'Estamos sozinhos perante o mundo': de onde vem insatisfação da Catalunha com Espanha?

© REUTERS / Albert GeaApoiantes da independência da Catalunha durante a demonstração no Dia Nacional de Catalunha, Barcelona, Espanha, 11 de setembro de 2015
Apoiantes da independência da Catalunha durante a demonstração no Dia Nacional de Catalunha, Barcelona, Espanha, 11 de setembro de 2015 - Sputnik Brasil
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Faltando cinco dias para realização de referendo independentista da Catalunha, a Sputnik falou com Jordi Pacheco i Canals, presidente do Colégio de Cientistas Políticos e Sociólogos da Catalunha, para entender melhor a que se deve o desinteresse de muitos catalães quanto à Espanha e que papel desempenhou a União Europeia neste processo.

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"Madri ainda não compreendeu que o independentismo não é uma invenção da Generalidade da Catalunha e que na realidade é o povo que está obrigando o governo catalão a agir", assegura Pacheco, que alerta que esta concepção faz com que o governo central creia que a Generalidade é o "foco de irradiação" e que com eliminação deste foco o movimento independentista pode ser contido.

No entanto, afirma, após as detenções realizadas pela Guarda Civil contra membros do governo catalão, a situação pode piorar.

"Não descarto que detenham o presidente do governo catalão, Carles Puigdemont, e que cheguem a invadir o Palácio da Generalidade para levá-lo", alertou.

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O especialista acredita que, dificultando a votação de 1º de outubro de modo tão contundente, o governo espanhol lhe concede uma importância que seus próprios organizadores estavam buscando.

O cientista político também sublinha o importantíssimo papel da polícia e se esta permitirá ou não que as pessoas votem.

Se o número de votantes que votarem sim à independência corresponder à metade do número das passadas eleições ao parlamento da Catalunha (2,1 milhões de pessoas), o referendo será legítimo. É importante nas condições atuais, pois "por enquanto será um referendo sem garantias", disse Jordi Pacheco i Canals à Sputnik Mundo.

Sobre a insatisfação com a Espanha

"Não há insatisfação com a Espanha", disse Pacheco, explicando que as pessoas estão insatisfeitas com o Partido Popular que está no poder desde 2011.

"O PP não tem base eleitoral na Catalunha. Seus resultados aqui sempre foram muito pobres e por isso não corresponde às demandas da Catalunha e não se preocupa com elas. Isso provoca uma sensação de insatisfação democrática e política em relação à Espanha."

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Neste sentido, reconhece o especialista, uma das principais razões para explicar o elevado número de independentistas não é a vontade de torná-la independente, mas sim porque estão insatisfeitos com a forma que são tratados por Madri.

Pachaco recordou que apesar das detenções, apreensão de publicidade e do alto número de policiais, levados à Catalunha, as manifestações são mais massivas do que antes.

"Os últimos acontecimentos na Catalunha deram ao independentismo o empurro de que precisava para que este já não possa parar […] Se tentavam intimidar com suas ações dos últimos dias, conseguiram o contrário", frisou.

Sobre a interferência da União Europeia e seu problema de legitimidade

A posição da União Europeia quanto ao processo independentista catalão tem mantido sem mudanças ao longo dos últimos anos. A posição se baseia na não interferência nos assuntos nacionais espanhóis, especialmente devido ao peso da Espanha na União. No entanto, assegura Pacheco, "tudo tem limite", sublinhando que o envolvimento do povo é o fator-chave.

"No início do processo independentista, em 2012, às ruas saíram um pouco mais de um milhão de catalães; as respostas da UE eram hesitantes. E até agora continuam sendo firmes no apoio à Espanha, pois é um membro importante […] Mas quando são ultrapassados limites de respeito dos direitos fundamentais e de liberdades públicas, e o número de protestos aumenta, isso muda o cenário."

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Esses limites poderiam ter sido vistos durantes as últimas semanas: governo espanhol tem apreendido propaganda a favor do referendo e tem multado os que participam das manifestações.

Segundo o cientista político, "a União Europeia não pode se apresentar como campeã mundial da liberdade, da democracia e do Estado de bem-estar, caso não aplique tudo isso em sua casa". Na situação atual na Catalunha a UE tem duas opções: "pressionar Espanha para que dê uma resposta adequada ao problema", disse, "ou perder toda sua legitimidade".

A sorte da Crimeia

Ao responder à pergunta se há correlação entre o referendo da Crimeia de 2014, quando 97,77% votaram a favor da reunificação com a Rússia, e o da Catalunha, Pacheco destacou "uma diferença fundamental":

"Por trás do referendo na Crimeia estava um Estado muito poderoso com presença na ONU, a Rússia. Além disso, o jogo geoestratégico na Crimeia é muito importante; um jogo estratégico que não está presente na Catalunha. Nós estamos sozinhos perante o mundo".

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