Segundo os investigadores, a ação demonstra a ousadia e o nível de sofisticação a que chegaram as organizações criminosas, a ponto de elas prepararem quadrilhas para efetuar assaltos de grande porte como este contra a transportadora Prosegur no Paraguai.
“Eu desconheço qualquer ação de organização criminosa deste vulto fora do Brasil, em nível de sistema financeiro, em outro local. O que nós temos é uma suspeita de que, em 2015, foi feito um assalto a um carro-forte na Suíça e esse dinheiro foi transferido para o Brasil. Então, existe a suspeita em torno de um crime envolvendo cerca de 2 milhões de euros.”
O especialista em inteligência acrescenta:
“O crime se alastrou de uma forma tão gigantesca que o Estado perdeu o controle. A verdade é esta: hoje, o crime organizado tem dinheiro, logística, tem uma série de coisas, e está conseguindo, com os objetivos que tem, botar o Estado em cheque”, afirmou.
Ricardo Gennari comenta os valores que o crime está mobilizando:
“Já se fala que, no ano passado, só uma facção criminosa em São Paulo roubou R$ 250 milhões. Então, já não é mais uma questão amadora; tornou-se uma questão empresarial e profissional”, disse.
A profissionalização do crime organizado é cada vez maior, segundo Ricardo Gennari:
“Hoje, o crime organizado consegue recrutar médicos, engenheiros, de acordo com as suas necessidades. O crime organizado está usando as mesmas táticas do terrorismo. Se precisam de explosivos, os criminosos recrutam os profissionais que consideram necessários e especialistas. E assim são recrutados engenheiros, armeiros (com profundos conhecimentos de armas e munições), médicos (para cuidar de seus feridos) e várias outras especialidades. No caso de médicos e enfermeiros, procuram recrutar profissionais com experiência em lidar com feridos em situações de combate. É medicina de guerra.”
“Em primeiro lugar, o Estado brasileiro tem de entender que está um passo atrás do crime organizado. Em segundo lugar, o Estado precisa saber que é preciso fazer investimentos em sistemas de segurança, sejam eles em homens, equipamentos, tecnologias. Tudo isso, enfim, o Estado tem de entender que precisa fazer. Fala-se muito em plano disso, plano daquilo, mas a verdade é que não se vê resultado nenhum: é só aquela conversa inicial, e na verdade não se consegue desenvolver esses projetos.”
O especialista destaca ainda a importância da inteligência. “A inteligência tem de ser integrada, e quando a gente fala em integrada fala hoje num sistema que envolva cooperação entre governos e empresas. Por exemplo, a tecnologia desenvolvida pelo setor bancário para detecção de fraudes pode perfeitamente ser compartilhada com as autoridades governamentais. Penso que está todo mundo do mesmo lado, e então esta integração é muito importante.”
Segundo Gennari, "o sistema brasileiro de segurança pública está falido. Hoje, eu colocaria este sistema nessa situação. A gente vê como está o Rio de Janeiro. A polícia no Brasil não está atuando de forma preventiva, não está trabalhando na prevenção de crimes. Infelizmente, a polícia não tem condições de trabalhar na prevenção".
Para Ricardo Gennari, é difícil imaginar o que foi feito do novo Plano Nacional de Segurança Pública, tão anunciado pelo Governo Federal:
“O Plano Nacional de Segurança Pública deve estar em alguma gaveta. Já estamos no quinto ou sexto Plano Nacional, mas a gente não vê a concretização disso. No início do ano, o Presidente Michel Temer disponibilizou R$ 1,2 bilhão para este Plano, mas não vemos resultado disso. Volto à questão do Rio de Janeiro, onde os policiais vivem uma situação lamentável. No Norte e no Nordeste do Brasil, onde estive recentemente, a situação não é diferente. E, além de tudo isso, ainda temos a situação calamitosa dos presídios. Por tudo isso, fica muito difícil falar-se em Plano Nacional de Segurança Pública. Joga-se qualquer coisa para a opinião pública e depois se vê que não há como executar.”