Quem tem algo a ganhar com uma guerra entre China e Índia na Ásia?

© AP Photo / Manish SwarupMíssil balístico de longo alcance Agni-V durante desfile militar em Nova Deli, Índia
Míssil balístico de longo alcance Agni-V durante desfile militar em Nova Deli, Índia - Sputnik Brasil
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China e Índia vivem há quase dois meses um momento de forte tensão em uma região montanhosa, na fronteira entre os dois países, e Pequim aumentou a carga nesta semana, ao reiterar que as tropas indianas devem sair da área, sob pena de uma guerra ser deflagrada entre os dois países.

A tensão envolve Doklam, uma área montanhosa na fronteira entre Índia, China e Butão. A China começou a construção de uma rodovia na região, o que causou protestos da parte do Butão. Dias depois, as tropas da Índia — país que mantém laços de amizade com o Butão — atravessaram a fronteira e fizeram com que os soldados chineses deixassem o território.

O temor de um conflito militar na área faz surgir a pergunta: quem tem a ganhar com uma guerra entre chineses e indianos — dois países possuidores de armas nucleares — na Ásia neste momento?

Em artigo publicado pela RIA Novosti, o analista russo Dmitri Kosyrev destacou que a entrada da Índia no impasse se deu exclusivamente por uma questão geopolítica, de apoio a um aliado (Butão), a fim de se afirmar como uma potência regional no sul asiático. Não há qualquer demanda religiosa de Nova Deli para se envolver na confrontação com Pequim.

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Todavia, o governo indiano sabe que a construção da estrada por parte dos chineses envolve uma importante região, o corredor de Siliguri, que conecta os estados do noroeste da Índia com o restante do país.

Alheio a isso, o presidente chinês destacou, na terça-feira passada, que a China “nunca permitirá a nenhum povo, organização ou partido político dividir uma parte do território chinês em nenhum momento e de nenhuma forma”. Apesar do forte tom da fala, Pequim não deseja um conflito militar com os indianos, avalia Kosyrev.

Uma guerra de fato entre China e Índia seria uma derrota para ambos os países, embora em terra a vitória penderia para o lado chinês.

Em contrapartida, pondera o analista russo em seu artigo, Pequim poderia perder acesso à rota comercial do Oceano Índico e ao estreito de Malaca, por onde obtém 80% das suas importações de petróleo. Seriam sentidos ainda impactos no projeto da Nova Rota da Seda, que possui o apoio de todos os países do sul asiático, menos da Índia.

“Sonho norte-americano”

Kosyrev acredita que o único país a ver ganhos com uma guerra entre chineses e indianos seria os Estados Unidos. “Seria o sonho dourado da política externa estadunidense”, emenda o especialista.

Um soldado patrulhando na parte chinesa da antiga fronteira Nathu La, que liga o setor indiano de Sikkim e a região autônoma do Tibete na China (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
Poderiam Índia e China chegar a um confronto militar?

Ele menciona não só os exercícios navais conjuntos realizados pelos EUA, Japão e Índia no golfo de Bengala, mas também a venda de aviões de combate para o governo indiano por US$ 2 bilhões, e a venda de aviões de transporte por US$ 365 milhões.

Mas analistas indianos se queixaram do fato da Casa Branca não ter emitido nenhum posicionamento sobre a disputa territorial com os chineses, o que não seria um bom sinal para Nova Deli. É certo que Washington acompanha o assunto, de olho na manutenção ou aumento da sua influência na Ásia como um todo.

Assim, o principal desafio posto para China e Índia é encontrar uma saída comum e boa para os dois lados, sem que um tiro sequer seja dado. Para o analista russo, “não há nenhuma base racional para o ódio entre os dois vizinhos”, classificando a atual crise como uma “idiotice geopolítica do Himalaia”.

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