Inicialmente, a guerra de sanções foi provocada pelo repúdio dos países ocidentais em relação à reunificação da Rússia com a península da Crimeia e ao conflito que até hoje se trava no leste ucraniano. As autoridades americanas, na época, foram as primeiras a impor toda uma série de medidas restritivas contra Moscou, pressionando a Europa pera que esta aderisse a tal estratégia apesar dos iminentes impactos negativos.
Na sequência, alguns dos membros da UE (os países do Báltico e do leste europeu em geral) sofreram prejuízos significantes. Para a Rússia, estas medidas "forçadas" foram tanto danosas como benéficas. Por um lado, em resultado da política conduzida, os consumidores internos sentiram um crescimento brusco dos preços. Por outro, a indústria russa voltou a ganhar mais autossuficiência a que durante muito tempo aspirava — por exemplo, os produtores russos começaram criando análogos dos queijos franceses que, para os especialistas, não são em nada piores do que seus concorrentes europeus.
Até os europeus já estarão fartos da 'histeria' russófoba?
Há vários dias, a Câmara dos Representantes dos EUA aprovou por maioria um novo projeto de lei que pressupõe novas sanções contra o Estado e empresas russas. Agora cabe apenas ao presidente dos EUA, Donald Trump, assinar o respectivo documento, o que, segundo as avaliações já existentes, levaria a uma resposta muito "dolorosa" por parte do Kremlin.
Além disso, parece que há limites para a solidariedade política, mesmo para aliados tão próximos como a Europa e os EUA. Logo após o anúncio da decisão dos legisladores americanos, os parceiros alemães se apressaram a assinalar que, por mais que apoiassem a política de sanções contra Moscou, eles não podem permitir que a própria indústria europeia se torne alvo dela.
Entre as prováveis medidas de resposta que já estão sendo expressas por vários analistas e funcionários do Estado russo está, por exemplo, uma verdadeira "cruzada" contra lendárias gigantes americanas, tais como McDonald's, Pepsi, Mars e outras. Do ponto de vista dos legisladores russos, as sanções de resposta contra estas companhias seriam não apenas uma boa retaliação, mas também beneficiaria o "saneamento" da nação.
Entretanto, Moscou, bem como outros 4 membros do "clube de elite", guarda sempre na manga seu trunfo — ou seja, o veto de um país com assento permanente no Conselho de Segurança na ONU. De acordo com várias mídias, o Kremlin poderia desferir um "golpe" contra a Casa Branca nas questões mais sensíveis — por exemplo, vetar as resoluções ocidentais que visam "amansar" Pyongyang e Teerã. Isto, evidentemente, já representaria um considerável obstáculo para as aspirações dos "falcões" americanos.
Crimeia, de novo no epicentro do escândalo
A Europa, por sua vez, tem sua própria "cozinha" política e econômica, onde se travam vários acontecimentos independentes de Washington. Na semana passada, o objeto principal no palco da "confrontação" russo-ocidental, para surpresa de todos, foi a gigante alemã Siemens. Para que os leitores tenham uma noção, já faz 160 anos que esta tem gozado de presença na Rússia.
O escândalo foi provocado, de novo, pelo assunto crimeano. A Siemens afirmou que, apesar de não possuir ainda provas juridicamente comprovadas, tem uma informação credível sobre o transporte de turbinas de produção alemã para a península.
Neste caso, o conglomerado alemão que, sem dúvida, aposta muito no mercado russo e valoriza esta parceria, foi de fato forçado a sacrificar seus interesses para agradar às instituições europeias. Enquanto isso, há quem diga que vários concorrentes da Siemens no mercado europeu já estão "de olhos pregados" no lugar que em breve poderá ficar vazio.
Por enquanto, ainda não está claro se a empresa alemã poderá continuar trabalhando na Rússia e com a Rússia. Infelizmente, é muito provável que, pelo menos na área de turbinas, a gigante terá que denunciar esta parceria para manter seu renome. E para o renome, como se sabe, nada é mais importante do que a observação da "etiqueta" política.
Os abismos da intransigência política
Parece que todos os cenários positivos que os cientistas políticos estavam construindo ao longo dos últimos meses em relação à muito esperada revitalização nas relações russo-americanas não se realizarão. O presidente, por mais extravagante e forte que ele seja, depende sempre do establishment político, especialmente em um sistema de pesos e contrapesos parecido ao americano.
No que se trata da União Europeia, há a impressão que as empresas e até os políticos que lá atuam têm cada vez menos confiança e entusiasmo quanto à campanha antirrussa, especialmente quando se trata de nações tão pragmáticas como, por exemplo, os alemães. Resta apenas esperar que as ideias políticas, em algum momento, acabem por dar lugar a uma abordagem realista e racional.