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Aliança estratégica entre Rússia e China marca novo capítulo na geopolítica global, aponta analista

© Sputnik / Sergei Savostyanov / Acessar o banco de imagensO presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente chinês, Xi Jinping, na cerimônia de reunião dos chefes das delegações participantes do 3º Fórum do Cinturão e Rota, em Pequim, em 17 de outubro de 2023
O presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente chinês, Xi Jinping, na cerimônia de reunião dos chefes das delegações participantes do 3º Fórum do Cinturão e Rota, em Pequim, em 17 de outubro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 17.05.2024
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A visita oficial do presidente russo, Vladimir Putin, à China, a primeira de seu novo mandato, simboliza a consolidação das relações entre os países em um momento de mudanças na geopolítica global — o que deve ser benéfico, inclusive, para a América Latina e o Caribe.
O encontro reforça a aliança entre as nações e marca o 75º aniversário de suas relações diplomáticas, além de destacar a crescente importância do BRICS e do Sul Global na arena internacional.
O doutorando em relações internacionais pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas e membro pesquisador do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE) Tito Lívio Barcellos Pereira explica ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, que a história de cooperação entre Rússia e China não é nova, mas tem se fortalecido desde os anos 1990.
"A relação entre os dois países foi gestada desde o final dos anos 1990, quando houve uma inclinação russa não somente para a Ásia, mas também para o Sul Global", disse aos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, ressaltando a importância da parceria em resposta às tensões com o Ocidente, especialmente após o início do conflito na Ucrânia.

Qual a relação da China e Rússia?

A cooperação sino-russa vai além da política e da economia e abrange áreas como intercâmbio cultural e desenvolvimento tecnológico. O professor menciona que muitos observadores ocidentais subestimam a profundidade da relação, que se mostra sólida em várias frentes, desde a construção de usinas nucleares até exploração espacial e desenvolvimento de armas.
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A recente visita de Putin também reforçou a aliança dos dois países em relação ao conflito na Ucrânia, com ambos os líderes criticando o unilateralismo norte-americano e a hegemonia ocidental. Pereira destacou que, mesmo com críticas, China e Rússia enfatizam a necessidade de um diálogo multilateral para resolver conflitos globais, incluindo a questão ucraniana.

"China e outros países emergentes, como o Brasil e a África do Sul, podem ser mediadores importantes", diz, comentando que "propostas de paz de países como os da União Africana e a Indonésia foram rejeitadas por não se alinharem com os interesses ocidentais".

Além disso, a cooperação promete benefícios significativos para a América Latina e o Caribe, regiões mencionadas no comunicado oficial dos dois países. Pereira explica que a parceria pode impulsionar investimentos em infraestrutura, tecnologia e agricultura, áreas onde os países latino-americanos têm grande potencial para se beneficiar da expertise russa e chinesa.

"A cooperação para a América Latina e o Caribe pode trazer benefícios significativos, […] investimentos em infraestrutura, desenvolvimento de novas tecnologias e a terceirização de indústrias chinesas são apenas algumas das maneiras pelas quais essa parceria pode fortalecer a região."

Qual a participação da Rússia no BRICS?

No contexto do BRICS, para o pesquisador Tito Lívio Barcellos Pereira, a visita mostra a importância do grupo como um contrapeso à hegemonia euro-atlântica. "O BRICS está se metamorfoseando na segunda década do século XXI, agora incorporando novos países da África, do Oriente Médio e da Ásia", comentou.
Segundo o pesquisador, a inclusão de novos atores globais é essencial para um sistema internacional mais democrático e plural.
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Para o Brasil, a aliança representa uma chance de fortalecer sua posição no cenário global sem um alinhamento incondicional a um único bloco de poder, segundo Pereira. "O Brasil tem uma política externa equilibrada. Reconhecemos a importância dos EUA e da Europa, mas também vemos necessidade de uma voz mais forte de países emergentes nas decisões internacionais."

"A China, por exemplo, é agora o principal parceiro econômico do Brasil, com um superávit comercial que não temos com os EUA", observou. "Isso mostra a importância de estreitar relações com o Sul Global para uma maior possibilidade de intercâmbio comercial e tecnológico", completa.

A China, do presidente Xi Jinping, diz, ao contrário das potências ocidentais, não interfere nas políticas internas dos países com os quais colabora, tornando-se um parceiro atraente para muitas nações emergentes. "Os chineses não exigem contrapartidas políticas ou sociais, o que torna seus empréstimos e investimentos menos condicionados."

"O legado soviético ainda é forte na África, mas a China tem sido a principal investidora em infraestrutura e energia. No entanto a Rússia está recuperando terreno com projetos de usinas nucleares, ferrovias e mineração."

O professor Ricardo Cabral, especialista em relações internacionais, destaca o simbolismo de Putin escolher a China como primeiro destino. Normalmente, segundo ele, a primeira visita de um chefe de Estado recém-eleito é feita ao parceiro mais estratégico e importante.
Dono do portal História Militar em Debate, ele enfatiza a importância da parceria, que evoluiu significativamente desde a era soviética, superando antigas tensões. "Desde que Putin assumiu, temos um crescente intercâmbio, não apenas econômico. A China emergiu como uma potência econômica, e a Rússia também tem demonstrado um crescimento significativo."
A visita de Putin ocorre em um contexto de sanções ocidentais impostas à Rússia devido à operação especial na Ucrânia. Esses bloqueios têm, no entanto, reforçado os laços entre Moscou e Pequim, que se tornaram aliados ainda mais próximos, por exemplo na modernização industrial russa. "A China, junto com a Índia, tem sido um dos aliados mais fiéis da Rússia."
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Cabral destaca a importância estratégica dessa aliança na busca por um mundo multipolar que contesta a hegemonia norte-americana. "A superioridade norte-americana está em declínio, e essa aliança busca estabelecer um equilíbrio estratégico global."
A visita de Putin também foi marcada por declarações sobre a Iniciativa Cinturão e Rota e a União Econômica Eurasiática (UEE), o que indica, para o pesquisador, um desejo de mudar o eixo das relações econômicas globais. "China e Rússia estão criando novas áreas econômicas dinâmicas e interdependências que estimulam novas formas de relações econômicas."
Segundo Cabral, o impacto positivo na África e América Latina é evidente — enquanto a China foca a construção de infraestruturas que facilitem o comércio de commodities, a Rússia busca criar laços mais profundos, com intercâmbios culturais.
Em termos de comércio, o aumento de quase 25% nas trocas comerciais entre Rússia e China em 2023, atingindo US$ 227 bilhões (cerca de R$ 1,1 trilhão), é um indicativo claro do fortalecimento dessa aliança. Cabral prevê que, mesmo enquanto persistirem as sanções ocidentais, o comércio entre os gigantes continuará a crescer.
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