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Não é a idade: relembre 4 decisões de Biden que contribuíram para minar sua busca pela reeleição

© AP Photo / Susan WalshJoe Biden discursa na 115ª Convenção Nacional da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês), em Las Vegas. EUA, 16 de julho de 2024
Joe Biden discursa na 115ª Convenção Nacional da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês), em Las Vegas. EUA, 16 de julho de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 18.07.2024
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A Sputnik Brasil lista quatro grandes equívocos que arranharam a imagem do presidente norte-americano frente ao eleitorado e conversa com especialista que analisa como o fracasso dessas ações levou ao atual cenário de dúvidas em relação à capacidade de Joe Biden exercer um bom segundo mandato.
A insistência do presidente dos EUA em manter sua candidatura à reeleição contrasta com o percentual de eleitores que pedem que ele desista e se retire da corrida presidencial. Uma pesquisa recente, encomendada pelos meios ABC News/The Washington Post, apontou que 67% dos eleitores — percentual que representa dois em cada três americanos — acreditam que Biden deveria se retirar da disputa.
Somadas a isso estão pressões dentro do próprio Partido Democrata pela desistência de Biden. A mais recente veio da ex-presidente da Câmara dos Representantes dos EUA Nancy Pelosi, que em um telefonema a Biden afirmou ao presidente que ele está "arrastando os democratas para baixo". Biden, no entanto, se manteve na defensiva e afirmou ter visto pesquisas que indicavam chances de sua vitória.
A Sputnik Brasil listou decisões anteriores do presidente americano que mostram que não é apenas a idade que resultou na crítica situação de sua candidatura, e conversou com Nathana Garcez Portugal, doutoranda em relações internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas, para entender o que leva o presidente americano a insistir em se manter na disputa e se isso poderia ser considerado mais um equívoco.

1. Sanções à Rússia: Biden mirou em Moscou e atingiu a economia global

Em 2020, Biden chegou ao poder prometendo, entre outras coisas, a retomada da economia americana. Porém sua gestão foi marcada pelo aumento da inflação, que atualmente gira em torno de 2,9%, após alcançar um pico de 8,6%, o maior percentual em 40 anos. Ademais, quase metade dos americanos que responderam a uma pesquisa recente afirmaram acreditar que estão em pior situação financeira desde que Biden chegou à Casa Branca.
Nathana Garcez Portugal ressalta que os quatro anos do governo Biden obtiveram alguns ganhos no âmbito interno, principalmente na economia dos EUA. Porém ela afirma que esses ganhos foram minados pelo conflito ucraniano e agora também pelo cenário na Faixa de Gaza. Ela destaca que as sanções em relação à Rússia "pressionaram economicamente o mundo, impactaram fortemente na inflação a nível mundial".

"Houve um aumento da inflação em decorrência desse conflito, em decorrência dessas sanções, e obviamente os EUA, como parte do sistema internacional, acabam sendo afetados por esse aumento da inflação, que acaba comendo parte dos ganhos econômicos do governo Biden. E nesse sentido, sim, a política externa do presidente Biden acaba implicando na sua busca pela reeleição, visto que a percepção da população americana é que não necessariamente as condições de vida melhoraram nesses quatro anos", explica.

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Ela acrescenta que outra questão que afeta a agenda externa de Biden e impacta em sua campanha é o fato de que grande parte do eleitorado americano é contra o envolvimento dos EUA no conflito ucraniano, e de que o eleitorado jovem é contra o apoio do governo americano à ofensiva de Israel na Faixa de Gaza. Em contraponto, ela afirma que Biden sofre uma pressão muito forte da indústria bélica e de setores pró-Israel para que se mantenha envolvido nesses conflitos.

"Então o governo Biden hoje se encontra em uma posição muito complexa, muito difícil de gerenciar. De maneira geral, com certeza a agenda externa dele está impactando na sua busca pela reeleição, sim, porque ainda que ele esteja fazendo alguns acenos para alguns setores econômicos, ele está vendo o apoio em certos setores eleitorais, que são setores eleitorais muito importantes, como o próprio eleitorado jovem, se afastar dele."

