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Ranking universitário do BRICS desafiará conceito ocidental da 'boa universidade', indicam analistas

© Sputnik / Maxim Platonov / Acessar o banco de imagensEncontro dos ministros da Educação dos países BRICS em Kazan, Rússia
Encontro dos ministros da Educação dos países BRICS em Kazan, Rússia - Sputnik Brasil, 1920, 18.10.2024
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A criação de rankings de universidades dos países do BRICS foi tema do Fórum de Reitores do BRICS, que ocorreu nesta sexta-feira (18) na cidade russa de Kazan. Pontos e princípios de uma plataforma comum para a classificação foram debatidos no encontro.
Professores universitários que estão acompanhando e participando desse processo conversaram com a Sputnik Brasil e ressaltaram que a iniciativa tem potencial inédito para alavancar transferências tecnológicas e projetos colaborativos emancipatórios.
Diretor do Escritório de Governança de Dados Institucionais (EGDI), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o professor Dawisson Lopes integra a delegação da universidade mineira que participa das discussões nos trabalhos preparatórios para a cúpula dos chefes de Estado do BRICS.
Segundo ele, a existência de um ranking do grupo tende a aumentar a visibilidade das instituições de educação superior dessas nações, que nem sempre aparecem nos rankings tradicionais, ocidentais, muito influentes no mundo atual.

"Serve também para criar novos parâmetros, propor novas balizas e também para desafiar uma visão muito estabelecida e forjada pelos europeus do que é ou do que deve ser a boa universidade. Temos uma chance importante com essa ferramenta que vai sendo proposta, de esculpir um novo conceito, uma nova ideia de boa universidade. Cada uma das nossas instituições de educação superior colocar o seu tijolo na construção, que deve ser coletiva", opinou o professor.

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Doutor em ciência política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e secretário de universidades e formação integral do Centro de Integração e Cooperação Rússia-América Latina (CICRAL), o cientista político Boris Perius Zabolotsky chamou a atenção para o viés parcial dos rankings universitários hegemônicos.

"Os rankings ocidentais e internacionais, como os QS World University Rankings e o Times Higher Education (THE), costumam dar preferência a universidades do Ocidente e anglo-saxônicas, espelhando práticas e prioridades acadêmicas focadas nos países desenvolvidos", pontuou ele.

Zabolotsky apontou que elementos como a publicação em periódicos em inglês e o financiamento para pesquisas tendem a favorecer universidades americanas e europeias.

"Um ranking voltado para o BRICS usaria critérios que considerem as particularidades desses países, tais como desigualdade social, inovação, transferência de conhecimento para o desenvolvimento nacional e o conhecimento dos povos originários", argumentou.

O ranking dos países do BRICS tende ainda a favorecer as publicações nos idiomas locais e reconhecer a relevância de projetos focados nas realidades de cada país, frisou o cientista político.

"A classificação BRICS poderia destacar a colaboração Sul-Sul e a função pública das universidades no reforço de políticas sociais e industriais nos países do grupo, espelhando uma estratégia mais ajustada às demandas específicas de cada país", afirmou Zabolotsky.

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O professor da UFMG lembrou ainda que o incremento do intercâmbio entre parques técnicos, científicos e acadêmicos dos países do grupo trará trocas significativas e frutos concretos na seara do conhecimento tecnocientífico acadêmico.

"Quando se fala em BRICS, a gente envolve algumas das principais academias do mundo, sobretudo a chinesa e a russa, que têm universidades do mais alto nível, prêmios Nobel acumulados e saberes já muito consolidados. Mas há também uma emergência muito importante da academia iraniana, por exemplo, da academia indiana, da academia sul-africana. As trocas estabelecidas entre esses países auxiliarão o Brasil na busca pelo desenvolvimento socioeconômico da sua população […]. Países como Emirados Árabes Unidos têm internacionalizado muito sua academia, e, portanto, acho que as trocas que vão acontecer entre esses países levarão necessariamente a um estágio superior de desenvolvimento das academias dos países BRICS."

Lopes salientou que a UFMG tem desenvolvido uma série de iniciativas bilaterais com os países do BRICS, entre eles a Rússia, com visitas de cortesia dos reitores e iniciativas pontuais, como a de ensino da língua portuguesa para estudantes russos.
A Escola de Verão Brasil-China em Estudos Jurídicos é outra iniciativa criada neste ano, destacou também, que envolve estudantes da UFMG e de uma universidade chinesa, a Huazhong University of Science and Technology (HUST), para se concentrar nos conhecimentos jurídicos dos dois países.
Zabolotsky também destacou que a iniciativa pode fortalecer um senso de pertencimento a um "projeto comum de descolonização do internacional" e de multipolaridade, frente ao legado do poder colonial, moderno e eurocêntrico.

"Essa produção de conhecimento [ocidental] favorece as epistemologias e abordagens do Norte Global e, ao mesmo tempo, coloca os países do Sul Global como reféns de um modelo que não é feito para suas realidades", concluiu ele.

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