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Analista: encontro do BRICS na Rússia mostra caminho da desdolarização e busca por mundo multipolar

© Sputnik / Grigory SysoevDa esquerda para a direita, responsáveis de Relações Exteriores de vários países: Dammu Ravi, da Índia; Sameh Shoukry, do Egito; Naledi Pandor, da África do Sul; Wang Yi, da China; Sergei Lavrov, da Rússia; Mauro Vieira, do Brasil; Abdullah bin Zayed Al Nahyan, dos Emirados Árabes Unidos; Taye Atskeselassie, da Etiópia; e Ali Bagheri, do Irã, durante foto conjunta para a reunião de ministros das Relações Exteriores do BRICS, em Nizhny Novgorod. Rússia, 10 de junho de 2024
Da esquerda para a direita, responsáveis de Relações Exteriores de vários países: Dammu Ravi, da Índia; Sameh Shoukry, do Egito; Naledi Pandor, da África do Sul; Wang Yi, da China; Sergei Lavrov, da Rússia; Mauro Vieira, do Brasil; Abdullah bin Zayed Al Nahyan, dos Emirados Árabes Unidos; Taye Atskeselassie, da Etiópia; e Ali Bagheri, do Irã, durante foto conjunta para a reunião de ministros das Relações Exteriores do BRICS, em Nizhny Novgorod. Rússia, 10 de junho de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 11.06.2024
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A reunião dos chanceleres do BRICS, realizada na histórica cidade russa de Nizhny Novgorod, mostrou caminhos em busca da desdolarização e por um mundo com multipolaridades, segundo Henrique Domingues, analista e conselheiro internacional do Fórum dos Municípios do BRICS.
Havia grande expectativa, segundo ele, por ser a primeira reunião no formato ampliado desde a cúpula de Joanesburgo.
Em entrevista aos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, do podcast Mundioka, ele destaca que a implementação de um novo sistema de pagamentos internacionais foi um dos destaques.
Isso permitiria aos países-membros realizar transações comerciais em suas moedas locais, o que pode reduzir a dependência do dólar americano e fortalecer a soberania econômica dos países do BRICS.
O conceito de um mundo policêntrico também foi mencionado pelo chanceler russo, Sergei Lavrov. Domingues explicou que, para o ministro, trata-se de um sinônimo de multipolaridade, onde diversas regiões, anteriormente marginalizadas no cenário geopolítico, começam a emergir como novos polos de influência.
A América do Sul, representada pelo Brasil, a África, com a participação de Egito, Etiópia e África do Sul, e o Oriente Médio, com a inclusão de Irã e Arábia Saudita, foram citados por Domingues como exemplos desses novos polos.
Ele observa que a participação da Arábia Saudita ainda está envolta em incertezas, possivelmente devido a pressões ocidentais relacionadas ao petróleo. "Há uma pressão significativa por parte dos Estados Unidos para que a Arábia Saudita não se envolva profundamente com o BRICS."
Outro ponto de discussão foi a posição neutra adotada pelos Emirados Árabes Unidos em relação ao conflito russo-ucraniano. Domingues explicou que, embora todos os membros do BRICS advoguem pela paz e resolução diplomática, os Emirados mantêm uma postura neutra devido às suas relações econômicas tanto com a Rússia quanto com o Ocidente.
Domingues ressalta que o grupo tem capacidade política de influenciar a Organização das Nações Unidas (ONU) em busca de soluções de paz, embora reconheça que a própria estrutura da entidade necessita de reformas. "O BRICS defende uma reforma das instituições globais desde suas primeiras cúpulas, buscando uma ONU mais democrática e representativa."

O que é o processo de desdolarização?

