Nos últimos meses, a situação em Aleppo agravou-se, batalhas ferozes acontecem tanto nas cidades, como nos arredores. Os grupos terroristas da Frente al-Nusra (organização terrorista proibida na Rússia) detêm milhares de civis e os impedem de sair da cidade pelos corredores humanitários, organizados pelo exército.
Novas propostas de Kerry
Até agora, as negociações sobre Síria da Rússia com os EUA não alcançaram concordância em tais assuntos que ameaçariam o grupo terrorista Frente al-Nusra, sendo esta discordância inaceitável para a Rússia.
No entanto, durante o último encontro em Roma, o secretário de Estado dos EUA John Kerry apresentou ao chanceler russo Sergei Lavrov novas propostas sobre Aleppo que, segundo disse o ministro russo, favorecem a parte russa.
O departamento do Estado não quis comentar as novas tentativas da Rússia e dos EUA em chegar a um acordo sobre a Síria. O porta-voz do órgão Mark Toner somente confirmou a realização das negociações, sem entrar em detalhes.
"Houve discursões, após o encontro em Roma [entre o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov], que as negociações técnicas seriam realizadas nesta semana, mas não podemos confirmar isso, todavia", disse Toner em um briefing na segunda-feira (5).
Roteiro de filme policial
Estes acordos russo-americanos sobre a Síria, ou seja, uma nova tentativa entre dois países de chegar a um acordo, Lavrov chamou de "roteiro de filme policial". Em cinco dias, Washington propôs uma coisa, concordou, mudou a sua opinião e apresentou outra proposta — contrária à primeira.
"Ontem à noite, recebemos uma mensagem deles (os EUA), dizendo que, infelizmente, amanhã eles não poderão se encontrar conosco, que eles mudaram de decisão, que anulam seu documento e já têm outro — voltando para a estaca zero, a julgar por nossas primeiras impressões após a sua leitura", partilhou Lavrov.
"Vamos investigar o que é que deu errado", acrescentou o chefe da Chancelaria russa.
Todavia não há acordo, mas os combatentes já se recusaram
No dia seguinte, depois de Moscou anunciar uma nova tentativa de chegar a um acordo com os EUA sobre a questão de Aleppo oriental, os comandantes militares informaram que não iriam desistir e deixar a cidade em paz.
"Eu perguntei aos grupos, eles disseram, 'nós não vamos desistir'. Os comandantes militares em Aleppo indicaram: 'Nós não vamos deixar a cidade'. Não há problemas nos corredores humanitários para os civis, mas não vamos sair da cidade", afirmou à Reuters o representante do grupo Fastaqim, Zakaria Malahifji.
O grupo Fastaqim coopera com a organização terrorista Frente Fatah al-Sham (anteriormente Frente al-Nusra), sendo esta organização proibida em muitos países.
Em resposta a estas ameaças, Moscou destacou que, por enquanto não há acordo com os próprios EUA sobre o prazo e mecanismo da retirada dos combatentes da cidade.
"Em qualquer caso, se alguém se recusar a sair por boa vontade, ele será eliminado, assim entendo. Não há outra alternativa", frisou Lavrov.
O secretário de Estado foi traído?
Moscou tem repetidamente afirmado que há interesse sincero do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, para encontrar uma alternativa de sair do impasse sobre a Síria, mas uma conversa séria com a administração atual dos EUA não pode ser atingida.
"Nós compreendemos que uma conversa séria com os nossos parceiros americanos não pode ser atingida. O mesmo foi com os nossos acordos com Kerry em 9 de setembro, que já foram alcançados, entraram em vigor e, em seguida, os EUA começaram a procurar desculpas para sair deles e, finalmente, encontraram o pretexto e anunciou que eles sairiam desses acordos", Lavrov recordou.
"Agora a situação é muito semelhante: uma alternativa que foi proposta pelos americanos no papel, e a que tem sido apoiada publicamente por nós, agora não é adequada. É difícil entender quem toma decisões lá, mas, aparentemente, há muitas pessoas que querem minar a autoridade e ações de John Kerry," disse ele.
A Resolução do Conselho de Segurança da ONU
Neste contexto, na véspera, a Rússia e a China bloquearam um projeto de resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobrea situação humanitária em Aleppo, que foi proposta pelo Egito, Espanha e Nova Zelândia. O documento propôs o cessar-fogo em Aleppo por um período inicial de dez dias, incluindo ataques contra as posições do grupo terrorista Frente al-Nusra e o Daesh (organizações terroristas proibidas na Rússia).
A resolução não passou no Conselho de Segurança, a Rússia e a China bloquearam-no durante a votação que foi realizada na segunda-feira (5) à noite. A Venezuela e Angola também votaram contra o projeto. Desde o início do conflito na Síria, em 2011, a Rússia já votou seis vezes contra o projeto de resolução sobre a situação no país.
Ao mesmo tempo, segundo disse o ministro, levando em consideração todos os aspectos de desenvolvimento da situação atual, "o projeto da resolução é, em grande medida, um passo provocador que mina os esforços russo-americanos".