A Sérvia deve apelar por esse motivo ao Conselho de Segurança da ONU, acredita o professor de Direito Internacional e ex-membro do grupo de peritos nas negociações com Pristina Dusan Celic.
Será que o Kosovo pode formar suas próprias Forças Armadas com base na resolução aprovada?
O professor de direito internacional e ex-membro da comissão de especialistas Dusan Celic disse, em uma entrevista à Sputnik Sérvia, que a criação de Forças Armadas do Kosovo seria uma ameaça não só para a minoria sérvia no Kosovo, mas também para o resto da Sérvia.
"Este documento não é vinculativo, mesmo perante as leis do autoproclamado estado do Kosovo. Uma resolução não é um documento vinculativo em nenhum lugar do mundo. Antes de mais, ela tem uma força política, pois desta forma se expressa a intenção de criar um exército", comentou Celic.
"É constantemente esquecido, mas questão do retorno de certo número de forças de segurança sérvias ao Kosovo deve ser levantada de novo, tal como está previsto pela Resolução do Conselho de Segurança da ONU", disse o especialista.
Como acredita Celic, Pristina usa em pleno o fato de a Sérvia não insistir no que lhe cabe de acordo com a resolução. Para Pristina isso significa a disponibilidade de Belgrado para fazer concessões em prol da integração europeia, na qual a Sérvia tem feito todas as apostas.
"Pela mesma razão eles declararam a independência em 2008, embora isso fosse contrário a todas as regras estabelecidas", diz a fonte da Sputnik Sérvia.
De acordo com ele, só Belgrado tem autoridade para levantar a questão da criação de um exército do Kosovo no Conselho de Segurança das Nações Unidas:
"O Ministério das Relações Exteriores do país deve enviar uma solicitação correspondente ao Conselho de Segurança da ONU. Se esta questão for levantada, ficará claro que nenhuma formação do Exército do Kosovo, do ponto de vista de Belgrado, será aceitável, mesmo se do Conselho de Segurança vier uma resposta negativa ao protesto da Sérvia".
O assessor do Ministério das Relações Exteriores do Kosovo, Azem Vlasi, tem uma opinião diferente sobre o que está acontecendo. Em entrevista à Sputnik Sérvia, ele disse que o Kosovo é um estado independente e que a KFOR não espera permanecer aqui até o fim dos tempos.
"Já estamos recebendo sinais da OTAN que o Kosovo deve formar sua própria estrutura militar. Portanto, esta questão foi levantada na Skupstina. Lógico, isso não pode ser realizado imediatamente, mas estamos prontos para criar o nosso exército, tal como qualquer outro Estado", disse Vlasi.
De acordo com Vlasi, mesmo que os deputados sérvios não derem um único voto pela formação das Forças Armadas do Kosovo, este desacordo pode ser ignorado.
"É possível reforçar a estrutura existente das Forças de Segurança do Kosovo e, assim, transformá-la em uma grande força defensiva, independentemente de como ela será chamada. Ou seja, nós não precisamos mudar a Constituição", diz Vlasi.
Vlasi afirma que a resolução do Conselho de Segurança da ONU não prevê nenhum direito de regresso das tropas. Em sua interpretação, a resolução "anula a soberania da então República Federal da Iugoslávia sobre o Kosovo e estabelece uma administração temporária das Nações Unidas antes da decisão final".
Se Pristina, no final criar um exército, à sua disposição estarão não só armas modernas, mas também as bases da KFOR, que agora abrigam as Forças de Segurança do Kosovo. Assim, as forças especiais do Kosovo, ROSU, têm uma base no sul de Kosovska Mitrovica. Isto é importante quando se considera que a parte norte tem praticamente um único povoado urbano dominado pela população sérvia.
As Forças de Segurança estacionadas na região de Kacanik poderão, em conjunto com os militares dos EUA a partir da base Bondsteel, controlar a parte oriental da linha administrativa, e os combatentes do Kosovo instalados nas cidades de Prizren e Pec, onde alemães e italianos são responsáveis pela KFOR, serão capazes de controlar a "fronteira" do Kosovo com a Albânia e o Montenegro. Assim se fecha o círculo.