do país de integrar-se à União Europeia, para nós não tem aqui nenhum obstáculo insuperável. Tem uma enorme diferença entre a UE e a OTAN e, respectivamente, entre as tentativas desse bloco militar de arrastar a Sérvia para a zona de influência da organização e as negociações sobre a aproximação entre o país e a UE <…> Na nossa opinião, é imprescindível que essa aproximação não se torne para a Sérvia um objetivo em si, que o país não sacrifique seus próprios interesses com vista a atingi-lo”.

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Sputnik: A Sérvia se declara um país membro no que diz respeito às alianças militares, mas não se sabe quanto tempo vai permanecer neutra. Qual é a posição russa quanto à cooperação militar entre a Sérvia e a OTAN?


Konstantin Kosachev: Somos totalmente contra a expansão da OTAN. A nossa posição sobre o assunto é a mesma tanto referente à Sérvia como a qualquer outro país arrastado para esse bloco, porque a expansão da OTAN é um fator que divide e amplia a divisão na Europa. Pois em vez de eliminar a cortina de ferro e a chamada muralha, essas são empurradas para o leste. Isso cria obstáculos à cooperação de países europeus, inclusive a Rússia, no combate a nossos desafios e ameaças comuns, em particular o terrorismo. Eu acho que formulando sua posição referente à OTAN, a Sérvia não faz escolha entre esse bloco e algum outro. A escolha é entre a OTAN e o sistema livre de alianças, com segurança coletiva e integral. A Rússia fez sua escolha. Optamos pelo sistema da segurança integral na Europa. Esperamos que a Sérvia fique ao nosso lado nessa luta pela integridade e união europeia. Gostaria de sublinhar que não se trata de uma aliança com a Rússia, mas da cooperação de todos os países que acreditam que não se pode dividir a Europa em blocos. Esse é um dos verdadeiros interesses nacionais da Sérvia, que faz parte da família europeia.

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S.: Recentemente, o Tribunal de Haia causou a perturbação na sociedade por duas sentenças. Com uma deles, condenou Radovan Karadzic a 40 anos de prisão, e, com a outra, absolveu Vojislav Seselj. Poderia comentar as sentenças e o trabalho do Tribunal em geral? O que a Rússia aprendeu com esse Tribunal?


K.K.: Mesmo que observemos alguns momentos positivos, podemos resumir que, infelizmente, há mais motivos para avaliar os resultados do Tribunal como negativos. <…> Temos notado que, na maioria dos casos, o Tribunal virou um instrumento de acusação de uma das partes do conflito. Basta olhar as estatísticas de atas de acusação. 80% destas julgam os sérvios. A condenação de Karadzic é rígida demais sem qualquer razão. É óbvio que naquele conflito na Bósnia e Herzegovina muita coisa foi cometida por pessoas que representaram outras partes envolvidas, que também poderiam ser acusadas pela prática de crimes similares. Quanto à sentença absolutória de Seselj, acho que ninguém tinha acreditado nisso. Não sei quais eram os motivos dos juízes do Tribunal, mas não se pode excluir que esses motivos tenham algo a ver com a campanha eleitoral que se desenrola na Sérvia nesses dias, com o desejo de utilizar isso como mais um instrumento para pressionar o governo atual do país, talvez promovendo alguns interesses relacionados a negociações sobre o Kosovo ou sobre o arrastamento à OTAN. Talvez, isso possa ser uma das explicações, porém não tenho como afirmar.

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S.: Esses dias, países do Ocidente estão acometidos pela histeria antirrussa. Há tentativas de difamação do governo do país, especialmente do presidente Putin. Surgiram os Panama Papers, continuam em vigor as sanções. Tem alguma explicação para isso, lembrando que a Rússia vem estreitando relações com países ocidentais nas áreas de combate ao terrorismo e na situação da Síria? Como se pode explicar a continuação de tais ataques à Rússia?


K.K.: O problema é que o Ocidente tem fracassado em todos os seus empreendimentos na política exterior dos últimos anos. As ações provocativas no Cáucaso, o ataque da Geórgia à Ossétia do Sul. Há outra situação complicada, que, mesmo inspirada pelo Ocidente, não pode ser caraterizada como bem-sucedida. Estou falando sobre o Iraque de 2003, que resultou em fracasso do Ocidente. A Líbia de 2011 é mais um fracasso. Há a Síria, que antes do início da operação militar russa era um óbvio fracasso do Ocidente. Só houve duas situações que foram resolvidas com sucesso, mas foram resolvidas conjuntamente, com a participação da Rússia. São a destruição das armas químicas sírias e a resolução do problema do programa nuclear iraniano. Sendo assim, o mundo ocidental, inclusive o presidente Obama, às vésperas das eleições nos EUA, tem que reconhecer que todas as tentativas de excluir a Rússia do processo diplomático durante os últimos anos foram um erro, ou avaliar os sucessos das negociações com a Síria e o Irã como ocasionais, que não representam soluções integrais, atribuindo à Rússia a imagem de um país-problema, um país-ameaça, continuando a atuar como se nada tivesse acontecido, como se o Ocidente não tivesse errado. Essa é uma questão que, se for colocada no âmbito de campanhas eleitorais, pode levar à vitória ou ao fracasso, inclusive nos Estados Unidos.

Ancara aproveita o conflito em Nagorno-Karabakh para defender os seus interesses geopolíticos - Sputnik Brasil
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Está em jogo o prestígio do ocidente, que na época dos anos 90 posicionou-se como único portador da verdade. Isso é uma ameaça do conceito do mundo unipolar, realizada pelos EUA e seus aliados há 25 anos. Até hoje não abandonaram esse conceito. Não é nada surpreendente que a Rússia seja considerada nessas circunstâncias como o maior obstáculo para que esse conceito se realize. Sendo assim, é preciso difamar a Rússia, opor-se à Rússia, conter a Rússia. Infelizmente, não há nada surpreendente nisso.

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