'Apartheid' oculto: horrores da vida das castas 'intocáveis' na Índia não param

© AFP 2023 / Douglas E. CurranUma mulher da casta de "intocáveis" indiana em Nova Deli (foto de arquivo)
Uma mulher da casta de intocáveis indiana em Nova Deli (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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A palavra "dalit" que se usa para denominar os indianos "intocáveis" pode ser traduzida como "oprimidos". Cada dia, na Índia são estupradas em média 3 mulheres dalit e mortos 2 representantes desta casta.

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De acordo com as estatísticas, os crimes contra os "intocáveis" ocorrem a cada 18 minutos. Embora o novo presidente do país, Ram Nath Kovind, seja ele mesmo um dalit, isso, até agora, pouco alterou sua situação social.

Segundo as crenças do hinduísmo, as pessoas foram criadas pelo deus Brahma. Com sua boca, ele criou os sacerdotes brâmanes, a partir dos braços — os guerreiros xátrias, das coxas — os comerciantes vaixás e dos pés — os servos sudras. Os "intocáveis" não fazem parte destas castas e por isso ocupam o lugar mais baixo nesta hierarquia.

Hoje em dia, ninguém na Índia chama estas pessoas de "intocáveis", mas isso não facilitou sua vida. Atualmente, qualquer representante de outra casta continua podendo fazer tudo o que ele quiser com eles.

A nível legislativo, a violência em relação às "castas registradas" — mais uma denominação politicamente correta dos dalits — é proibida. Mas na realidade, tudo é muito diferente.

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Na vida cotidiana, os dalits fazem o trabalho mais sujo: escorcham o gado, lavam a roupa e limpam as ruas de imundícies. Na escola, os filhos dos dalits são humilhados pelos colegas. Eles são proibidos de comer dos pratos comuns no refeitório e até de beber das torneiras usadas pelos representantes das "castas superiores". Os ex-"intocáveis" são até proibidos de visitar as igrejas hinduístas.

Nas aldeias, os dalits moram em bairros separados. Quando em uma povoação suas moradias foram cercadas por um muro, se iniciaram os protestos. Não por causa do próprio muro, mas porque por cima dele foi instalado arame eletrificado.

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Além disso, houve casos em que os representantes das outras castas irrompiam nas casas dos dalits e batiam em todos os seus habitantes sem poupar nem as crianças, nem as mulheres grávidas. Às vezes, as próprias moradias são incendiadas junto com seus residentes.

Hoje em dia, na Índia, se segue uma política destinada ao combate à opressão por pertença a uma casta.

Os dalits podem frequentar a escola e lhes são atribuídas cotas nas universidades. Até há 30 dalits milionários, mas eles são apenas a exceção que confirma a regra.

A polícia, por sua vez, se mostra relutante em investigar os crimes contra os "intocáveis". Um exemplo disso foi o caso em que uma menina de 14 anos foi sequestrada durante 2 meses por um homem de casta mais alta e abusada por seus 11 amigos. Logo depois de ser libertada, a menina morreu, enquanto o criminoso saiu da prisão sob caução.

Há várias maneiras de sair das "castas oprimidas". Devido ao fato de que a casta de uma pessoa apenas pode ser estabelecida pelo seu sobrenome, os dalits às vezes mudam para as cidades onde ninguém os conhece, mudam o sobrenome e começam uma vida nova.

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Porém, um modo mais popular é a conversão para outra crença religiosa. Houve casos em que bairros inteiros de "intocáveis" se convertiam ao budismo. Porém, esta maneira não é universal — um curtidor não passará a ganhar mais nem obterá uma boa educação se apenas mudar de religião.

Nos últimos anos, os dalits têm organizado cada vez mais protestos, onde exigem que se ponha fim à desigualdade social. Os "oprimidos" representam cerca de 17% da população indiana, o que é mais de 200 milhões. Contudo, nem o fato de serem numerosos lhes garante sucesso, já que o registro da opressão dos "intocáveis" conta com mais de um milênio.

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