Montaram como irmãos, mataram como irmãos
Ivan Zverzhanovski, chefe do projeto da ONU sobre a luta contra o tráfico de armas (Centro Coordenador do Sudeste e da Europa Oriental para o Controle de Armas Ligeiras) disse alguns dias atrás que, de acordo com o Centro, uma espingarda comprada no mercado negro nos Bálcãs por 250-500 euros pode ser vendida, por exemplo, na Suécia por 3000-5000 euros.
É óbvio que tudo isto é a herança de décadas de guerra em que os Bálcãs mergulharam no início dos anos 1990. Resta saber qual o número de armas que entrou na região, fazendo uma longa viagem desde a Eslovénia diretamente para as mãos dos terroristas do "Exército de Libertação do Kosovo".
A República Socialista Federal da Jugoslávia em tempos produzia e vendia armas no valor de 500 milhões de dólares por ano, principalmente para o Oriente Médio e os países-parceiros do Movimento dos Não-Alinhados. Estas armas eram produzidas em plena conformidade com o princípio dominante socialista naquela época de "fraternidade e unidade". Por exemplo, os principais componentes do tanque M-84, o orgulho do Exército Popular Jugoslavo (EPJ), eram produzidos na Bósnia e Herzegovina, Sérvia e Montenegro e o próprio tanque era montado na Croácia.
Honduras vão ajudar os Bálcãs
Vieram os anos 1990, começou a desintegração da Jugoslávia. A "mini-guerra" das forças de defesa territorial eslovenas com o EPJ acabou quando no porto esloveno de Koper, em um navio sob a bandeira de Honduras, foram entregues 60 contentores com armas que, imediatamente após o fim do conflito nesse país, Liubliana vendeu para
Décima terceira façanha de Hércules
O excesso de armamentos da Croácia foi parar à Bósnia, e ajuda adicional para as forças de muçulmanos bósnios na luta contra o exército dos sérvios bósnios chegou… em aviões americanos. Por exemplo, em 1994 os bósnios, com a ajuda dos famosos Hércules americanos (C-130) receberam sistemas anti-tanque, munições e outros armamentos.
A própria Bósnia, a propósito, produzia munições. Antes da guerra, a fábrica Igman produzia até 300 mil projéteis por dia, mas durante a guerra diminuiu a produção e começou a fabricar a mesma quantidade, mas por semana.
Quando o Acordo de Dayton é assinado e a guerra na Bósnia termina, e as armas não são mais necessárias. Em tempos de paz, o país conta com (de acordo com a Força de Estabilização) 27.000 fuzis, 5.000 pistolas, 13 milhões de balas, para não mencionar as toneladas de explosivos, milhares de minas e granadas de mão que chegaram do Panamá, Afeganistão, Paquistão. Tudo isso tornou os terroristas do Exército de Libertação do Kosovo, que lutaram pela secessão da região da Jugoslávia, muito felizes.
KLA: Kill 'Em All
Esta organização foi abastecida por duas fontes — a Albânia e a Bósnia e Herzegovina. Os albaneses do Kosovo tinham boa solvibilidade e já no início de 1996 compraram por um milhão de dólares (cerca de 3,5 milhões de reais brasileiros) o primeiro lote de armas à Bósnia e Herzegovina, incluindo Kalashikovs de produção jugoslava, FN FAL de produção argentina, metralhadoras, morteiros, toneladas de trotil, pistolas de Osa e outra miudeza.
As armas que a polícia sérvia apreendeu aos albaneses do Kosovo até o final de 1997 tinham ou origem jugoslava, ou ocidental, tendo sido contrabandeadas durante as guerras anteriores: fuzis alemães e italianos, bem como as armas mais modernas compradas no "mercado negro" na Croácia ou Bósnia.
Depois dos bombardeios da OTAN da Jugoslávia em 1999, os radicais do Kosovo lançaram um grande "comércio" de armas através da Macedônia e Albânia. De acordo com estimativas da UNMIK de dezembro de 2005, no Kosovo havia até 400.000 unidades de armas não documentadas em nenhum lugar. Quanto tem agora — já ninguém sabe. Além dos contrabandistas, certamente.
Para onde estão indo as armas que ficaram no Kosovo, para além das que chegaram através de novos canais — ninguém sabe. A verdade é que toda mídia chama a república não reconhecida de um dos principais fornecedores europeus de combatentes para o Daesh.
Brankica Ristic para a Sputnik Sérvia