Em entrevista exclusiva à Sputnik, o Delegado Wladimir Reale, presidente da Adepol (Associação dos Delegados de Polícia Civil do Rio de Janeiro), comenta a situação na Segurança Pública estadual:
Para Reale, o afastamento voluntário de Beltrame da Secretaria de Segurança Pública não chegou a ser surpresa:
“Isso é resultado de um longo processo. A saída do Dr. Beltrame não aconteceu da noite para o dia. A atividade do secretário estadual de Segurança Pública, do chefe da Polícia Civil e também do comandante geral da Polícia Militar é muito difícil. Havia uma expectativa de que estes desligamentos poderiam ocorrer, mas não no momento em que ocorreram.”
Muito debatido na gestão de José Mariano Beltrame, o projeto das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) também é comentado pelo Delegado Wladimir Reale:
“Eu não considero que este projeto tenha sido boicotado. Para mim, o projeto das UPPs deu um passo maior do que as pernas. Fui delegado nos anos 80, da Delegacia da Gávea, e naquela época a Polícia Civil tinha um projeto de cooperação com a Polícia Militar, através dos DPOs (Destacamentos de Polícia Ostensiva). Pois bem, já naquela época era complicado colocar a polícia ostensiva dentro das comunidades. Hoje, então, com o crescimento dos índices de violência, a situação tornou-se mais complexa ainda.”
Já o Delegado Rafael Barcia, presidente do Sindelpol (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado do Rio de Janeiro), entende que, apesar de preocupante, a situação precisa ser analisada de forma muito realista. Em entrevista à Sputnik, o Dr. Rafael Barcia destaca:
Rafael Barcia diz ainda que a Segurança Pública, para ser realmente eficaz, tem de se separar da política:
“A polícia não tem autonomia. A polícia é um órgão técnico que não pode ser gerido por interesses políticos. Vou dar um exemplo prático: é como se equipamentos de hospitais fossem comprados por pessoas que não conhecem Medicina. É o caso da Polícia. Nós, policiais, sabemos do que precisamos para trabalhar bem. Mas, infelizmente, não somos nós que compramos nossos equipamentos, e, sim, os políticos. Outro exemplo: precisamos de veículos descaracterizados para efetuar com sucesso as nossas investigações. Ninguém, numa área complexa, vai dar informações relevantes a uma pessoa que desce de uma viatura policial. Mas os políticos querem viaturas caracterizadas nas comunidades para que elas sejam vistas e o povo possa dizer que o Governo comprou carros para a Polícia. Precisamos ter comprometimento com a eficácia da ação policial e não com interesses eleitorais.”