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Análise: rusga entre Alemanha e Itália atrasa envio de blindado comprado pelo Exército Brasileiro
Análise: rusga entre Alemanha e Itália atrasa envio de blindado comprado pelo Exército Brasileiro
Sputnik Brasil
Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas afirmam que a retenção do Centauro II no porto de Hamburgo é fruto de divergências entre os dois países europeus... 03.07.2024, Sputnik Brasil
2024-07-03T16:37-0300
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Adquirido pelo Exército do Brasil para a renovação da frota terrestre, o Centauro II-BR, também chamado de Veículo Blindado de Combate de Cavalaria (VBC Cav), está retido no porto de Hamburgo, na Alemanha.Fabricado na Itália pelo Consórcio IVECO-Oto Melara (CIO), que venceu o processo de licitação para a compra de 98 unidades do Centauro II-BR, no valor de R$ 5 bilhões, o blindado passa por uma fase de testes antes de a compra ser finalizada. A primeira avaliação técnica foi feita na Itália, por engenheiros brasileiros, e já tem 80% das etapas concluídas. A segunda fase é feita no Brasil, com testes em situação de combate no terreno brasileiro, que tem características diferentes do da Itália.O veículo deveria ter desembarcado no Brasil em 20 de junho, mas ficou retido no porto de Hamburgo por conta de ausência de documentação. A expectativa era que os trâmites alfandegários fossem solucionados até a última terça-feira (2), o que não ocorreu. O Exército não informou os motivos do novo adiamento para o envio, mas destacou que o embarque segue dentro do prazo estabelecido para a aquisição dos veículos. Em Hamburgo, a justificativa dada foi falta de documentação.O caso ganha contornos políticos, uma vez que o blindado foi retido em um porto da Alemanha, que em fevereiro de 2023 vetou a exportação de 28 blindados Guarani, desenvolvidos pelo Exército do Brasil junto com a IVECO, para as Filipinas, medida vista na época pelo governo Lula como retaliação ao Brasil por conta da recusa do governo brasileiro em vender munição de tanques para Berlim repassar à Ucrânia em seu confronto com a Rússia.Em entrevista à Sputnik Brasil, Pedro Paulo Rezende, especialista em assuntos militares, explica que há um aspecto político no caso, mas não envolvendo o governo brasileiro, e sim a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, e o chanceler alemão, Olaf Scholz.Ele acrescenta que a Alemanha acusa a Itália de não fornecer o suficiente para o conflito na Ucrânia, então "usou um subterfúgio, que foi a falta de um documento relativo ao impacto ambiental, para bloquear o Centauro II em Hamburgo"."O que é engraçado é que a Itália resolveu enviar [o tanque] para [o porto de] Hamburgo para antecipar a entrega do blindado ao Brasil. Eles só teriam navios em La Spezia rumo ao Brasil, 20 dias depois da saída do navio de Hamburgo. Então a tentativa de acelerar o processo de entrega do blindado ao Brasil terminou atrasando a entrega do blindado", afirma o especialista.Fabrício Schiavo Avila, doutor em ciência política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e presidente do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), ressalta que a aquisição do Centauro II é um passo importante na modernização da frota terrestre "porque serviria como apoio para a infantaria, para o reconhecimento blindado e como um caça-tanques"."O carro de combate apresenta um bom emprego dos recursos à disposição das Forças Armadas brasileiras por apresentar essas três funções em um único armamento. Os brasileiros, russos e franceses possuem muita experiência no manejo de blindados com rodas em vez de lagartas. O veículo é bem adaptado ao tamanho do Brasil, e sua velocidade de mais de 100 km/h e seu alcance de quase 800 km atendem aos requisitos de nossas dimensões continentais. Em princípio, não torna o Centauro II tão dependente do transporte aéreo", explica.Ele destaca que o Brasil possui cerca de 408 blindados de reconhecimento EE-9 Cascavel, segundo o Balanço Militar de 2021 do Instituto Estratégico de Londres. Segundo Avila, existem programas de modernização do EE-9 Cascavel, "mas os próprios materiais se deterioram com o passar do tempo".Avila enfatiza que o caso envolvendo o Centauro II, em princípio, demonstra a fragilidade do Brasil em depender de fornecedores externos para a modernização de suas tropas."A dependência da aquisição no exterior de um veículo de mesma categoria do Cascavel EE-9, como o Centauro II, pode passar por constrangimentos. Principalmente as normas europeias comuns de exportação, que são mais rígidas que em outros lugares e cujos armamentos possuem regras mais específicas. Ao mesmo tempo, cabe lembrar que a possibilidade de efetivação do acordo entre União Europeia e Mercosul poderia diminuir os entraves burocráticos. As mudanças de armamentos nas tropas em tempo de paz são de médio prazo, e o treinamento da tropa não é tão simples."Avila julga que "toda ação é política, e a retenção dos blindados Centauro II demonstra os receios da Alemanha frente à modernização das Forças Armadas brasileiras".Ele afirma que a retenção dos blindados Centauro II no porto de Hamburgo possui um simbolismo mais amplo, ao indispor os alemães com seus aliados italianos frente a uma exportação para o Brasil."Consequentemente, os próximos blindados deverão sair de portos italianos e se tornar mais um fator de afastamento entre Alemanha e Itália, que já não possuem a mesma sintonia em relação à condução da OTAN no conflito da Ucrânia."Ele afirma que o Brasil precisa "reduzir sua dependência do exterior na fabricação de blindados e diversificar as opções de aquisição de armamentos".