2. Falhas em conter o salto na imigração

A questão da imigração é antiga nos EUA, e nela Biden e Donald Trump, seu maior adversário, divergem. Diferentemente da gestão Trump, Biden implementou uma política de não separar famílias de imigrantes que chegam ao país. Porém o presidente americano acabou envolto em um embate com o governador do Texas, o republicano Greg Abbott, em relação à entrada de imigrantes pela fronteira com o México.
Segundo um levantamento publicado em maio, cerca de 1,6 milhão de imigrantes conseguiram entrar nos EUA de forma ilegal pela fronteira sul do país durante a administração Biden. Para tentar conter a imigração, em dezembro de 2023 Abbott tomou a controversa decisão de ordenar a Guarda Nacional do Texas a colocar cercas de arame farpado na região do Rio Grande, ponto por onde grande parte dos imigrantes entra no país. Em janeiro, Biden determinou a retirada da cerca, decisão que foi referendada pela Suprema Corte dos EUA.
Posteriormente, mirando as eleições, Biden emitiu uma nova ordem executiva proibindo imigrantes que cruzam ilegalmente a fronteira sul dos EUA de solicitarem asilo no país. As restrições, no entanto, não tinham um potencial significativo para conter o fluxo de migrantes, conforme afirmou na época à Sputnik o ex-vice-comissário interino da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA Ronald Vitiello. Segundo ele, as medidas foram tomadas tarde demais.
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Nathana afirma considerar o tema da imigração sensível e um dos pontos nevrálgicos da administração Biden.

"As questões econômicas que foram afetadas pela agenda externa são […] pontos-chave ali para a candidatura do presidente Biden. Isso sem falar de questões muito sensíveis, como a de imigração nos Estados Unidos, em que Biden tem sido muito criticado também nos últimos anos por políticas extremamente ineficientes", diz a especialista.

3. Apoio à ofensiva israelense em Gaza

Contrariando o posicionamento de muitos de seus aliados ocidentais, os EUA mantiveram o apoio a Israel no âmbito da ofensiva na Faixa de Gaza e atuaram como voz de Tel Aviv no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), barrando uma série de resoluções que pediam o cessar-fogo no enclave. Somente quando a defesa incondicional de Tel Aviv se tornou insustentável Biden passou a exigir moderação do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Questionada sobre o tema, Nathana afirma que essa demora prejudicou a imagem do presidente americano, sobretudo entre a população jovem dos EUA. Ela destaca que as violações dos direitos humanos por parte de Israel na Faixa de Gaza foram extremamente bem documentadas e lembra que há documentos oficiais que apontaram a morte de pelo menos 15 mil crianças no enclave, além do assassinato de jornalistas que cobriam o conflito, o que é considerado crime de guerra.

"E a demora do presidente Biden a se posicionar, e não apenas essa demora, mas a falta de ações efetivas para diminuir essas violações humanitárias na Faixa de Gaza, mas não apenas na Faixa de Gaza, ali na Palestina, elas acabam prejudicando muito a imagem de Biden, principalmente com o eleitorado jovem, que é um eleitorado americano mais próximo, mais favorável, digamos assim, à causa palestina", explica a especialista.

4. Insistência em manter a campanha à reeleição

O primeiro debate presidencial entre Trump e Biden expôs a fragilidade de saúde do presidente americano. Posteriormente, gafes em outras aparições públicas, nas quais Biden parecia perdido ou esquecia nomes de pessoas importantes de sua administração, chamaram a atenção do eleitorado e de aliados do próprio Partido Democrata, que passaram a pressionar o presidente para desistir da reeleição.
Questionada sobre por que Biden insiste em se manter na disputa, Nathana diz acreditar que a insistência é de cunho pessoal.

"Ele deu uma entrevista recente em que dizia entender que, em um primeiro momento, a ideia dele era ser um presidente de transição, mas que observando o cenário atual dos EUA, na avaliação dele ele ainda tinha muito o que realizar. Então eu acredito, e isso foi demonstrado publicamente pelo presidente Biden, que existe um motivo pessoal forte para ter se apegado ao cargo e que tem um interesse pessoal de se manter nele por quanto tempo for possível."

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Ela acrescenta que de fato ainda há chances de Biden virar a disputa, mesmo após o atentado contra Trump, já que os votos nos EUA são muito estratificados e as primeiras pesquisas após o ocorrido não mostraram uma mudança tão forte a favor do candidato republicano. Mas, segundo ela, tudo depende de "como a equipe de Biden vai moldar ele e a sua campanha para o eleitorado americano".
Entretanto ela pontua que hoje "um dos fatores que têm abalado muito o eleitorado são essas aparições públicas" de Biden, que ela afirma acreditar que sejam um último ponto de dúvida.

"Se o eleitorado está indeciso, ele não vê exatamente as melhoras que foram prometidas quatro anos atrás em relação a Biden, ele fica mais indeciso ainda quando ele não tem certeza se Biden vai ter o vigor físico e mental para traçar políticas que conquistem melhorias para a população americana nos próximos quatro anos", explica.

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