Porretes nucleares estão outra vez na moda: EUA estudam esquemas para combater a Rússia

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Mísseis americanos Patriot instalados na Polônia - Sputnik Brasil
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Recentemente em Washington, na conferência "Armas estratégicas do século XXI", foi apresentado o relatório "Novas realidades das ameaças e as exigências para a dissuasão nuclear".

O autor é o presidente do Instituto Nacional de Políticas Públicas dos EUA e ex-assistente do vice-secretário da Defesa dos EUA, Keith B. Payne, que escreve sobre a ameaça nuclear da União Soviética e da Rússia já há décadas e é considerado um dos principais e mais influentes especialistas nesta área.

Payne disse que o mundo se tornou um lugar mais perigoso após a revisão e "amolecimento" da doutrina nuclear dos EUA em 2010, e que os países ocidentais têm de arrumar sua política para não se desfasarem da realidade. A razão para isso são as ações agressivas da Rússia e da China.

Mudança de rumo

Recentemente se soube que a administração Trump vai realmente rever a doutrina. O Chefe do Estado-Maior da Força Aérea dos Estados Unidos, general David Goldfein declarou: "Eu espero que já nesta primavera tenhamos uma revisão da doutrina nuclear. Chegou a hora de reavaliar o complexo nuclear para desenvolver as linhas políticas estratégicas para o Departamento de Defesa dos EUA."                                                                                                                                                                

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O que oferece Payne? Segundo ele, até recentemente, os Estados Unidos consideravam a ameaça do uso de armas nucleares por terroristas como a principal, a sua tarefa principal era a não-proliferação das armas nucleares e a redução de armamento nuclear dos Estados Unidos encorajaria outros países a seguir esse caminho.

Em 1991, os americanos acreditavam que um confronto com a Rússia era tão pouco provável quanto o ressurgimento na Europa de guerras entre católicos e protestantes. Em 2012, todo o mundo tinha certeza de que o risco de uma guerra nuclear dos EUA com a Rússia ou a China era algo do passado, e não do futuro.

Agora tudo mudou. Desde 2016, os relatórios do Pentágono declaram que a dissuasão nuclear é o principal objetivo. A razão para isso são as ações da Rússia e da China para a revisão da ordem mundial e o aumento de suas capacidades nucleares.

Em novembro do ano passado, o ex-chefe do Pentágono, Ashton Carter, disse: "Embora nem nós, nem os nossos aliados, não tenhamos criado durante 25 anos nada de novo, os outros o têm feito — incluindo a Rússia, Coreia do Norte, China, Paquistão, Índia e — durante algum tempo — o Irã. Não podemos esperar mais."

Jogos psicológicos

Payne diz que a agressão russa contra a Ucrânia em 2014 e as ameaças da Rússia de ser a primeira a realizar um ataque nuclear contra os países da OTAN mudaram a realidade e destruíram as ilusões do Ocidente. Essas ameaças russas sugerem que as abordagens dos EUA das questões de dissuasão nuclear falharam. Além disso, isso levanta dúvidas e cria hesitação entre os aliados da OTAN.

"Por que a Rússia está se comportando de forma tão agressiva?", questiona Payne. Porque a Rússia acredita que o Ocidente impôs condições injustas Rússia depois da Guerra Fria e que, além disso, o Ocidente planeja suas ações agressivas contra a Rússia inclusive a mudança de regime.

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Payne observa que o desejo de compensar perdas importantes leva muitas vezes ao risco, mesmo que em um jogo estejam perdas ainda maiores. A Rússia acredita que necessita, e ela tem essa vontade, de quebrar o status quo, mas os países ocidentais não são unânimes em suas decisões e eles não têm vontade de resistir se a guerra começar, especialmente se for nuclear. Por esta razão, a Rússia pensa que tem espaço para manobrar e pressionar o Ocidente.

Além disso, como a Rússia supõe que o Ocidente não assumirá um conflito nuclear, no curto prazo no teatro de operações europeu a Rússia tem vantagem militar, o que a estimula ainda mais para atemorizar o Ocidente.

