Vida após a morte
Já por 10 anos, nas vésperas do Dia da Cidade em Moscou, à capital chegam dezenas de bandas e orquestras militares de todo o mundo para desfilarem pela Praça Vermelha, interpretarem as melhores manifestações da sua cultura e prestarem homenagem à tradição musical russa.
Porém, este ano foi diferente dos outros. Não apenas pelo desempenho cada vez melhor dos participantes e organizadores, mas também por um motivo genuinamente trágico para toda a Rússia. Ele foi a ausência do grande compositor e maestro russo Valery Khalilov, que foi diretor do festival e dirigente do famoso coral Aleksandrov das Forças Armadas russas.
A tragédia abalou o país. Levou os que muitos qualificavam como "insubstituíveis". Por isso, quando todo o conjunto de músicos saiu à Praça Vermelha para interpretar uma canção em memória aos perecidos, poucos espectadores conseguiram conter lágrimas de comoção.
Kalinka com jeitinho especial
Porém, o evento é muito mais divertido do que possa parecer. Ao contrário das músicas bem pesadas e marchas solenes que se costuma imaginar quando se fala de orquestras militares, os participantes apresentaram dezenas de canções de todo o tipo, desde óperas europeias até hits internacionais. Imaginem só a Uptown Funk de Mark Ronson e Bruno Mars tocadas pela companhia da Guarda Especial do Regimento Presidencial! E esta foi uma apresentação espetacular à qual os visitantes tiveram oportunidade de assistir.
Além das honradas orquestras militares russas com suas canções patrióticas, soviéticas e infantis — para qualquer gosto e que cada russo conhece — a calçada da praça foi conquistada pela maestria e energia positivas das moças percussionistas armênias, do grupo céltico de gaita de foles, de músicos egípcios vestidos de antigos faraós e de indianos com seus instrumentos internacionais, vinas.
A Praça Vermelha se encheu de melodias étnicas, exóticas, atraentes pela sua originalidade.
Contudo, todos os convidados estrangeiros também fizeram questão de interpretar as músicas russas mais conhecidas, mas com seu próprio jeitinho. Assim, a famosa Kalinka ganhou novo fôlego em versões com diferentes instrumentos de várias partes do mundo. Quanto ao público, esse gesto o deixou completamente encantado e as salvas de palmas não faltaram.
Festa de povos e tradições
Os estrangeiros figuraram não só entre os participantes, mas também nas bancadas — desde as filas na entrada à praça se ouvia o falar de toda uma série de línguas. Turistas de praticamente todo o mundo se dirigem a Moscou para testemunhar esta grande festa da amizade, arte e amor pela sua Pátria.
Um dos "talismãs" do festival é a eminente cantora francesa Mireille Mathieu, que confessa adorar a Rússia e, apesar do tempo pouco agradável em Moscou, com temperaturas baixas e chuva, a "prima dona" saiu para cantar por quatro dias consecutivos, dado que o festival decorre entre 25 de agosto e 3 de setembro.
Com sua voz incrível, forte e aveludada, Mireille interpretou a canção tocante Une vie d'amour do famoso cantor Charles Aznavour, também conhecida na Rússia na sua versão traduzida, dedicando-a ao seu amigo e amigo do festival, um exemplo para todos os músicos presentes e grande estrela da cultura russa — Valery Khalilov.
No meio das luzes nas mãos dos visitantes, essa emoção foi única — de tristeza, mas ao mesmo tempo de gratidão e respeito por este grande homem. Esta cena deixa claro que o festival vai existir ainda por muitos anos, ao menos como uma bela contribuição para a homenagem aos músicos que sacrificaram suas vidas lutando por uma causa nobre comum.