https://noticiabrasil.net.br/20241205/elites-brasileiras-temem-reacao-politico-militar-dos-eua-por-avanco-da-desdolarizacao-diz-analista-37612849.html
Elites brasileiras temem reação político-militar dos EUA por avanço da desdolarização, diz analista
Elites brasileiras temem reação político-militar dos EUA por avanço da desdolarização, diz analista
Sputnik Brasil
Brasil assume a presidência do BRICS após o presidente eleito dos EUA Trump ameaçar o bloco com tarifas de até 100%, caso siga seus esforços pela... 05.12.2024, Sputnik Brasil
2024-12-05T09:21-0300
2024-12-05T09:21-0300
2024-12-05T11:19-0300
panorama internacional
exclusiva
brics
desdolarização
dólar
donald trump
tarifas
pressão
retaliação
eua
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e8/0c/05/37612509_0:160:3072:1888_1920x0_80_0_0_ec63689b74a99119f0513f91859366e9.jpg
Nesta quarta-feira (4), o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, declarou que o BRICS busca estabelecer um sistema paralelo ao dólar, que coexistirá com a atual ordem financeira ocidental. Anteriormente, o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, prometeu tarifas de até 100% a países que se afastem da moeda norte-americana.Sergei Ryabkov, que é o representante da Rússia no BRICS, prevê uma ordem mundial multipolar e "polifônica", no qual diversos sistemas econômicos operarão paralelamente. O vice-ministro alertou que tentativas de frear esse processo trariam consequências negativas e manifestou esperança de que "pessoas sensatas nesse país [EUA] considerem isso antes que seja tarde demais".Neste domingo (1º), Donald Trump ameaçou países que promovam a desdolarização, dizendo que "a ideia de que os países do BRICS podem se afastar do dólar enquanto nós sentamos e assistimos acabou".O porta-voz do presidente russo, Dmitry Peskov, também respondeu às declarações de Trump, afirmando que os países do BRICS não são os únicos a reconsiderar o uso do dólar. Para ele, a tendência a comercializar em moedas locais é global e só será acelerada por medidas hostis da Casa Branca."Caso os EUA utilizem a força, como dizem, para impor o uso do dólar, isso provavelmente consolidará ainda mais a tendência de transição para as moedas nacionais", declarou Peskov. "Assistimos a um processo de erosão da atratividade do dólar, que já está em curso e só ganha força."De acordo com o professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Fabiano Mielniczuk, a economia norte-americana será a maior prejudicada pela imposição de tarifas contra países como China, Índia, Rússia e Brasil, que estão entre as dez maiores economias do mundo.Por outro lado, a declaração de Trump explicita ao Sul Global que o uso do dólar é uma imposição de Washington, e não um instrumento que favorece o desenvolvimento da economia global."A declaração deixa claro o quão colonial é a nossa dependência do dólar. Que o uso do dólar não é uma opção, mas uma imposição. De que o objetivo do uso do dólar não é facilitar as transações internacionais, mas sim manter a hegemonia norte-americana", asseverou Mielniczuk.Presidência brasileira do BRICSA nova administração na Casa Branca poderá impor dificuldades para a presidência brasileira do BRICS em 2025, que deveria manter os esforços de desdolarização na pauta do grupo. As perspectivas para 2025 são de foco em temas menos polêmicos para Washington, como mudanças climáticas e governança digital.Por outro lado, setores relevantes da economia brasileira como o agronegócio têm interesse na desdolarização e no estabelecimento de trocas em moedas locais, lembrou o coordenador do Núcleo de Estudos de Atores e Agendas de Política Externa do IESP-UERJ, Ghaio Nicodemos."O agronegócio é um dos grandes motores de uma política externa brasileira descentralizada, que converse tanto com a Rússia e seus fertilizantes, quanto com os países árabes e China, que garantem superávit para a balança comercial brasileira", disse Nicodemos à Sputnik Brasil. "Esse setor não quer que o Brasil seja obrigado a deixar de exportar por causa de sanções econômicas impostas contra terceiros."O agronegócio gostaria de alternativas ao dólar para comercializar mais com o Irã, um grande cliente do Brasil na área de alimentos e proteína animal. Alguns setores industriais também demandam alternativas para manter o comércio com países que detêm poucos dólares disponíveis, como a Argentina e países africanos – compradores relevantes de produtos brasileiros de maior valor agregado.O setor brasileiro menos interessado na desdolarização é o mercado financeiro, altamente integrado no mercado de capitais ocidental e interessado em "usar o dólar como ferramenta para pressionar o governo a aderir à sua agenda".Caso o Brasil reduza o espaço da desdolarização na agenda do BRICS em função das ameaças de Trump, estaria abrindo mão de maior acesso a Ásia, região mais promissora para a sua estabilidade econômica."Essa ideia brasileira de tentar servir a dois senhores não é positiva, afinal o país tem muito mais oportunidade de crescimento econômico na Ásia do que no Ocidente. O comércio com a China é três vezes superior ao comércio com os EUA. E Washington não parece interessado em ampliar sua pauta de importações com o Brasil", disse Nicodemos. "Mas a desdolarização sim, nos garantiria acesso a mercados que hoje não alcançamos, tanto pela imposição de sanções econômicas, quanto pela ausência de reservas em dólar, como no caso da África."No entanto, a falta de pensamento estratégico e de longo prazo das elites brasileiras podem frear o processo de desdolarização, assim como o temor de uma resposta dura por parte de Washington.O Brasil investe pouco na construção de rotas alternativas de comércio, ao contrário da China, que investe na iniciativa Cinturão e Rota para garantir sua autonomia em caso de confronto com Washington; e da Rússia, que já mostrou ser capaz de comercializar à revelia do Ocidente."A recusa do Brasil a entrar na inciativa Cinturão e Rota e acelerar a construção de infraestrutura alternativa não atende aos interesses econômicos do país", disse Nicodemos. "Isso só se explica pelo alinhamento intelectual das elites brasileiras com os EUA, o que dificulta maior proatividade da política externa brasileira."O Brasil assume a presidência do BRICS em janeiro de 2025, com o lema "Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável". Durante a mais recente reunião de sherpas e sous-sherpas do BRICS na cidade russa de Ekaterinburgo, o representante russo Sergei Ryabkov realizou a passagem simbólica da presidência do grupo ao sherpa brasileiro, embaixador Eduardo Sabóia.