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Análise: rusga entre Alemanha e Itália atrasa envio de blindado comprado pelo Exército Brasileiro
16:37 03.07.2024 (atualizado: 16:02 04.07.2024) Especiais
Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas afirmam que a retenção do Centauro II no porto de Hamburgo é fruto de divergências entre os dois países europeus em relação ao conflito ucraniano, e que o caso expõe a necessidade de o Brasil reduzir a dependência externa na fabricação de blindados.
Adquirido pelo Exército do Brasil para a renovação da frota terrestre, o Centauro II-BR, também chamado de Veículo Blindado de Combate de Cavalaria (VBC Cav),
está retido no porto de Hamburgo, na Alemanha.
Fabricado na Itália pelo Consórcio IVECO-Oto Melara (CIO), que venceu o processo de licitação para a compra de 98 unidades do Centauro II-BR, no valor de R$ 5 bilhões, o blindado passa por uma fase de testes antes de a compra ser finalizada. A primeira avaliação técnica foi feita na Itália, por engenheiros brasileiros, e já tem 80% das etapas concluídas. A segunda fase é feita no Brasil, com testes em situação de combate no terreno brasileiro, que tem características diferentes do da Itália.
O veículo deveria ter desembarcado no Brasil em 20 de junho, mas ficou retido no porto de Hamburgo por conta de ausência de documentação. A expectativa era que os trâmites alfandegários fossem solucionados até a última terça-feira (2), o que não ocorreu. O Exército não informou os motivos do novo adiamento para o envio, mas destacou que o embarque segue dentro do prazo estabelecido para a aquisição dos veículos. Em Hamburgo, a justificativa dada foi falta de documentação.
O caso ganha contornos políticos, uma vez que o blindado foi retido em um porto da Alemanha, que em fevereiro de 2023 vetou a exportação de 28 blindados Guarani, desenvolvidos pelo Exército do Brasil junto com a IVECO, para as Filipinas, medida vista na época pelo governo Lula como retaliação ao Brasil por conta da recusa do governo brasileiro em vender munição de tanques para Berlim repassar à Ucrânia em seu confronto com a Rússia.
Em entrevista à
Sputnik Brasil, Pedro Paulo Rezende, especialista em assuntos militares, explica que há um aspecto político no caso, mas não
envolvendo o governo brasileiro, e sim a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, e o chanceler alemão, Olaf Scholz.
"A questão da retenção do Centauro está muito mais ligada a problemas entre a Itália e a Alemanha do que entre a Alemanha e o Brasil. Nós já conseguimos consertar nossa relação com a Alemanha em relação à exportação dos Guaranis para as Filipinas. A Alemanha forneceu os equipamentos necessários, e eles, hoje em dia, já foram entregues ao Exército filipino. Então o problema maior é entre a Itália e a Alemanha."
Ele acrescenta que a Alemanha acusa a Itália de não fornecer o suficiente para o conflito na Ucrânia, então "usou um subterfúgio, que foi a falta de um documento relativo ao impacto ambiental, para bloquear o Centauro II em Hamburgo".
