O cheiro a uma guerra está claramente presente no ar. Uma guerra no formato necessário para os EUA. Pyongyang é um inimigo "cômodo". Ele certamente possui armas nucleares e ninguém poderá provar que Washington está mentindo, como já aconteceu nos casos do Iraque, Síria ou Líbia. Ele tem um exército grande, que obviamente é capaz de opor uma resistência significativa ao agressor, mas a Marinha da Coreia do Norte não é capaz de realizar operações longe de seu litoral, por conseguinte, não pode representar uma ameaça às vias de comunicação estratégicas dos EUA.
Depois, já se pode com prazer e conforto bombardear o território da Coreia do Norte, mandando os aliados combaterem e morrerem no terreno.
Além do mais, por trás da China está a Rússia, Washington não pode ter certeza quanto à reação de Moscou. Ela pode apelar ao comedimento, a um cessar-fogo, observar os EUA sangrando na luta contra a China, e depois pode interferir e acabar de matar, mas também pode não interferir, caso ache as vitimas por parte de Washington suficientes para minimizar sua influência geopolítica num mundo pós-guerra. A China não é a Coreia do Norte, não tem como os EUA a destruírem.
Claro que também há a opção de atacar todos de uma vez, incluindo Moscou. Mas os EUA não vão aguentar. Um país que ficou paralisado por duas semanas depois do furacão Katrina, que destruiu parcialmente uma cidade norte-americana não muito grande, não poderia sobreviver a um ataque nuclear com dezenas de milhões de vítimas e ao colapso de toda a infraestrutura industrial e de transporte.
Porém, as preparações militares de Washington passaram dos limites, e agora qualquer incidente pode desempenhar um papel fatídico.
Assim, por enquanto Washington está perdendo. A OTAN e a UE (com a liderança da Alemanha dentro dela) não desejam empolar a crise europeia só para aliviar a agressão norte-americana no Extremo Oriente. Além do mais, Berlim já se afastou da crise ucraniana, apesar de nos EUA já ter começado uma campanha de responsabilização de Kiev pela possível fuga de tecnologias nucleares para a Coreia do Norte. A Europa nem reagiu às afirmações do Irã sobre o aumento do financiamento do seu programa nuclear e sobre a possível saída do acordo nuclear.
É a primeira vez, durante todo o tempo do pós-guerra, que o mundo Ocidental ficou tão claramente dividido quanto à questão da guerra e da paz. É provável que desta vez os EUA também possam quebrar a resistência europeia. Mas não tem como recuperar o tempo e as forças a gastar com isso e Washington deve decidir rapidamente como agir nesta situação.
E esta decisão deve ser tomada em solidão, sem os aliados europeus, que fugiram do potencial campo de batalha e os EUA não têm tempo para os recuperar.