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Quem são os Lobos Cinzentos, o movimento turco que causa temor na Europa?
Quem são os Lobos Cinzentos, o movimento turco que causa temor na Europa?
Sputnik Brasil
Em entrevista ao podcast internacional da Sputnik Brasil, analistas explicam como a xenofobia e a repressão à comunidade turca na Europa servem de combustível... 17.10.2024, Sputnik Brasil
2024-10-17T11:35-0300
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Os governos da Turquia e da Alemanha trocaram farpas recentemente por causa dos Lobos Cinzentos, um movimento radical de direita turco. O pivô da polêmica foi um gesto feito pelo jogador de futebol turco Merih Demiral, após fazer o gol da vitória da Turquia em uma partida contra a Áustria pela Eurocopa.Após o gol, Demiral fez um gesto com as mãos conhecido como "saudação do lobo", que simula a cabeça de um lobo, provocando forte polêmica e resultando em sua suspensão por duas partidas. Por conta do incidente, o governo alemão convocou o embaixador turco a dar explicações, e a ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, afirmou que "usar torneios de futebol como plataforma para o racismo é completamente inaceitável".A punição a Demiral se deu porque o movimento Lobos Cinzentos é banido ou têm a atuação limitada em vários países da Europa, incluindo Áustria, França e Alemanha, por serem acusados de perseguir minorias na Turquia.O governo turco, por sua vez, reagiu ao episódio acusando a Alemanha de xenofobia. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, saiu em defesa de Demiral, questionando: "Alguém pergunta por que a camisa nacional alemã tem uma águia ou a camisa francesa tem um galo?"Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas explicam quem são os Lobos Cinzentos e por que causam tanto temor aos países europeus.Lohanna Reis, bacharel em relações internacionais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em ciência política e relações internacionais pela Istinye University, em Istambul, afirma que o gesto feito por Demiral é polêmico para quem desconhece a história por trás dele.Ela explica que embora seja acusado de "associação com um grupo chamado Lobos Cinzentos, que é um grupo extremista, que também utiliza o lobo como emblema", o gesto não necessariamente remete ao grupo, tendo sido usado pela primeira vez por uma tribo turca em 174 a.C., "com um significado bem diferente do que está se falando na mídia ultimamente".Ela ressalta, no entanto, que historiadores turcos reforçam que apesar da tentativa do grupo ultrarradical de se apropriar do gesto, ele não tem relação com o extremismo. "Por essa razão, a decisão de investigar o gesto foi bem criticada pelo governo turco, e o Ministério das Relações Exteriores da Turquia considerou a investigação injusta."Quem são os Lobos Cinzentos?Reis afirma que os Lobos Cinzentos são um grupo da Turquia ultranacionalista de direita, que acredita que os turcos são parte de uma nação maior, que deve se unir politicamente. Ela enfatiza que a etnia turca não abrange apenas aqueles nascidos na Turquia, mas também os provenientes de países do antigo Império Otomano, como Azerbaijão, Turcomenistão, Uzbequistão, Cazaquistão e Quirguistão, entre outros, além daqueles que migraram para países que não compunham o império."Além do desejo desses Lobos Cinzentos pela unificação turca, eles também têm uma forte oposição a minorias étnicas. [...] durante a Guerra Fria, eles ficaram conhecidos por realizar ataques violentos e assassinatos políticos na Turquia, principalmente contra esses grupos minoritários de curdos e armênios. Eles também estiveram envolvidos no assassinato de centenas de militantes de esquerda durante os anos 70 e 80 e no golpe militar da Turquia de 1980. Mas também a gente tem outro exemplo clássico internacional da atuação dos Lobos Cinzentos, que foi o atentado a tiros contra o Papa João Paulo II, em 1981, que foi perpetrado por Mehmet Ali Agca, que é membro do grupo extremista", afirma.Ela afirma que, na Europa, em países em que há uma grande comunidade turca, "os lobos continuam propagando essas ideias, principalmente entre aqueles jovens que têm dificuldade de integração", prática usada por