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Aliança com China e Rússia preserva Síria do colapso após 13 anos de crise, apontam analistas

© AP Photo / Hassan AmmarHomens sírios carregam sacos de pão na cabeça enquanto caminham de volta para suas casas no bairro de Bustan al-Qasr, no leste de Aleppo. Síria, 20 de janeiro de 2017
Homens sírios carregam sacos de pão na cabeça enquanto caminham de volta para suas casas no bairro de Bustan al-Qasr, no leste de Aleppo. Síria, 20 de janeiro de 2017 - Sputnik Brasil, 1920, 15.05.2024
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Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas apontam que a aliança com a Rússia preservou o governo de Bashar al-Assad durante a Primavera Árabe e que a Síria tem hoje na China um importante aliado para a reconstrução.
Há 13 anos a Síria é alvo de uma ação coordenada de terrorismo internacional contra o seu governo que já deixou pelo menos meio milhão de mortos, 7 milhões de refugiados e 6 milhões de deslocados, segundo dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A violência na Síria teve início durante os protestos da chamada Primavera Árabe, que varreu alguns países do Oriente Médio no início dos anos 2010. E apesar dos números exorbitantes, não há indício de mudança da situação no curto prazo no país, que, além dos conflitos, sofre com as inúmeras sanções ocidentais adotadas ao longo dos últimos anos.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas analisam como está a atual situação da Síria e da população do país afetada pela crise.
Muna Omran, doutora em teoria e história literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professora convidada de geopolítica da Ásia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), explica que o caso da Síria é diferente de outros países que vivenciaram confrontos durante a Primavera Árabe, como a Tunísia e a Líbia, por conta da infiltração do Daesh, o autodeclarado Estado Islâmico (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países), em território sírio.
"Então eu acho que quando se instala o Estado Islâmico na Síria, e conforme nós fomos vendo as atrocidades que eles iam cometendo, […] as agências internacionais tomaram mais cautela [em relação ao país]."
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Ela sublinha que se na Primavera Árabe a intenção era derrubar o presidente sírio, Bashar al-Assad, esse desejo não se concretizou e a ação acabou resultando no fortalecimento do presidente sírio nos anos seguintes.

"Então você tem o retorno de alguns refugiados, não vou dizer de todos, mas alguns refugiados […] ao seu país. Ele, de uma certa maneira, [acabou] politicamente fortalecido, […] em termos políticos, ele conseguiu se estabelecer. Você percebe na população, conversando com a população — que eu acho que é esse povo que tem que ser ouvido —, eles dizem, sempre a máxima é: ele [Assad] nos salvou do Estado Islâmico", explica.

Ela afirma que atualmente Assad está empenhado em obter auxílio financeiro para reconstruir o país, principalmente da China, que é "um dos maiores investidores no mundo todo".
"Eu sempre falo, a China vai pelas beiradinhas, e ele [Assad] percebe que a China, cada vez mais, tem um papel dominante no Oriente Médio […]. Então ele foi em busca de apoios bilaterais e também foi em busca de recuperar sua imagem internacionalmente."
Nesse contexto, Omran afirma que recentemente a China fez um acordo de colaboração estratégica com a Síria, que tem como meta o apoio à reconstrução do país.

"Assad fez uma visita à China logo que ele assumiu, mais ou menos em 2000. […] recentemente, ele voltou à China em busca desse apoio [financeiro] […]. Então você vê a Síria buscando a China por um apoio financeiro para essa reconstrução."

Por que a Síria não reagiu ao ataque de Israel à Embaixada do Irã em Damasco?

