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Reconhecimento da Palestina é gesto insuficiente, diz especialista em Oriente Médio

© AP Photo / Emilio MorenattiMenino agita bandeira palestina enquanto manifestantes marcham durante protesto em apoio aos palestinos e pedindo um cessar-fogo imediato em Gaza. Barcelona, Espanha, 20 de janeiro de 2024
Menino agita bandeira palestina enquanto manifestantes marcham durante protesto em apoio aos palestinos e pedindo um cessar-fogo imediato em Gaza. Barcelona, Espanha, 20 de janeiro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 28.05.2024
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Para desgosto de Israel e dos Estados Unidos, a Palestina ganhou o apoio de três nações ocidentais nesta terça-feira (28): Espanha, Irlanda e Noruega. À Sputnik Brasil, especialistas avaliam a importância do reconhecimento por esses três países e o que isso representa para a ordem mundial.
Desde que a partilha da Palestina ocorreu, em 1947, criando os Estados de Israel e da Palestina, a maioria dos países ao redor do mundo reconheceu ambos. Atualmente, dos 193 países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), 146 já reconhecem a Palestina como um Estado.
Contudo a nação ainda luta pelo reconhecimento de certas potências. Dos membros do G7, por exemplo, nenhum admite o Estado palestino. Essa teimosia ocidental, entretanto, começa a mostrar sinais de desintegração com o reconhecimento pela Espanha, Irlanda e Noruega, promulgado hoje.
Para o professor do Instituto de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Vitor de Pieri, esses três países terão um peso importante no reconhecimento da Palestina dentro da ONU e na sua eventual ascensão a membro pleno da organização.
Policial atrás de uma bandeira da Catalunha e uma faixa com a imagem do ex-líder catalão Carles Puigdemont com a mensagem Puigdemont, nosso líder. Espanha, 24 de setembro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 16.05.2024
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Segundo De Pieri, cada um desses três países tem uma importância na geopolítica, sobretudo a europeia. A Noruega, explica o professor, pode não fazer parte da União Europeia (UE), mas é próxima do bloco e tem um histórico de tentar negociar um entendimento entre as partes em conflito no Oriente Médio, "marcado inclusive pelos Acordos de Oslo".
Motivado por "meses de guerra, ataques e genocídio", o governo norueguês agora adota uma política crítica em relação a Israel, acreditando que o país "não quer a negociação".
Já a Espanha é um país de destaque da União Europeia, sendo "uma convidada permanente no G20", diz De Pieri. O país ibérico, por sua vez, "possui uma perspectiva um pouco mais crítica" de Israel.

"O governo Sanchéz considera que Israel não tem um projeto para a Palestina, reconhecendo o governo palestino a partir dessa perspectiva. Com a ideia de que a Palestina deve ser um Estado para, então, ganhar espaço em definitivo na comunidade internacional."

Por sua vez, a Irlanda "é um país da União Europeia com uma renda per capita importante" e que vem ganhando cada vez mais espaço no bloco político-econômico, "principalmente com a saída do Reino Unido da UE".
Com um histórico de conflitos com o Reino Unido pela questão da Irlanda do Norte, a Irlanda já possui uma postura de maior respeito ao direito internacional, afirmou o especialista.
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Ainda que países da UE já tivessem reconhecido a Palestina, como Polônia, Grécia, República Tcheca e Romênia, esse novo aceite por parte de aliados ocidentais "é um primeiro passo para a quebra de paradigma dentro da União Europeia", afirma De Pieri.
Esses fatos, segundo o especialista, evidenciam que estamos em um momento "de decadência do mundo ocidental e com novas forças políticas surgindo: um Sul Global muito mais pungente do ponto de vista econômico e político".

"Um Sul Global que é representado pelo BRICS ampliado e que possui muito mais respeito às instituições supranacionais, às normas do direito internacional."

Pressões internas, repercussões externas

Silvia Ferabolli, professora e doutora em política e estudos internacionais pela Escola de Estudos Orientais e Africanos (SOAS, na sigla em inglês), da Universidade de Londres, classifica o reconhecimento oficial da Espanha, Irlanda e Noruega como um "gesto simbólico, mas só isso".
"Não tem tanta relevância internacional", disse.

"Estamos falando de países que há muito tempo vêm adotando posturas mais independentes, até porque são bastante irrelevantes no sistema. Então a posição deles não deve alterar muito as coisas."

Para Ferabolli, que também é coordenadora do Núcleo de Pesquisa sobre as Relações Internacionais do Mundo Árabe (Nuprima), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o que a Palestina precisa neste momento é que seus aliados "rompam todos os tipos de relações com Israel: diplomáticas, comerciais, econômicas, políticas e culturais".
"Começando logicamente pela Liga Árabe", destacou a especialista. "Mas quem vai pôr o guizo no gato?", questionou.
De acordo com a pesquisadora, muitos países estão esperando uma "ação dos EUA, como se fosse um pai, um Leviatã, que vai agir e responder ao problema". Só que isso, sublinha, "não vai acontecer, porque quem dita as regras da política externa norte-americana para o Oriente Médio é o lobby sionista israelense em Washington, e não os interesses nacionais".
Ainda assim, há um lado positivo nesse reconhecimento que deve ser destacado, na opinião de Ferabolli: o fato de esses três países terem acatado os anseios do público interno demonstra que "a causa palestina ainda é passível de ser mobilizada por grupos de pressão em vários lugares do mundo".

"É uma causa que mobiliza a política em nível internacional, ao ponto de países que tradicionalmente não têm nada a ver com a política do Oriente Médio se pronunciarem a favor da criação e reconhecerem a criação do Estado palestino."

Esse reconhecimento, afirma De Pieri, "traz esse debate mais a fundo para a União Europeia".
Para o pesquisador da UERJ, a iniciativa desses três países pode pressionar os Estados Unidos, a França e o Reino Unido a reconhecerem a Palestina, ainda que de forma mais lenta. "Especialmente na França, uma vez que o país possui cerca de 10% da população muçulmana."
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"Esse genocídio cometido pelo governo [do primeiro-ministro Benjamin] Netanyahu vai contribuir ainda mais com uma adesão crescente dos países ao reconhecimento da Palestina como Estado. E isso vai rebater certamente na posição dela dentro da Assembleia Geral da ONU."
Atualmente a Palestina possui a mesma posição do Vaticano na ONU, isto é, de Estado observador não membro.
Mesmo que consiga o reconhecimento na ONU, afirma Ferabolli, o que a Palestina mais precisa agora "é que se cumpram as leis que já existem de direito internacional e que se pare Israel imediatamente, com responsabilização, julgamento e punição pelos seus crimes de guerra".
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