outros grupos extremistas ao redor do mundo.Nesse contexto, ela afirma que "o apoio a esses símbolos pode acabar se tornando uma forma de resistência mesmo, uma maneira de afirmar que eles ainda estão conectados com as raízes turcas deles".A opinião é compartilhada por Bruno Mendelski, doutor em relações internacionais pela Universidade de Brasília (UnB) e membro do Núcleo de Pesquisa sobre as Relações Internacionais do Mundo Árabe (Nuprima), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ele diz que fazer a saudação do Lobo Cinzento não significa que a pessoa "concorda 100% com essa ideologia".O pesquisador afirma que quando um jogador turco faz esse gesto, está colocando em xeque "essa difícil integração dos turcos na Alemanha".Porém, Mendelski ressalta que os Lobos Cinzentos têm uma penetração muito forte na Turquia, muitas vezes de forma indireta e clandestina na sociedade turca. Ele acrescenta que há certa hipocrisia ocidental na decisão de países europeus de banir o grupo. Isso porque os Lobos Cinzentos foram usados no contexto da Guerra Fria para assassinar comunistas, sobretudo na Alemanha.Ele conta que a própria figura do lobo vai remeter a essa ideia de Grande Turquia, de Império da Turquia, que em princípio não teria grandes problemas."O problema é quando esse imaginário, esse nacionalismo, começa a ter filiações políticas e paramilitares e terroristas", afirma.Mendelski destaca ainda que esses grupos radicais, como os Lobos Cinzentos, nascem e se fortalecem em ambientes onde há discriminação e repressão.
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Quem são os Lobos Cinzentos, o movimento turco que causa temor na Europa?
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Em entrevista ao podcast internacional da Sputnik Brasil, analistas explicam como a xenofobia e a repressão à comunidade turca na Europa servem de combustível para um grupo político em ascensão na Turquia.
Os governos da Turquia e da Alemanha trocaram farpas recentemente por causa dos
Lobos Cinzentos,
um movimento radical de direita turco. O pivô da polêmica foi um gesto feito pelo jogador de futebol turco Merih Demiral, após fazer o gol da vitória da Turquia em uma partida contra a Áustria pela Eurocopa.
Após o gol, Demiral fez um gesto com as mãos conhecido como "saudação do lobo", que simula a cabeça de um lobo, provocando forte polêmica e resultando em sua suspensão por duas partidas. Por conta do incidente, o governo alemão convocou o embaixador turco a dar explicações, e a ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, afirmou que "usar torneios de futebol como plataforma para o racismo é completamente inaceitável".
A punição a Demiral se deu porque o movimento Lobos Cinzentos é banido ou têm a atuação limitada em vários países da Europa, incluindo Áustria, França e Alemanha, por serem acusados de perseguir minorias na Turquia.
O governo turco, por sua vez, reagiu ao episódio acusando a Alemanha de xenofobia. O presidente turco,
Recep Tayyip Erdogan, saiu em defesa de Demiral, questionando: "Alguém pergunta por que a camisa nacional alemã tem uma águia ou a camisa francesa tem um galo?"
Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas explicam quem são os Lobos Cinzentos e por que causam tanto temor aos países europeus.
Lohanna Reis, bacharel em relações internacionais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em ciência política e relações internacionais pela Istinye University, em Istambul, afirma que o gesto feito por Demiral é polêmico para quem desconhece a história por trás dele.
Ela explica que embora seja acusado de "associação com um grupo chamado Lobos Cinzentos, que é um grupo extremista, que também utiliza o lobo como emblema", o gesto não necessariamente remete ao grupo, tendo sido usado pela primeira vez por uma tribo turca em 174 a.C., "com um significado bem diferente do que está se falando na mídia ultimamente".
"O símbolo do lobo é ligado também às lendas e à mitologia das origens dos turcos na Ásia Central, mais de mil anos atrás. E, na Alemanha, onde os Lobos Cinzentos são considerados uma ameaça extremista, esse gesto do Demiral acabou sendo interpretado como um sinal de apoio ao movimento nacionalista turco."
