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O que está por trás da proposta chinesa de ampliar BRICS? Especialista russa esclarece

© REUTERS / Fred Dufour/PoolChinese President Xi Jinping speaks at the opening of the BRICS Summit in Xiamen, China September 3, 2017
Chinese President Xi Jinping speaks at the opening of the BRICS Summit in Xiamen, China September 3, 2017 - Sputnik Brasil
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Recente cúpula dos BRICS em Xiamen foi marcada por uma ideia inovadora – uma provável ampliação do grupo, ou o chamado formato "BRICS+". Houve especialistas que elogiaram a iniciativa, outros a enfrentaram com certo ceticismo. A Sputnik Brasil falou com a especialista russa Viktoria Panova sobre os motivos da proposta e sua viabilidade.

Em abril, nas vésperas da IX cúpula do grupo BRICS na cidade portuária de Xiamen, o chanceler chinês Wang Yi expressou, pela primeira vez na história da organização, a ideia de não apenas ampliar o diálogo com participantes adicionais, mas processar sua adesão ao bloco em pé de igualdade.

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Entre os candidatos figuraram o México, o Paquistão, o Tajiquistão e o Sri Lanka, um leque genuinamente não trivial.

A Sputnik Brasil viajou ao Fórum Econômico do Extremo Oriente e conseguiu falar com uma das mais destacastes especialistas na área, pró-reitora de Relações Internacionais da Universidade Federal do Extremo Oriente russo e copresidente do processo BRICS Civil, Viktoria Panova, para descobrir sua opinião sobre o tema.

Sputnik: No contexto da recente cúpula dos BRICS, abordemos o tema mais atual: como a senhora avalia o formato "BRICS+" proposto pelos parceiros chineses e será que o considera como viável?

Viktoria Panova: Por um lado, na verdade devemos estar formando um certo círculo de amigos dos países-membros do BRICS, porém, nos demos conta que em um futuro breve não haverá nenhuma ampliação real. Em primeiro lugar, porque, embora houvesse candidatos a tal adesão desde o primeiro momento e estes tenham sido mencionados muitas vezes, deste modo nós, de fato, desvalorizamos o formato… Não apenas isso, mas neste caso ele se converteria em pura formalidade pelo conteúdo do trabalho. Isto é, os BRICS, primeiramente, devem configurar os mecanismos e formas de cooperação concretas e especificas e só depois devem pensar quem poderiam convidar.

Mas, mesmo assim, também é impossível ficar isolados e não atrair aliados do grupo dos países emergentes com economia de transição que se qualificam como "emerging and developing countries". Além disso, o BRICS se posiciona como, de certo modo, um formato alternativo, mais justo, mais aberto, ao contrário do G7, por exemplo. Por isso, eles estão condenados, embora esta seja uma palavra pejorativa, a estarem abertos para o mundo que não seja ocidental, em primeiro lugar, e encontrar os parceiros entre eles. É nisso que se foca a iniciativa chinesa.

Entretanto, a especialista questionou a escolha "estranha" dos chineses, relembrando a tendência anterior dos outros países. De acordo com ela, antigamente se travava uma espécie de cooperação regional à medida que a presidência rotativa do grupo se transferia entre os membros.

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Deste modo, por exemplo, o Brasil tem costumado optar por parceiros do bloco UNASUR, enquanto a Índia, mesmo que pudesse contar com a SAARC (Associação Sul-Asiática para a Cooperação Regional), não o tem feito por causa da presença do seu inimigo principal, o Paquistão. Em vez disso, os indianos apostaram em outras organizações subregionais.

"De qualquer modo, todavia são países da região. Para a Rússia, quando presidia o grupo, eram os países da CEI [Comunidade de Estados Independentes, composta por repúblicas ex-soviéticas], em primeiro lugar. Quanto à China, é-lhe mais difícil encontrar parceiros e aliados naturais que persigam uma cooperação com ela, mas que ao mesmo tempo sejam países pequenos", frisou Panova.

