O autor é o presidente do Instituto Nacional de Políticas Públicas dos EUA e ex-assistente do vice-secretário da Defesa dos EUA, Keith B. Payne, que escreve sobre a ameaça nuclear da União Soviética e da Rússia já há décadas e é considerado um dos principais e mais influentes especialistas nesta área.
Payne disse que o mundo se tornou um lugar mais perigoso após a revisão e "amolecimento" da doutrina nuclear dos EUA em 2010, e que os países ocidentais têm de arrumar sua política para não se desfasarem da realidade. A razão para isso são as ações agressivas da Rússia e da China.
Mudança de rumo
Recentemente se soube que a administração Trump vai realmente rever a doutrina. O Chefe do Estado-Maior da Força Aérea dos Estados Unidos, general David Goldfein declarou: "Eu espero que já nesta primavera tenhamos uma revisão da doutrina nuclear. Chegou a hora de reavaliar o complexo nuclear para desenvolver as linhas políticas estratégicas para o Departamento de Defesa dos EUA."
Em 1991, os americanos acreditavam que um confronto com a Rússia era tão pouco provável quanto o ressurgimento na Europa de guerras entre católicos e protestantes. Em 2012, todo o mundo tinha certeza de que o risco de uma guerra nuclear dos EUA com a Rússia ou a China era algo do passado, e não do futuro.
Agora tudo mudou. Desde 2016, os relatórios do Pentágono declaram que a dissuasão nuclear é o principal objetivo. A razão para isso são as ações da Rússia e da China para a revisão da ordem mundial e o aumento de suas capacidades nucleares.
Em novembro do ano passado, o ex-chefe do Pentágono, Ashton Carter, disse: "Embora nem nós, nem os nossos aliados, não tenhamos criado durante 25 anos nada de novo, os outros o têm feito — incluindo a Rússia, Coreia do Norte, China, Paquistão, Índia e — durante algum tempo — o Irã. Não podemos esperar mais."
Jogos psicológicos
Payne diz que a agressão russa contra a Ucrânia em 2014 e as ameaças da Rússia de ser a primeira a realizar um ataque nuclear contra os países da OTAN mudaram a realidade e destruíram as ilusões do Ocidente. Essas ameaças russas sugerem que as abordagens dos EUA das questões de dissuasão nuclear falharam. Além disso, isso levanta dúvidas e cria hesitação entre os aliados da OTAN.
"Por que a Rússia está se comportando de forma tão agressiva?", questiona Payne. Porque a Rússia acredita que o Ocidente impôs condições injustas Rússia depois da Guerra Fria e que, além disso, o Ocidente planeja suas ações agressivas contra a Rússia inclusive a mudança de regime.
Além disso, como a Rússia supõe que o Ocidente não assumirá um conflito nuclear, no curto prazo no teatro de operações europeu a Rússia tem vantagem militar, o que a estimula ainda mais para atemorizar o Ocidente.
Ao mesmo tempo, Moscou não deseja a guerra e se comporta de forma prudente e racional. Assim, no âmbito do pensamento racional, o Ocidente precisa de demonstrar que tem vontade e que não tem medo de uma guerra com os russos, acredita Payne.
Ameaçar abertamente
Daqui, de acordo com Payne, vem a necessidade de estabelecer uma "linha" que a Rússia realmente tenha medo de atravessar. Isso subentende a implementação de tropas da OTAN perto da fronteira com a Rússia, a aceleração da introdução do F-35 com bombas nucleares B61-12, bem como a modernização global das armas nucleares norte-americanas.
As incertezas e ambiguidades na dissuasão nuclear já não impedem a possibilidade de uma guerra, mas sim o contrário. Às vezes é preciso apenas ameaçar abertamente o inimigo. Payne acredita que Moscou consegue entender apenas uma tal atitude.
Ao mesmo tempo, May observou: "Como vimos no exemplo da anexação ilegal da Crimeia, não há nenhuma dúvida sobre o desejo do presidente Putin em minar o sistema internacional, baseado em regras, para avançar na perseguição de seus próprios interesses. Ao longo dos últimos dois anos temos visto um aumento preocupante tanto da retórica russa sobre o uso de armas nucleares, como da frequência de treinamentos nucleares repentinos. Ele (Putin) já ameaçou instalar armas nucleares na Crimeia e Kaliningrado, um enclave russo no mar Báltico, na fronteira com a Polónia e a Lituânia."
O próprio Payne escreveu há um ano: "O presidente russo, Vladimir Putin, disse que o colapso da União Soviética foi a maior catástrofe geopolítica do século XX. Ele considera o Ocidente como seu causador e como uma ameaça à aspiração de Moscou de recuperar o domínio sobre as ex-repúblicas da União Soviética, se necessário — pela força. Esta visão se reflete nas operações militares russas na Geórgia, em 2008, bem como na ocupação da Crimeia, em 2014. Aparentemente, a Rússia colocou suas forças nucleares em alerta quando conduziu operações militares contra a Geórgia e, em 2014, o presidente Putin encarou a possibilidade de o fazer novamente."
Fazer um esforço
Payne propõe responder da seguinte forma: "Reconhecer que as expectativas otimistas em relação à Rússia, que surgiram após a Guerra Fria, não refletem a realidade e reorientar devidamente a política dos EUA." Para isso, de acordo com Payne, é necessário "retomar os investimentos em forças e meios de inteligência, para entender melhor a Rússia moderna, incluindo seu programa nuclear."
"Nós precisamos de restaurar a confiança nos meios de dissuasão americanos e nas linhas vermelhas, especialmente destinados a evitar que a Rússia seja a primeira a efetuar um ataque nuclear", "é preciso concentrar a vontade e as forças não-nucleares da OTAN para contrariar as garantias Putin que as tropas russas podem em dois dias alcançar cinco capitais da OTAN", diz Payne.
Um dos argumentos mais fortes dele era o seguinte: hoje não há nenhuma garantia que o Ocidente possa rapidamente, e sem baixas enormes, vencer uma guerra não nuclear contra a Rússia ou a China, por isso as armas nucleares se tornam novamente o fator principal de dissuasão.
Com a nova administração Trump, Payne, provavelmente, terá um maior entendimento mútuo.
Ilia Plekhanov para a Sputnik