Anos de enganos e duplicidade ou como EUA perderam a credibilidade

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Os fracassos da diplomacia norte-americana e a aparente incapacidade dos EUA de servir como garante da estabilidade nos assuntos mundiais mais agudos é um resultado direto de anos de engano e falsidade nas relações internacionais, assim opina Ted Galen Carpenter, pesquisador do Cato Institute especializado em política externa.

A credibilidade e a fiabilidade são dois pilares de uma diplomacia bem-sucedida, já que muito poucos países estariam dispostos a negociar e procurar compromissos com uma parte que mal os respeita.

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Várias administrações estadunidenses consecutivas ignoraram este princípio, deixando um legado de mentiras que prejudicaram toda a política externa do país, escreve Carpenter em um artigo para a revista The American Conservative.

O autor vincula o atual beco sem saída diplomático em relação ao problema nuclear norte-coreano com uma longa história de violações dos acordos e não cumprimento de promessas por parte de Washington.

"Durante a sua recente turnê asiática, o presidente dos EUA, Donald Trump, convidou o líder norte-coreano Kim Jong-un para a mesa de negociações e a 'fazer o que está certo', ou seja, renunciar às armas nucleares e ao programa de mísseis", lembra o autor.

Pressupõe-se que uma tal concessão resultaria em levantamento das sanções e em uma relação mais normal com a comunidade internacional. Mas, infelizmente, Pyongyang tem uma vasta lista de razões para não confiar nestes apelos.

Carpenter continua enumerando os casos mais destacados da duplicidade de Washington, que justificam a atitude cautelosa da Coreia do Norte.

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Primeiro, o acordo nuclear com o Irã, que, apesar de os outros participantes testemunharem que Teerã cumpre as condições acordadas, é criticado pelos EUA, um de seus promotores na época, e corre o risco de cessação por iniciativa de Donald Trump, com consequências pouco previsíveis deste passo.

Segundo, o jornalista lembra o engano na Líbia, que demonstrou dois lados pouco agradáveis para os EUA.

Um, é que o líder líbio Muammar Kadhafi aceitou terminar o programa nuclear em troca do levantamento das sanções econômicas. Sete anos mais tarde, os EUA e a OTAN interviram no conflito interno da Líbia do lado dos rebeldes, e seus ataques aéreos e de mísseis balísticos ajudaram na derrubada de Kadhafi e no posterior destino do país árabe.

Outro, naquela época, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução que previa restringir a intervenção militar com objetivo de proteger os civis. A China e Rússia, perante as declarações dos EUA de que se tratava mesmo de uma operação de segurança, não exerceram seu poder de veto da decisão. Mas o objetivo real — a derrubada de Kadhafi — se revelou apenas quando já começaram os bombardeios.

O autor cita a declaração do secretário de Defesa, Robert Gates (2006-2011), sobre a reação de Moscou:

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"Os russos chegaram a pensar que eles tinham sido enganados na Líbia. Se abstiveram de vetar a resolução da ONU porque esta pressupunha a prevenção dos massacres […] mas logo ficou claro que a OTAN buscava derrubar Kadhafi. Considerando-se enganados, os russos começaram a vetar qualquer resolução parecida, incluído a da Síria dirigida contra o presidente Assad", afirmou Gates.

Mais uma duplicidade é a expansão da OTAN para o leste. Moscou afirma ter aceitado a reunificação da Alemanha, sob condição de que a OTAN cessasse a expansão em direção às fronteiras da URSS.

Dois altos funcionários, o secretário de Estado dos EUA, James Baker, e o ministro das Relações Exteriores da Alemanha Ocidental, Hans-Dietrich Genscher, ambos ofereceram garantias verbais de que a Aliança Atlântica se limitaria às fronteiras alemãs.

Claramente, este não foi o caso, e a "explicação" dos EUA se baseia em que não há documentos formais que refiram tais garantias. Coisas dessas "não inspiram confiança entre os governos", destaca Carpenter.

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A invasão militar da Sérvia pela OTAN em 1999 — que uma Rússia enfraquecida não pôde impedir — levou à ocupação da região histórica sérvia de Kosovo. Nove anos mais tarde, a província decidiu oficialmente obter a independência de Belgrado.

"Estava claro que a Rússia e, possivelmente, a China teriam vetado uma resolução a respeito no Conselho de Segurança. Assim, os EUA e seus aliados se esquivaram por completo à ONU e aprovaram a independência de Kosovo por sua própria conta", comenta o autor.

Para os americanos, é doloroso admitir que seu país adquiriu uma reputação bem fundamentada de enganar em sua política externa, mas toda a evidência o demonstra, escreve Carpenter.

Esta "história de duplicidade e traição" norte-americana está entre as razões por que é tão difícil resolver a crise norte-coreana através da diplomacia.

"As ações têm consequências, e a reputação de Washington de ser pouco sincero tem complicado os objetivos dos próprios EUA na política externa. É um exemplo clássico de uma grande potência estar atirando no seu próprio pé", conclui o analista.

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