O governo do Chipre anunciou que a empresa italiana Eni continuará explorando os campos de gás da ilha, apesar da postura da Turquia. Em fevereiro, os navios de guerra de Ancara impediram que um navio da empresa transalpina chegasse ao local. A Turquia afirmou que os trabalhos da empresa violam os direitos dos cipriotas turcos.
Além disso, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, advertiu que Ancara até pode recorrer ao uso de força militar, tal "como na região síria de Afrin", por acreditar que os "nossos direitos no mar Egeu e no Chipre são iguais".
O primeiro grande campo de gás cipriota, Afrodita, foi encontrado em 2011. Além disso, durante as duas últimas décadas foram reveladas outras duas grandes jazidas de gás: Leviatã israelense e Zohr egípcia.
Explorações e ameaças
A própria Turquia se mostrou interessada em procurar hidrocarbonetos já que "explorar recursos na região oriental do Mediterrâneo é nosso direito soberano", afirmou no início de fevereiro o ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Cavusoglu, anunciando que Ancara não reconhecerá o acordo de divisão da plataforma marítima entre o Chipre e o Egito.
Por sua vez, a Síria planeja se juntar à exploração de gás. No fim de 2017, o ministro do Petróleo e dos Recursos Naturais do país, Ali Ghanem, afirmou que Damasco começará a extração de gás já no início de 2019.
Este passo provocou reação forte de Israel, que disputa a área onde as explorações serão realizadas. O ministro da Defesa israelense, Avigdor Lieberman, qualificou a iniciativa como "muito provocadora", contudo, as autoridades libanesas e representantes do movimento Hezbollah deram resposta ao ministro israelense. O líder do movimento, Hasan Nasrallah, advertiu que caso seja preciso, "em questão de horas" ele impedirá o funcionamento da plataforma de exploração marítima israelense.
Potencial conflito
Quanto à influência dos recursos naturais sobre a política dos países localizados na parte oriental do Mediterrâneo, o professor da Escola Superior de Economia russa, Grigory Lukyanov, comentou ao RT que esse é o "fator mais poderoso de um conflito potencial na região", uma vez que o problema supera as fronteiras dos países que lutam pela mesma plataforma marítima.
"Aqueles países que não eram gigantes do petróleo ou do gás, agora são ameaça para as relações socioeconômicas e políticas da região", assinalou Lukyanov, destacando o caso de Israel, que anteriormente era um importador de recursos, mas agora pode se tornar uma potência energética que competiria com os países árabes e desencadearia assim "uma nova versão do conflito árabe-israelense".
Enquanto isso, "o surgimento de um compromisso entre a Turquia e o Irã na Síria proporciona motivos para acreditar que esses países sejam capazes de chegar a um acordo", criando, assim, problemas para Israel. Porém, a experiência de cooperação entre Ancara, Moscou e Teerã quanto à Síria, poderia evitar conflitos na hora de dividir a plataforma síria na fronteira com a zona econômica da Turquia, assinalou especialista.
No entanto, apesar das profundas divergências, é pouco provável que uma guerra por gás se inicie na região em breve já que todos os países, exceto Israel, já estão enfraquecidos por conflitos existentes.