Gevorg Mirzayan, professor do Departamento de Ciências Políticas da Universidade de Finanças do Governo da Rússia, explica no seu artigo para a Sputnik que importância tem o BRICS para o mundo e que chances terá o bloco de se tornar um regulador mundial.
O trono está vago?
Até hoje tudo era fácil: o Ocidente coletivo se ocupava da regulação dos processos mundiais. Mas agora tudo é mais complexo. Primeiro, não existe mais o Ocidente coletivo — as divergências nos interesses tanto nacionais como internacionais dividiram os EUA e a Europa Ocidental. Segundo, o país-chave do Ocidente, os EUA, se mostrou incapaz de participar da regulação mundial.
O enfraquecimento dos EUA cria um vácuo de poder e, como nenhum dos países ocidentais pode substituir os Estados Unidos como "moderador mundial", surgem perspectivas interessantes para os blocos regionais e alianças. Em primeiro lugar, para o grupo BRICS.
Parceria de soberanias
No entanto, continua Mirzayan, apesar de todas as dificuldades, de toda a heterogeneidade do bloco, o BRICS, na realidade é o principal pretendente a ser o centro alternativo de regulação mundial. Porquê? Em primeiro lugar porque é composto dos países em desenvolvimento mais poderosos do mundo. Em segundo lugar, porque não tem um líder nesta organização: todos os países são caracterizados pela sua independência e soberania, o que faz com que eles respeitem a soberania dos outros e não tenham intenção de disputá-la.
"No BRICS ninguém impõe nada a ninguém. Quando as abordagens se distinguem começa um trabalho paciente e escrupuloso de aproximação", diz o presidente russo, Vladimir Putin. Assim surge um protótipo de sistema de governo no mundo multipolar.
Além do combate ao terrorismo mundial, Moscou tenta usar o BRICS para avançar a proposta russo-chinesa sobre a regulação da crise que atingiu a Península da Coreia. O plano prevê diminuir a tensão na área, mas também, sublinha o analista, pode reduzir significativamente a influência e presença dos EUA no Leste Asiático e, se a Rússia e China conseguirem convencer os parceiros do BRICS a apoiar este plano, será um golpe sério nas posições de Washington na região.
Assuntos econômicos
"A Rússia e o BRICS vão procurar alcançar a redução do domínio de algumas moedas…O mundo multipolar não combina com o domínio do dólar" destacou o senador russo Aleksei Pushkov.
Os países do bloco já acordaram realizar parcialmente o comércio nas suas moedas nacionais, mas, como frisa Mirzayan, para isso os BRICS têm que aumentar o volume mútuo de negócios e trocas comerciais, que, falando francamente, é bem pequeno.
Afinal de contas, resume o analista, a cúpula dos BRICS, especialmente neste ano, sai dos limites do próprio bloco: em 2017 a reunião de líderes em Xiamen contará com a presença de países terceiros (o chamado formato BRICS+, proposto pela parte chinesa) como a Tailândia, o Egito, o Tajiquistão, o México e a Guiné.