Pela primeira vez na história, em 2016 as perdas das forças especiais dos EUA superaram as das tropas convencionais; a mesma estatística caracteriza o ano seguinte. Os melhores soldados estadunidenses lutam e morrem muito longe da sua Pátria. A edição russa Lenta.ru estudou como os EUA estão mudando seus métodos de guerra moderna e o que está acontecendo com os soldados norte-americanas mais corajosos.
"Não sabemos com precisão onde estamos presentes no mundo e o que lá fazemos", afirmou o senador Lindsey Graham, coronel norte-americano e membro do Comitê das Forças Armadas, que devia dispor de informações sobre a presença militar dos EUA por todo o mundo.
Contudo, isso é explicável. De acordo com o Comando Conjunto de Operações Especiais (JSOC) dos EUA, as forças estadunidenses estão presentes em permanência em mais de 80 países do mundo. Elas ajudam a vigiar e eliminar terroristas, a combater o tráfico de drogas e a treinar os militares locais.
"O número do contingente das forças especiais dobrou, os soldados são enviados para missões com mais frequência e por prazos cada vez maiores. Hoje em dia, seu comando inclui quase 70 generais e almirantes, enquanto 10 anos atrás eles eram apenas 9", escreveu ainda em 2013 a funcionária da Rand Corporation, Linda Robinson.
Vale destacar que, em 2001, em várias partes do mundo operavam 2,9 mil soldados de forças especiais dos EUA; no momento, este número corresponde a 8 mil.
Soldados para todas as ocasiões
Há muitas vantagens em envolver as forças especiais: o custo de uma missão com sua participação é mais baixo do que enviar um enorme contingente militar. Os soldados deste tipo de forças são mais universais, sendo capazes de eliminar algum terrorista influente ou assegurar o cumprimento de qualquer acordo diplomático temporário entre os lados em confronto.
Além do mais, o envio de forças especiais não provoca um descontentamento público, já que aos conflitos em selvas distantes ou a desertos cheios de jihadistas não são enviados seus vizinhos, que se juntaram ao exército para conseguir um emprego ou formação académica gratuita, mas profissionais que combatem voluntariosamente em destacamentos de elite.
Sendo assim, os resultados dessa realidade são controversos. Os presidentes norte-americanos têm a tentação de resolver qualquer problema militar através do envolvimento de forças especiais a fim de evitar uma intervenção militar e negociar um compromisso político.
Soldados se cansaram
Aparentemente, a eficácia das operações especiais vem diminuindo dramaticamente: desde 2001, os soldados estadunidenses eliminaram milhares de terroristas e seus chefes no Paquistão e Afeganistão, contudo, os talibãs continuam mais fortes do que nunca.
De acordo com os dados do Departamento de Estado, durante os últimos oito anos, apesar de mais de 200 ataques aéreos do JCOS e parcialmente da CIA, as forças da Al-Qaeda na península da Arábia subiu de algumas centenas para quatro mil.
Contudo, a culpa não é das próprias forças especiais, mas sim dos líderes políticos e comandantes de alto escalão, que não conseguem elaborar uma estratégia inteligente de utilização desses soldados de elevado profissionalismo.
Não é a nossa guerra
Por sua vez, a atitude dos norte-americanos comuns perante as tropas mais competentes do país vem mudando também.
"As forças especiais norte-americanas viraram uma espécie de versão da Legião Estrangeira francesa. A força da Legião é que ela é toda composta de estrangeiros. Os parisienses não ficarão preocupados se em algum lugar do mundo morrerem vários legionários, já que eles não são 'dos nossos'. As nossas forças especiais se tornaram em uma força desse tipo", assinalou em entrevista ao VICE um sargento norte-americano de forças especiais pedindo anonimato.
É difícil que alguma coisa mude no futuro mais próximo. Sendo assim, cedo ou tarde Washington vai ter de encarar a necessidade de reformar suas tropas mais competentes.