Na opinião da especialista, esta iniciativa foi lógica para as autoridades chinesas, pois as variantes existentes — tais como a CAO (Comunidade da África Oriental) ou a APEC (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico) — incorporam países demasiado diferentes.

Panova também fez uma previsão quanto à futura estratégia sul-africana, dado que este país recebe a presidência no ano que vem. A juízo dela, a África do Sul provavelmente dará enfoque aos países do continente africano, pois deve continuar se posicionando como o ator-chave na região e uma janela, ou uma porta, para lá.

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"Por isso, eles [sul-africanos] enfrentam outros objetivos. A China é uma potência global que não tem aliados verdadeiramente naturais na região e que já mostra que o Tajiquistão é seu amigo, bem como o México, que parece nos apoiar… Mas a África do Sul dificilmente o fará, tanto mais que isso não faz parte dos seus interesses. […] Por isso, isto [a ampliação dos BRICS] me parece muito pouco provável", frisou a acadêmica.

Também Viktoria Panova fez questão de realçar que o leque dos países-candidatos apresentado pela delegação chinesa parece mais que estranho.

"Acima de tudo, o círculo de amigos escolhido pela China não é nada claro do ponto de vista metodológico. Ou seja, por que foram escolhidos estes países e não outros? Estes não são os Estados que têm sido enumerados como candidatos naturais à adesão aos BRICS, que também desfrutem de uma economia bem sólida, se estejam desenvolvendo a ritmos dinâmicos. Por isso, tal abordagem voluntarista é justificada, acredito eu, por alguns motivos internos, ou, corretamente falando, por motivos de política externa chinesa. Entretanto, duvido que esta abordagem possa pegar nessa forma", opinou.

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S: Em muitas ocasiões se tem afirmado que o Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS tinha sido pensado como uma espécie de alternativa às estruturas ocidentais, inclusive ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional…

VP: Na verdade, não é bem assim. Sabe, aqui [na Rússia] se tem falado muito disso, por algum motivo, mas por pessoas que têm pouca ideia daquilo que ele é. O Novo Banco de Desenvolvimento, no melhor cenário, talvez possa ser uma alternativa ao Banco Mundial, mas em caso nenhum ao FMI. A alternativa ao FMI poderia ser, provavelmente, apenas a cesta de moedas de reserva convencionais.

Mas, ao mesmo tempo, ele [Banco dos BRICS] não pode concorrer com o Banco Mundial precisamente no que trata da escala de sua ação. Lá tem outro nicho, ocupado pelo Novo Banco de Desenvolvimento, que tem a ver com o autodesenvolvimento, com a procura de novos amigos e parceiros, pois os créditos por ele propostos são concedidos em condições completamente diferentes do que, por exemplo, no âmbito do Banco Mundial.

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S: Há pouco tempo, falamos com o vice-presidente do Novo Banco do Desenvolvimento, Paulo Nogueira Batista Jr, na China. Ele nos contou sobre o projeto da entidade em relação à reforma do sistema judicial na Rússia, que inicialmente foi proposto ao Banco Mundial, mas foi descartado após a introdução das sanções em 2014. Neste caso, o Banco dos BRICS se apresentou como alternativa?

VP: Não é uma alternativa ao sistema, é uma alternativa ao banco. Claro que se lhe recusam um crédito em um banco, você vai a outro. Aqui [ao Banco dos BRICS], podem se dirigir países que não enfrentem exigências tão rígidas e politizadas, e isto será um projeto completamente comercial. É nisso que consiste a essência.

Em conclusão, a especialista observou que no contexto atual os parceiros do BRICS mostram verdadeiramente sua disponibilidade para apoiar Moscou, pois inicialmente o banco deveria apoiar apenas projetos de infraestrutura, mas, com a passagem do tempo, tal como nesse caso particular, o projeto adquiriu um caráter mais amplo.

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