"Acredito que as acusações contra o presidente atual continuarão surgindo ainda por muito tempo. Há dois objetivos principais dessas acusações: primeiro, consolidar a opinião pública no país e no exterior de que houve uma luta justa contra os atos de corrupção e a ex-presidente, Dilma Rousseff, que se sujeitou ao impeachment, foi destituída de modo justo, tendo sido de modo justo substituída pelo atual presidente. Por outro lado, os opositores de Temer e das forças opositores ao governo de centro-esquerda vão continuar lutando por suas ideias, visando destituir Temer também", partilhou Travkin ao serviço russo da Rádio Sputnik.
De acordo com o analista, a situação é "dificílima", já que se trata não só do presidente atual que foi "qualificado por Dilma como traidor" e "desmoronou a coalizão baseada no PT no poder".
"Praticamente a maioria absoluta dos observadores hoje em dia tenta acreditar que o presidente no poder não tem chances de ser eleito no próximo ano, ou seja, receber o mandato por via natural, através da votação geral. Porém, agora ele tenta estabilizar a situação, afirmando que estas acusações contra vários funcionários não devem desestabilizar o governo", explica o analista, adiantando que o presidente já perdeu vários ministros no seu gabinete.
Não vale a pena enumerar todos os acusados de corrupção, mas a coisa importante é que estes funcionários destituídos são "ministros-chave do governo atual, governadores, deputados de vários níveis", o que faz com que a crise política assuma um caráter cada vez mais perigoso. Claro que uma parte das acusações será rechaçada, sublinha Travkin, mas por outro lado, podem surgir novos nomes.
Neste contesto, surge uma pergunta justificada: será que é possível a convocação das eleições antecipadas, como consequência da perturbação cada vez maior no governo?
"Teoricamente sim, é possível, mas imaginem só: quem se ocuparia destas eleições se o governo estará ocupado em tentar rebater todas estas acusações, sendo que alguns destes ministros-chave, sem dúvida, vai acabar na cadeia? É uma questão seríssima — as eleições presidenciais. Já resta pouco tempo. Na minha humilde opinião, a convocação das eleições antecipadas é muito pouco provável, já que se deve ser preparado para elas. Tanto mais que Lula tem bastante popularidade hoje em dia e é um dos candidatos", realçou o especialista.
Ao discutir com Sputnik a imparcialidade das investigações em curso, Vladimir Travkin expressou que, provavelmente, alguma parte das acusações na verdade tem fundamento, mas em relação a muitos envolvidos, "há mais fatores políticos do que da justiça imparcial".
"Por um lado, a corrupção se tornou um fenômeno impregnado em toda a sociedade, mas por outro — em uma arma muito conveniente de luta política", assinalou, afirmando que também não se pode esquecer a evidente "participação de terceiros" em todos os processos da crise presentes no país latino-americano hoje em dia.
"Friso que temos um candidato bem resoluto em Washington. Neste caso, a resolução pode ter um sentido negativo, tomando em conta os recentes acontecimentos no Oriente Médio e, Deus nos livre, aquilo que pode acontecer na Coreia do Norte", alertou.