Ao contrário de Obama, que escolheu uma atitude rígida em relação a Moscou, Trump poderá vir a encontrar a solução para esta longa crise, escreve o observador Mark Rozen do jornal The National Interest.
Rozen pensa que o tema mais prometedor da "reinicialização", o Ártico, permanece na periferia do discurso principal das relações russo-americanas: ao contrário da Síria ou da Ucrânia, onde a regulação dos conflitos vai durar muito tempo e exige a atenção imediata, no Ártico Moscou e Washington têm interesses mútuos.
As estimativas sobre os recursos do Ártico ultrapassam tudo o que se esperaria: mais de 80 por cento das reservas de gás não extraído e 70 por cento de petróleo da Rússia localizam-se nas zonas do Ártico, principalmente no mar de Barents, no mar de Kara e na bacia de Timan-Pechora, aponta o observador do NI. Segundo o relatório do serviço geológico dos EUA (2008), 13 por cento das jazidas mundiais não exploradas de petróleo (90 bilhões de barris) e 30 por cento das jazidas de gás ficam no Ártico.
O especialista está seguro de que o gelo desaparecerá em breve no Oceano Glacial Ártico e começará uma luta pelos vários recursos – desde o petróleo ao gás até à possibilidade de dar acesso tanto ao turismo como ao controlo da navegação marítima na região. Se a atividade humana começar no Ártico imediatamente, os EUA serão deixando para trás e tais países como a Rússia, Groenlândia, Islândia e Noruega vão beneficiar das riquezas desta região.
As sanções introduzidas pela Casa Branca em relação à Rússia desempenharam um papel importante, aponta Rozen. A petrolífera Exxon Mobil, que planejava realizar muitos projetos conjuntos com a Rosneft no Ártico, foi uma das afetadas pelas sanções. Após o estabelecimento de uma empresa conjunta com a estatal Rosneft, as duas petrolíferas conseguiram explorar algumas jazidas no mar de Kara, mas depois da introdução das sanções os projetos foram cancelados. Em resumo, as petrolíferas russas perderam o acesso às tecnologias de extração americanas e os americanos perderam parte no mercado ártico de hidrocarboneto.
O analista supõe que os investimentos chineses no Ártico poderão tornar-se um instrumento de mudança da paisagem política e jurídica na região – uma mudança completa do equilíbrio de forças a favor de Pequim.
"É necessário considerar que a força da China é o dinheiro, o presidente Trump deve propor ao seu homôlogo Putin estabelecer, junto com a Noruega, Dinamarca e Groenlândia, um banco de desenvolvimento para o Ártico, que se tornará uma fonte de meios alternativa aos investimentos chineses para projetos de grande escala", propõe o observador do jornal.
Washington também pode ajudar Moscou se contribuir para o reconhecimento do corredor marítimo vital para a Rússia pela Organização Marítima Internacional. Este corredor poderá tornar-se uma rota de transporte oficial através do Ártico. Na opinião de Rozen, isso dará a Moscou uma fonte de meios adicional para o desenvolvimento da sua frota ártica, o que pode impulsionar a navegação e melhorar a segurança do transporte de cargas. Segundo o especialista outro aspeto importante ao qual Donald Trump deveria prestar atenção é a eliminação dos atuais obstáculos – as sanções – para a cooperação entre as empresas russas e americanas no Ártico e a possível liderança de Washington e Moscou no Conselho Ártico.
"O Ártico é um dos lugares onde os interesses da Rússia e os EUA coincidem. A construção de relações na base destes interesses permitirá criar a confiança entre os dois países e os seus líderes, o que resultará em mudanças positivas em outras regiões problemáticas do mundo", concluiu Mark Rozen.