Ao mesmo tempo, Moscou não deseja a guerra e se comporta de forma prudente e racional. Assim, no âmbito do pensamento racional, o Ocidente precisa de demonstrar que tem vontade e que não tem medo de uma guerra com os russos, acredita Payne.

Ameaçar abertamente

Daqui, de acordo com Payne, vem a necessidade de estabelecer uma "linha" que a Rússia realmente tenha medo de atravessar. Isso subentende a implementação de tropas da OTAN perto da fronteira com a Rússia, a aceleração da introdução do F-35 com bombas nucleares B61-12, bem como a modernização global das armas nucleares norte-americanas.

As incertezas e ambiguidades na dissuasão nuclear já não impedem a possibilidade de uma guerra, mas sim o contrário. Às vezes é preciso apenas ameaçar abertamente o inimigo. Payne acredita que Moscou consegue entender apenas uma tal atitude.

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Por isso, Payne avalia de forma positiva a resposta da primeira-ministra britânica Theresa May quando, no verão do ano passado, lhe perguntaram se ela estaria disposta a usar armas nucleares. May respondeu que os inimigos devem saber que a Grã-Bretanha está pronta para realizar um ataque nuclear, e que o preço de um ataque à Grã-Bretanha ou seus aliados iria exceder os benefícios que o inimigo poderá esperar ganhar com suas ações.

Ao mesmo tempo, May observou: "Como vimos no exemplo da anexação ilegal da Crimeia, não há nenhuma dúvida sobre o desejo do presidente Putin em minar o sistema internacional, baseado em regras, para avançar na perseguição de seus próprios interesses. Ao longo dos últimos dois anos temos visto um aumento preocupante tanto da retórica russa sobre o uso de armas nucleares, como da frequência de treinamentos nucleares repentinos. Ele (Putin) já ameaçou instalar armas nucleares na Crimeia e Kaliningrado, um enclave russo no mar Báltico, na fronteira com a Polónia e a Lituânia."

O próprio Payne escreveu há um ano: "O presidente russo, Vladimir Putin, disse que o colapso da União Soviética foi a maior catástrofe geopolítica do século XX. Ele considera o Ocidente como seu causador e como uma ameaça à aspiração de Moscou de recuperar o domínio sobre as ex-repúblicas da União Soviética, se necessário — pela força. Esta visão se reflete nas operações militares russas na Geórgia, em 2008, bem como na ocupação da Crimeia, em 2014. Aparentemente, a Rússia colocou suas forças nucleares em alerta quando conduziu operações militares contra a Geórgia e, em 2014, o presidente Putin encarou a possibilidade de o fazer novamente."

Fazer um esforço

Payne propõe responder da seguinte forma: "Reconhecer que as expectativas otimistas em relação à Rússia, que surgiram após a Guerra Fria, não refletem a realidade e reorientar devidamente a política dos EUA." Para isso, de acordo com Payne, é necessário "retomar os investimentos em forças e meios de inteligência, para entender melhor a Rússia moderna, incluindo seu programa nuclear."

"Nós precisamos de restaurar a confiança nos meios de dissuasão americanos e nas linhas vermelhas, especialmente destinados a evitar que a Rússia seja a primeira a efetuar um ataque nuclear", "é preciso concentrar a vontade e as forças não-nucleares da OTAN para contrariar as garantias Putin que as tropas russas podem em dois dias alcançar cinco capitais da OTAN", diz Payne.

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No outono passado, Keith Payne também atacou os planos da administração Obama, que se prontificou a considerar a rejeição dos EUA de serem os primeiros a realizar um ataque nuclear.

Um dos argumentos mais fortes dele era o seguinte: hoje não há nenhuma garantia que o Ocidente possa rapidamente, e sem baixas enormes, vencer uma guerra não nuclear contra a Rússia ou a China, por isso as armas nucleares se tornam novamente o fator principal de dissuasão.

Com a nova administração Trump, Payne, provavelmente, terá um maior entendimento mútuo.

Ilia Plekhanov para a Sputnik

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