Opinião: declarações de Erdogan sobre deputados alemães são inaceitáveis

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A votação sobre o reconhecimento do genocídio arménio no Bundestag provocou uma reação forte de Ancara. O autor do projeto da resolução foi o politico alemão com raízes turcas Cem Ozdemir. O presidente da Turquia Erdogan propôs verificar as origens do deputado alemão.

O vice-presidente do Parlamento Europeu Aleksandr Lambsdorff compartilhou a sua opinião com a jornalista da agência RIA Novosti sobre a liberalização do regime de vistos com a Turquia na situação atual e sobre as relações entre a Rússia e a União Europeia.

Sputnik: Como o senhor avalia a proposta do ministro das Relações Exterires da Alemanha Steinmeier sobre o levantamento gradual das sanções contra a Rússia em caso de cumprimento dos Acordos de Minsk?

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Aleksandr Lambsdorff: Creio que a proposta tem razão de ser. Falando sobre os Acordos de Minsk a situação parece a ser a seguinte (o próprio Steinmeier o disse): não há progresso. Ele preconiza levantar no futuro as sanções de forma gradual.

S: Não existe um progresso real. O senhor acha que a proposta do ministro pode acelerar o processo de regularização?

AL: Não quero especular sobre as razões de Steinmeier. Mas se a proposta tem o objetivo de fazer Moscou refletir sobre a forma de melhorar as relações com Ocidente, só o posso saudar. Entretanto, parte de uma possível decisão devem ser medidas concretas das autoridades russas em relação aos separatistas na Ucrânia.

S: Agora em Berlim está sendo ativamente discutida a questão da nova estratégia das Forças Armadas alemãs onde a Rússia é classificada como adversário. Como vice-presidente do Parlamento Europeu, o senhor considera realmente que a Rússia é um país adversário?

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AL: Primeiro, a Rússia é nosso vizinho no continente europeu. É por isso que as relações de boa vizinhança são muito importantes para nós. Seria ainda melhor se conseguíssemos criar a "casa europeia" e fôssemos no futuro não só vizinhos, mas moradores de uma só "casa". Mas o comportamento do governo russo nos últimos tempos suscitou nervosismo em muitos dirigentes europeus. Por exemplo, se falarmos sobre o tema da "guerra híbrida" ou dos homenzinhos verdes, soldados sem quaisquer insígnias, como aconteceu na Crimeia. 

S: Gostaria de falar sobre a questão da Turquia. O presidente da Turquia quer atingir a isenção de vistos com a UE o mais rapidamente possível para os seus cidadãos. Existem 72 condições que a Turquia deve cumprir. Elas foram discutidas com a Turquia ainda em 2013. O senhor acha que Ancara pode cumpri-las?

AL: Primeiro, isso depende da parte turca. Se todas as 72 condições forem cumpridas, o regime sem vistos tem chances. Mas essa questão está também relacionada com uma maior democratização do Estado de direito e Erdogan não está pronto para isso. Pessoalmente, junto com meu partido político (liberal), não vemos chance para a liberdade total de circulação, embora gostássemos que houvesse.

S: Agora Erdogan ameaça romper o acordo migratório com a União Europeia. Considera que decisão da chanceler Angela Merkel de avançar com este acordo foi correta? O que fazer na situação atual?

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AL: Em primeiro lugar, temos que ficar calmos. Na política esta é uma receita muita boa: primeiramente, fazer uma análise daquilo que é essencial. Enquanto Erdogan não estiver pronto para mudar as suas leis antiterroristas ele não pode esperar que a União Europeia cumpra os seus desejos. É por isso que acredito que precisamos de um compromisso que assegure o regime sem vistos primeiro para determinados grupos de pessoas, por exemplo, para pessoas com educação superior, artistas, cientistas ou homens de negócios.

S: Como o senhor avalia os resultados da votação sobre a resolução de reconhecimento do genocídio armênio? Acha que a reação da Ancara foi adequada?

AL: A reação da Ancara é em parte uma reação de perplexidade. Muitos ficaram furiosos com a decisão do Parlamento europeu. Eu posso entender isso, embora concorde com o conteúdo da resolução. Mas as declarações de vários altos funcionários turcos, do presidente Erdogan e de outros em relação aos parlamentares alemães são completamente inaceitáveis. Parece que elas são de outra época. Tais coisas como "sangue estragado", "verdadeiro turco" dizia-se 100 anos atrás. Este tipo de declarações absurdas mostram que a Turquia está em uma situação politica complicada. O presidente Erdogan não respeita o seu papel constitucional e quer transformar o país em um verdadeiro reino presidencial.

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S: Nesta situação também devemos ficar calmos? 

AL: A Turquia é um país soberano. Nem a União Europeia nem a Alemanha têm o direito de ditar aos turcos como governar o seu país. Isto também se aplica à Rússia e a outros países. Cada país decide independentemente como governar. Podemos só inspirar a lutar pela liberdade, pela democracia e os direitos humanos. Mas, no final de contas, é a população turca que decide se aceita o sistema político encabeçado por Erdogan ou não.

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