"O que é engraçado é que a Itália resolveu enviar [o tanque] para [o porto de] Hamburgo para antecipar a entrega do blindado ao Brasil. Eles só teriam navios em La Spezia rumo ao Brasil, 20 dias depois da saída do navio de Hamburgo. Então a tentativa de acelerar o processo de entrega do blindado ao Brasil terminou atrasando a entrega do blindado", afirma o especialista.
Fabrício Schiavo Avila, doutor em ciência política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e presidente do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), ressalta que a aquisição do Centauro II é um
passo importante na modernização da frota terrestre
"porque serviria como apoio para a infantaria, para o reconhecimento blindado e como um caça-tanques".
"O carro de combate apresenta um bom emprego dos recursos à disposição das Forças Armadas brasileiras por apresentar essas três funções em um único armamento. Os brasileiros, russos e franceses possuem muita experiência no manejo de blindados com rodas em vez de lagartas. O veículo é bem adaptado ao tamanho do Brasil, e sua velocidade de mais de 100 km/h e seu alcance de quase 800 km atendem aos requisitos de nossas dimensões continentais. Em princípio, não torna o Centauro II tão dependente do transporte aéreo", explica.
29 de janeiro 2023, 13:34
Ele destaca que o Brasil possui cerca de 408 blindados de reconhecimento EE-9 Cascavel, segundo o Balanço Militar de 2021 do Instituto Estratégico de Londres. Segundo Avila, existem programas de modernização do EE-9 Cascavel, "mas os próprios materiais se deterioram com o passar do tempo".
"Existem blindados com quase 40 anos de uso, e o armamento passa a ser perigoso para as tropas. A aquisição de 98 Centauros representa a substituição de 25% dessa força, ou seja, o Brasil ainda teria uma trajetória […] que demandaria mais gastos para a modernização de sua força de blindados de mesma categoria. Consequentemente, a fabricação no Brasil de carros de combate de diferentes tipos e a diversificação de países fornecedores pode diminuir muito os custos, gerar empregos, tecnologia e reduzir a dependência externa."
Avila enfatiza que o caso envolvendo o Centauro II, em princípio, demonstra a fragilidade do Brasil em depender de fornecedores externos para a modernização de suas tropas.
"A dependência da aquisição no exterior de um veículo de mesma categoria do Cascavel EE-9, como o Centauro II, pode passar por constrangimentos. Principalmente as normas europeias comuns de exportação, que são mais rígidas que em outros lugares e cujos armamentos possuem regras mais específicas. Ao mesmo tempo, cabe lembrar que a possibilidade de efetivação do acordo entre União Europeia e Mercosul poderia diminuir os entraves burocráticos. As mudanças de armamentos nas tropas em tempo de paz são de médio prazo, e o treinamento da tropa não é tão simples."
Avila julga que "toda ação é política, e a retenção dos blindados Centauro II demonstra os receios da Alemanha frente à modernização das Forças Armadas brasileiras".
"A conjuntura da operação militar especial na Ucrânia constrange os Estados a se aproximarem do BRICS ou da [Organização do Tratado do Atlântico Norte] OTAN, e essas ações costumam pressionar os países sul-americanos. No âmbito da política interna alemã, a frente Aliança 90/Verdes está perdendo espaço, e a retenção do carro de combate no porto pode representar algum tipo de preocupação com questões mais pacifistas que estavam na pauta da sociedade antes de 2022."
Ele afirma que a retenção dos blindados Centauro II no porto de Hamburgo possui um simbolismo mais amplo, ao indispor os alemães com seus aliados italianos frente a uma exportação para o Brasil.
"Consequentemente, os próximos blindados deverão sair de portos italianos e se tornar mais um fator de afastamento entre Alemanha e Itália, que já não possuem a mesma sintonia em relação à condução da OTAN no conflito da Ucrânia."
Ele afirma que o Brasil precisa "reduzir sua dependência do exterior na fabricação de blindados e diversificar as opções de aquisição de armamentos".
"A aquisição de veículos autopropulsados de artilharia pelo Exército Brasileiro apresenta um exemplo, onde participaram do processo vários países, como a China. Dentro do BRICS, a própria Índia é muito dependente de fornecedores externos, mas além da transferência de tecnologia, o armamento é produzido localmente. Novamente, a Alemanha demonstra que o Brasil necessita repensar seu programa de modernização de blindados para reduzir a dependência do exterior, diversificar parcerias com outros países e fortalecer a indústria nacional", conclui o especialista.
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