Depois da queda da lira devido às sanções dos EUA, Recep Tayyip Erdogan se pronunciou. Ele prometeu responder com firmeza à "guerra econômica". Mas mesmo quando esse confronto terminar, os turcos guardarão seus rancores por muito tempo.
Pastor da discórdia
As sanções provocaram uma desvalorização ainda maior da lira turca: literalmente, em meia hora, a moeda foi de 5,8 para 6,7 por dólar.
"Agora a moeda turca está caindo rapidamente e o dólar está muito forte. As tarifas para o alumínio serão de 20%; para o aço – 50%", escreveu Donald Trump no Twitter.
Há uma semana, Ancara esperava por um compromisso. Uma delegação turca liderada pelo vice-ministro das Relações Exteriores, Sedat Onal, chegou a Washington para conversações. No entanto, os convidados foram informados que as concessões não seriam feitas até que o pastor evangélico Andrew Brunson fosse libertado. Na Turquia, ele é suspeito de ter ligações com a organização FETO do pregador islâmico Fethullah Gulen.
Erdogan entrou em um ataque verbal: ele chamou as autoridades norte-americanas de "terroristas econômicos" que "atacam pelas costas". Ele pediu aos cidadãos turcos que trocassem dólares e euros por liras.
"Se os EUA continuarem nos pressionando com seu dólar, vamos nos voltar para novos mercados, parceiros e alianças, então responderemos ao homem que declarou guerra à Turquia", enfatizou ele a seus partidários.
Turquia não vai ficar sozinha
O crescente conflito turco-americano ainda não afetou as relações de Ancara com outros parceiros. Os países europeus adotaram uma atitude de esperar para ver e não comentaram a situação. Mas o Irã apoiou as autoridades turcas, acusando os EUA de pressão e extorsão.
"Teerã está interessada em uma política externa turca mais independente. Neste caso, Ancara não desistirá de seus interesses na compra de petróleo e gás iranianos, como exigido pelas sanções norte-americanas", explicou à Sputnik Timur Akhmetov, especialista russo em assuntos internacionais que reside na Turquia.
O cientista político turco, Aydin Sezer, vê no fortalecimento de contatos com a Rússia e o Irã tentativas de mostrar aos EUA que a Turquia tem outros parceiros.
"Isso não significa que Washington não seja mais importante, mas mesmo assim Ancara não ficará sozinha", comentou à Sputnik o especialista sobre a situação.
O apoio russo dá ao presidente turco a confiança na correção de suas ações.
"Ao mesmo tempo, a Rússia não se opõe abertamente às relações EUA-Turquia. No caso do acordo sobre a compra de sistemas de mísseis antiaéreos S-400, Moscou oferece uma alternativa às armas dos EUA, mas apenas depende das autoridades turcas se aceitarão ou não a proposta", disse Akhmetov.
O conflito entre a Turquia e os EUA é mais profundo do que contradições políticas e econômicas.
"Ancara há muito vem exigindo que Washington conte com seus interesses no Oriente Médio, mas nem a questão curda, nem o fornecimento vital do gás iraniano ao país, nem a regularização síria encontra resposta dos norte-americanos", afirma Orhan Gafarli, especialista do Centro de Pesquisa Política em Ancara.
"A natureza multivetorial da política externa é a principal mensagem das autoridades turcas, não a mudança de parceiros: a Europa e os EUA ainda representam cerca de 50% da circulação de mercadorias da Turquia, mas Moscou, Teerã, Pequim são áreas promissoras de cooperação, e o Ocidente terá que levar isso em conta", esclarece.
Prevendo o desenvolvimento do conflito turco-americano, os especialistas entrevistados pela Sputnik concordaram que, mais cedo ou mais tarde, os países chegarão a um acordo. Mas, ao contrário dos norte-americanos, os cidadãos turcos lembrarão por muito tempo o que aconteceu: a queda da lira depreciou drasticamente seus salários. E culpam os EUA por isso.
É possível superar a fase de pico da crise nas relações entre os dois países se a Turquia conseguir impedir que a economia caia. No entanto, as ações de apenas um país são insuficientes para mudança.