Tal passo provocou diferentes reações entre os atores internacionais, tendo a Rússia condenado o ataque. Moscou apela à investigação escrupulosa do caso e qualifica o bombardeio americano como um ato de agressão.
Não há fogo sem fumaça: de onde vieram as substâncias tóxicas
A Síria, tendo sido país signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares desde 1968, porém, não chegou a assinar a Convenção sobre Armas Químicas em 1993, argumentando a sua decisão pela necessidade de manter um "fator de contenção" contra Israel.
Ao mesmo tempo, as autoridades do país rechaçaram todas as alegações de elaboração de armas de destruição maciça no território sírio até 2012, quando reconheceram oficialmente que possuíam o respectivo programa químico.
Já que nem o governo, nem a oposição síria nunca chegaram a reivindicar o ataque, culpando-se um ao outro pelo sucedido, a situação vinha assumindo um caráter tenso, com ameaças por parte da administração de Obama de efetuar uma intervenção militar na Síria.
Porém, seu homôlogo russo, Vladimir Putin, se esforçou por buscar um caminho de compromisso e propôs que todas as armas químicas fossem destruídas na Síria, sob a supervisão de especialistas internacionais, inclusive russos e americanos. O plano foi aceito tanto pelos EUA, como pelo regime de Bashar Assad, e a Síria acabou por aderir à Convenção sobre Armas Químicas em 13 de outubro de 2013.
Consequentemente, há certa possibilidade de uma parte das substâncias tóxicas ter ficado em algumas regiões sírias. Entretanto, ainda ninguém respondeu à pergunta como as armas químicas foram parar às mãos dos terroristas, sendo que a maioria dos especialistas acredita que elas poderiam ter vindo de fora.
Renascimento do conflito: ataque em Idlib
Em 2013, a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), que supervisionou o processo de destruição das armas químicas sírias com as forças russas como garante, recebeu o prêmio Nobel da Paz pela causa. Os peritos da ONU, por sua vez, encarregados de investigar o ataque de Ghouta em 2013, apenas confirmaram o uso de gás sarin, sem apresentar evidências irrefutáveis sobre os responsáveis do ataque.
Logo após o ataque, Damasco se apressou a afirmar que o sarin tinha sido empregue pelas forças de oposição, já que o arsenal químico do país está reduzido a zero, o que foi confirmado pelos especialistas da OPAQ em 2015.
O Ministério da Defesa russo, por sua vez, apresentou uma versão alternativa: sem rechaçar o fato de bombardeio, os representantes russos asseguram que as munições químicas não foram disparadas, e que a nuvem de gás tóxico (provavelmente, sarin) teria surgido após uma bomba ter atingido um armazém com substâncias tóxicas controlado por terroristas. Estes, por sua vez, pretendiam transportar as substâncias ao Iraque, adiantam os militares russos.
Brecha no processo de paz?
Obviamente, a crise do processo de paz na Síria tem sido um dos temas mais repercutidos na maioria das organizações internacionais nos últimos tempos, dado que os EUA, o Reino Unido e a França já apresentaram ao Conselho de Segurança uma resolução que, de fato, imputa a responsabilidade pelo ataque químico em Idlib ao governo de Assad. Porém, o documento acabou por ser vetado pela Rússia e Bolívia, dado que outros 3 membros dos 10 membros do órgão se abstiveram.
Vale ressaltar que, na opinião de muitos cientistas políticos, esta versão carece de lógica: a verdade é que tal ataque não era nada benéfico para o governo sírio no momento. Pouco antes do acontecido, houve um certo abrandamento na postura americana em relação de Assad, com Trump falando que Washington "não deveria mais derrubar o presidente sírio".
Parece pouco provável que o líder sírio, por tantos anos odiado pelas potências ocidentais, se comporte de modo tão irracional, tanto mais que não há nenhumas provas que ele tenha quaisquer substâncias tóxicas em sua disposição.
Não é de estranhar que os olhos de toda a comunidade internacional ontem (12) estivessem pregados no encontro entre o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, e o chanceler russo, Sergei Lavrov: parece que todos, incluindo a própria Casa Branca, já se deram de conta de que Moscou e Washington devem voltar a tentar encontrar compromissos.