Termo utilizado para descrever a tendência de determinados países ao buscar redução na dependência do dólar dos EUA em transações comerciais internacionais, o conceito é uma das pautas defendidas no encontro por Domingues.
Ele acredita que essa mudança está em curso, embora de forma gradual. Ele citou que a Rússia e a China já operam mais de 90% de seu comércio bilateral sem usar o dólar, e o Brasil tem estabelecido acordos comerciais com a China em yuan e real. "A desdolarização permitirá que países que sofrem com a influência do dólar recuperem sua soberania financeira", afirma.
Contudo, Domingues ressalta que o dólar ainda é a "grande muleta da economia internacional" e que a transição a um sistema desdolarizado pode levar tempo, a depender da vontade política dos agentes envolvidos e da reação de outros países. "A Rússia e o Irã são exemplos de países que conseguiram resistir às sanções ocidentais utilizando sistemas financeiros alternativos."
Em relação à multipolaridade, ele entende que ela só será possível com o fortalecimento do BRICS, que garantirá equilíbrio e democratização de relações internacionais. "A multipolaridade emana dos países BRICS. Sem o BRICS, não há multipolaridade. Os países BRICS não apenas representam suas nações, mas lideram associações regionais, consolidando influência e posição na nova ordem geopolítica", explica.
Domingues também menciona que a inclusão de países como Venezuela e Cuba no BRICS pode ser estratégica, não apenas devido aos recursos naturais e à localização geográfica, mas também por seu alinhamento ideológico. "Esses países sustentam a ideia de multipolaridade anti-imperialista e anticolonialista, o que fortalece a posição do BRICS na geopolítica mundial", diz.
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O que é a expansão do BRICS?

O encontro também discutiu a expansão do BRICS, com novos países expressando interesse em se juntar ao bloco. Domingues mencionou que 12 países, incluindo Laos, Vietnã e Turquia, manifestaram formalmente sua intenção de adesão.
No entanto, ele destacou que, após a recente expansão, ainda não está claro como esses novos membros serão integrados e como o bloco funcionará. "Será necessário algum tempo para entender e estabilizar o novo formato ampliado do BRICS", comenta.
Questionado sobre possíveis critérios de adesão e expulsão de países do BRICS, ele afirma que, até o momento, nenhum país foi formalmente recusado. A única exceção foi a tentativa fracassada da França de se juntar ao bloco. Segundo ele, embora ainda não existam diretrizes claras para a expulsão, infrações graves, como a interferência em outro país-membro, poderiam potencialmente levar a discussões sobre a retirada de um país do bloco.
Sobre a atuação dos novos membros, o analista observa que eles ainda estão se ambientando e esperando o desenrolar dos eventos da cúpula de 2024 para se posicionarem adequadamente.
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Qual a importância da Agenda 2030 para o meio ambiente?

No encontro foi abordada a implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, definida pela ONU. Henrique Domingues destaca a complexidade e a abrangência das ações necessárias para enfrentar a crise climática global. Ele explica que a agenda estabelece objetivos de desenvolvimento sustentável que devem ser alcançados até 2030.
"Diante do colapso climático, todos os países participantes precisam mobilizar recursos internos para estabelecer parâmetros e diretrizes que permitam um progresso significativo até 2030", afirma.
O analista cita exemplos práticos como a substituição de veículos movidos a combustíveis fósseis por elétricos e a transição de energias sujas para limpas, enfatizando o papel da China nessa transformação.
No entanto, destaca o dilema enfrentado pelo Brasil, país rico em petróleo, sobre como equilibrar a exploração desses recursos com a necessidade de promover energias sustentáveis. Ele sugeriu a busca por uma exploração sustentável do petróleo como solução intermediária.

"Precisamos empregar não apenas recursos econômicos e políticos, mas também científicos para encontrar um meio-termo nessa transição sem sacrificar o desenvolvimento econômico", completa.

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Qual a situação da China no BRICS?

Na reunião, o chanceler chinês Wang Yi destacou três pontos principais sobre a importância da união entre os países em desenvolvimento para enfrentar desafios de segurança e criar oportunidades em tempos de crise.
Domingues menciona que, embora a autossuficiência total dos países do BRICS ainda exija análise econômica mais aprofundada, há indicativos de que isso poderia ser possível. "A Rússia, mesmo com mais de 18 mil sanções, conseguiu se desenvolver e recentemente ultrapassou o Japão em paridade de poder de compra", exemplifica.

"A China lidera esse indicativo econômico mundialmente. Se pegarmos esses exemplos, pode-se dizer que os países BRICS podem se tornar autossuficientes, talvez não imediatamente, mas em um futuro próximo, dado um período de transição e o avanço nos estudos para a criação de um sistema de pagamento em moedas locais", afirma.

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