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G20: há grande fissura entre Norte e Sul, e o Norte Global não está disposto a ceder, diz analista

© Diogo Zacarias/Ministério da FazendaFernando Haddad durante fala na Trilha das Finanças do G20
Fernando Haddad durante fala na Trilha das Finanças do G20 - Sputnik Brasil, 1920, 25.10.2024
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Na reta final, antes da Cúpula dos Líderes do G20, o Brasil encerrou, ontem (24), em Washington, a última reunião da Trilha de Finanças presidida pelo país. Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sensação é de dever cumprido. Para analista, propostas do Brasil e de outros países do Sul Global tendem a encontrar resistência do Norte na cúpula.

"O Brasil está muito satisfeito com os resultados dos dois comunicados aprovados por consenso, como de costume, que refletem nossas intenções, anunciadas no final de 2023, quando assumimos a presidência do grupo", disse o ministro, coordenador da Trilha de Finanças do fórum junto com o Banco Central do Brasil.

Neste último encontro, o país anunciou a Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos e para a Transformação Ecológica (BIP, na sigla em inglês). O mecanismo tem como objetivo facilitar investimentos internacionais que apoiem projetos estratégicos para o desenvolvimento sustentável do país, com foco na transição ecológica e no combate à mudança do clima — uma das prioridades brasileiras durante sua presidência do G20.
Além disso, o Brasil conseguiu avançar em outras pautas de sua agenda, como a Aliança Global Contra a Fome, obtendo consenso no grupo pelo combate às desigualdades; também no avanço do debate sobre reformulação dos Bancos Multilaterais de Desenvolvimento (MDBs), assegurando que estejam mais preparados para enfrentar desafios globais, especialmente nos países de baixa e média renda.
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No contexto do combate à desigualdade, uma das pautas encampadas pelo Brasil foi a ambiciosa proposta de taxação dos super-ricos, o que pode gerar arrecadação de até US$ 250 bilhões (R$ 1,42 trilhão) por ano, segundo o governo. O último comunicado publicado pela trilha prevê mais cooperação entre os países, a fim de garantir que "indivíduos de altíssimo patrimônio sejam efetivamente tributados".
Para Bruno de Conti, professor do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a pauta é quase irrefutável, haja vista o aumento da desigualdade social nos últimos anos. "Não é uma panaceia", ele ressalta, mas tem um efeito importante, inclusive de caráter simbólico.
O especialista também aponta que as propostas discutidas estão sobre a mesa, mas a implementação dos acordos firmados no âmbito do grupo é outra questão.

"O G20 não tem, digamos, um mandato, a possibilidade de enforcement. A maioria das declarações são feitas, assinadas, com graus maiores ou menores de compromisso, mas depois os governos nacionais têm que adotar, e aí a gente não sabe o que acontece. Há trocas de governo, enfim. Tudo fica no campo dos compromissos", explica.

Discussões em Kazan podem impactar a cúpula do G20?

Enquanto Haddad se reunia com seus pares no último evento da Trilha das Finanças do G20, acontecia em Kazan a 16ª Cúpula do BRICS, a primeira desde que o bloco foi ampliado.
De Conti afirma ser evidente que os países do BRICS tentam aumentar a representatividade do Sul Global, porém acendem reações do outro lado.

"É um momento tenso, do ponto de vista da geopolítica global. Não nos enganemos. […] Existe uma fissura grande entre certas demandas do Sul Global e do Norte Global, e o Norte Global não está disposto a ceder."

Como exemplo da afirmação, o analista cita a proposta do BRICS em fomentar transações comerciais com pagamento a partir das moedas nacionais, em claro detrimento ao dólar.
"Os Estados Unidos estão reagindo", afirma, quanto à proposta do BRICS, citando que a atual secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, já ponderou ser má ideia uma moeda do BRICS, e o próprio ex-presidente Donald Trump prometeu sanções aos países que fizerem esforços para a desdolarização.
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No âmbito de uma reunião dessa magnitude, "o que fica são os consensos", destaca. Porém, com tantas fricções, "muita coisa vai ficando pelo caminho", avalia.
A Cúpula de Líderes do G20 acontece nos dias 18 e 19 de novembro de 2024, no Rio de Janeiro, com a presença das lideranças dos 19 países-membros, mais a União Africana e a União Europeia.
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