Ela ressalta, no entanto, que historiadores turcos reforçam que
apesar da tentativa do grupo ultrarradical de se apropriar do gesto, ele não tem relação com o extremismo. "Por essa razão, a decisão de investigar o gesto foi bem criticada pelo governo turco, e o Ministério das Relações Exteriores da Turquia considerou a investigação injusta."
Quem são os Lobos Cinzentos?
Reis afirma que os Lobos Cinzentos são um grupo da Turquia ultranacionalista de direita, que acredita que os turcos são parte de uma nação maior, que deve se unir politicamente. Ela enfatiza que a etnia turca não abrange apenas aqueles nascidos na Turquia, mas também os provenientes de países do antigo Império Otomano, como Azerbaijão, Turcomenistão, Uzbequistão, Cazaquistão e Quirguistão, entre outros, além daqueles que migraram para países que não compunham o império.
"Além do desejo desses Lobos Cinzentos pela unificação turca, eles também têm uma forte oposição a minorias étnicas. [...] durante a Guerra Fria, eles ficaram conhecidos por realizar ataques violentos e assassinatos políticos na Turquia, principalmente contra esses grupos minoritários de curdos e armênios. Eles também estiveram envolvidos no assassinato de centenas de militantes de esquerda durante os anos 70 e 80 e no golpe militar da Turquia de 1980. Mas também a gente tem outro exemplo clássico internacional da atuação dos Lobos Cinzentos, que foi o atentado a tiros contra o Papa João Paulo II, em 1981, que foi perpetrado por Mehmet Ali Agca, que é membro do grupo extremista", afirma.
Ela afirma que, na Europa, em países em que há uma grande comunidade turca, "os lobos continuam propagando essas ideias, principalmente entre aqueles jovens que têm dificuldade de integração", prática usada por outros grupos extremistas ao redor do mundo.
"Isso é especialmente verdade em países como a Alemanha, onde as políticas de integração nem sempre foram bem-sucedidas e os descendentes de imigrantes turcos em muitos casos se sentem isolados da sociedade majoritária não só pela falha das políticas, mas por outras razões também, como a própria xenofobia por parte de alguns cidadãos."
Nesse contexto, ela afirma que "o apoio a esses símbolos pode acabar se tornando uma forma de resistência mesmo, uma maneira de afirmar que eles ainda estão conectados com as raízes turcas deles".
A opinião é compartilhada por Bruno Mendelski, doutor em relações internacionais pela Universidade de Brasília (UnB) e membro do Núcleo de Pesquisa sobre as Relações Internacionais do Mundo Árabe (Nuprima), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ele diz que fazer a saudação do Lobo Cinzento não significa que a pessoa "concorda 100% com essa ideologia".
O pesquisador afirma que quando um jogador turco faz esse gesto, está colocando em xeque "essa difícil integração dos turcos na Alemanha".
Porém, Mendelski ressalta que os Lobos Cinzentos têm uma penetração muito forte na Turquia, muitas vezes de forma indireta e clandestina na sociedade turca. Ele acrescenta que há certa hipocrisia ocidental na decisão de países europeus de banir o grupo. Isso porque os Lobos Cinzentos foram usados no contexto da Guerra Fria para assassinar comunistas, sobretudo na Alemanha.
"Alemães de esquerda foram assassinados pelos Lobos Cinzentos, e muitas dessas mortes foram cobertas pelo governo da Alemanha Ocidental ou tiveram a chancela da CIA. Então é muito interessante observar essa lógica hipócrita da política do Ocidente."
Ele conta que a própria figura do lobo vai remeter a essa ideia de Grande Turquia, de Império da Turquia, que em princípio não teria grandes problemas.
"O problema é quando esse imaginário, esse nacionalismo, começa a ter filiações políticas e paramilitares e terroristas", afirma.
Mendelski destaca ainda que esses grupos radicais, como os Lobos Cinzentos, nascem e se fortalecem em ambientes onde há discriminação e repressão.
"Por isso eles são tão fortes na Europa, na Áustria, na Alemanha, em menor escala também nos Países Baixos, porque a comunidade turca enfrenta uma série de problemas de adaptação, de preconceito por parte dos europeus. Então isso é um prato cheio para os nacionalistas e para os extremistas."
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