Questionada sobre por que o governo sírio não reagiu ao ataque de Israel à seção consular da embaixada iraniana em Damasco, realizado em 1º de abril, Omran afirma que "quando Israel ataca a embaixada iraniana na Síria, não foi [um ataque] em território sírio", mas, sim, iraniano. Ela acrescenta que a Síria, na situação atual, não teria força para reagir.
"As circunstâncias desse momento, que levam Israel a atacar qualquer ponto, em qualquer país árabe, a gente sabe que são uma busca do [Benjamin] Netanyahu [primeiro-ministro israelense] de chamar para a guerra os seus vizinhos e ele se perpetuar no poder. E a Síria não respondeu porque ela considera que esse ataque não foi em seu território. Ela poderia reagir, teria força para isso? Não. Neste momento, em que há uma reestruturação e o presidente Assad está buscando apoio de todos os seus vizinhos para a reconstrução do seu país, ele não vai se envolver em um conflito direto e armado com Israel", diz a especialista.
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Por sua vez, Andrew Traumann, professor de história das relações internacionais no Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba) e coordenador da pós-graduação em geopolítica da Ásia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), afirma que, "embora ainda tenha alguma ação residual no oeste da Síria", atualmente a presença do Irã é o único fator que faz com que o país ainda seja alvo de interferência externa.

"A Síria tem um papel muito importante nas relações com o Irã, […] existe um pacto de mútua defesa desde 2006, existe uma aliança desde 1980 entre a família Assad" e Teerã, explica o especialista.

A Síria se tornou um alvo por sua boa relação com a Rússia?

Traumann descarta a ideia de que a proximidade entre Rússia e Síria tenha feito do país um alvo ocidental. Ele destaca que a relação entre Rússia e Síria é antiga e vem desde os anos 1960, ainda na era da União Soviética, e que, na realidade, foi essa aliança que preservou Assad.

"Desde a época da União Soviética existe uma base marítima na cidade de Tartus, na Síria, que até hoje é a única base marítima russa fora do seu território. Nós temos que entender que 10% da população síria é cristã ortodoxa, que é o mesmo ramo do cristianismo seguido pelos russos, então aí também tem esse soft power de dizer que eles estão protegendo os cristãos da Síria."

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Ele afirma que se não fosse o presidente russo, Vladimir Putin, "Bashar al-Assad teria sido derrubado, sem sombra de dúvida", durante a Primavera Árabe.
"Ele [Assad] estava perdendo para o Estado Islâmico entre 2014 e 2015. Tínhamos também forças norte-americanas, sauditas, britânicas lutando pela derrubada do Bashar al-Assad."
Traumann avalia que a Primavera Árabe não deixou um legado positivo nos países afetados, ao contrário, muitos acabaram mergulhados em uma disputa interna pelo poder.
"Ela [Primavera Árabe] foi um fracasso total, como foi em praticamente todos os lugares", avalia o especialista. "Então, na verdade, quase todos os países da Primavera Árabe estão hoje piores do que estavam antes […]; a Líbia é um país que está em pedaços até hoje, é um país que se dividiu em quatro facções."
A situação gerou uma onda de migração de refugiados para a Europa, e, segundo Traumann, no caso da Síria, aqueles que conseguiram deixar o país hoje sofrem com a xenofobia no principal destino de refugiados do Oriente Médio, o continente europeu, por conta da ascensão de governos com agendas contra imigrantes.

"Agora o cidadão comum que ficou [na Síria] está tendo uma extrema dificuldade, porque a Síria é um país onde falta luz todos os dias, onde você não tem abastecimento de luz e de água regular. A economia não voltou a funcionar a pleno vapor, então também falta emprego. Enfim, é um país que, depois de 13 anos […], está ainda bem no início da sua reconstrução."

A opinião é compartilhada por Muna Omran, que aponta que embora algumas regiões hoje apresentem certo grau de normalidade, como Damasco, em outras, sobretudo no norte do país, a situação ainda é grave.

"Por exemplo, a falta de energia elétrica, que é um problema até hoje. Você vai ter uma inflação absurda, que é um problema que até hoje essa população vive. Então hoje, no quadro, há uma tentativa de retomada da normalidade, da retomada de colocar esse país de pé de novo, tanto que em 2020 […], quase dez anos depois, reabrem alguns museus em Damasco, começa a ser estimulado o turismo. Então os pontos turísticos foram sendo reabertos, o aeroporto foi reaberto, mas a população sofre muito ainda com a inflação, com a falta de energia, com a falta de alguns alimentos. É uma situação, não vou dizer precária, mas uma situação difícil."

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