china
brasil
Sputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
2024
notícias
br_BR
Sputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e8/0c/05/37612509_171:0:2902:2048_1920x0_80_0_0_3051db4445a79cc561414202b67530aa.jpgSputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
exclusiva, brics, desdolarização, dólar, donald trump, tarifas, pressão, retaliação, eua, china, rússia, brasil, diplomacia, política externa, sergei ryabkov
exclusiva, brics, desdolarização, dólar, donald trump, tarifas, pressão, retaliação, eua, china, rússia, brasil, diplomacia, política externa, sergei ryabkov
Elites brasileiras temem reação político-militar dos EUA por avanço da desdolarização, diz analista
09:21 05.12.2024 (atualizado: 11:19 05.12.2024) Especiais
Brasil assume a presidência do BRICS após o presidente eleito dos EUA Trump ameaçar o bloco com tarifas de até 100%, caso siga seus esforços pela desdolarização da economia mundial. Saiba quais são os setores econômicos brasileiros interessados na desdolarização e se o Brasil vai ceder às pressões de Washington durante sua liderança no BRICS.
Nesta quarta-feira (4), o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, declarou que o BRICS busca estabelecer um sistema paralelo ao dólar, que coexistirá com a atual ordem financeira ocidental. Anteriormente, o presidente eleito dos EUA,
Donald Trump, prometeu tarifas de até 100% a países que se afastem da moeda norte-americana.
"Nós do BRICS queremos desenvolver um sistema que nos permita atender ao que nossos operadores econômicos precisam, paralelamente ao que nós e outros possamos ter", disse Ryabkov em
entrevista à CNN norte-americana.
Sergei Ryabkov, que é o representante da Rússia no BRICS, prevê uma
ordem mundial multipolar e "polifônica", no qual diversos sistemas econômicos operarão paralelamente. O vice-ministro alertou que tentativas de frear esse processo trariam consequências negativas e manifestou esperança de que "pessoas sensatas nesse país [EUA] considerem isso antes que seja tarde demais".
Neste domingo (1º), Donald Trump ameaçou países que promovam a desdolarização, dizendo que "a ideia de que os países do BRICS podem se afastar do dólar enquanto nós sentamos e assistimos acabou".
"Exigimos um compromisso desses países de que eles não criarão uma nova moeda do BRICS, nem apoiarão qualquer outra moeda para substituir o poderoso dólar americano, caso contrário, enfrentarão tarifas de 100% e deverão dizer adeus às vendas para a maravilhosa economia americana", escreveu Trump em rede social.
O porta-voz do presidente russo, Dmitry Peskov, também respondeu às declarações de Trump, afirmando que os países do BRICS não são os únicos a reconsiderar o uso do dólar. Para ele, a tendência a comercializar em moedas locais é global e só será acelerada por medidas hostis da Casa Branca.
De acordo com o professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Fabiano Mielniczuk, a economia norte-americana será a maior prejudicada pela imposição de tarifas contra países como China, Índia, Rússia e Brasil, que estão entre as dez maiores economias do mundo.
"O impacto de uma medida dessa envergadura na economia americana vai ser destruidor", disse Mielniczuk à Sputnik Brasil. "Isso me parece uma bravata de Trump, para sinalizar uma postura mais dura dos EUA contra o avanço da desdolarização."
Por outro lado, a declaração de Trump explicita ao Sul Global que o uso do dólar é uma imposição de Washington, e não um instrumento que favorece o desenvolvimento da economia global.
"A declaração deixa claro o quão colonial é a nossa dependência do dólar. Que o uso do dólar não é uma opção, mas uma imposição. De que o objetivo do uso do dólar não é facilitar as transações internacionais, mas sim manter a hegemonia norte-americana", asseverou Mielniczuk.
Presidência brasileira do BRICS
A nova administração na Casa Branca poderá
impor dificuldades para a presidência brasileira do BRICS em 2025, que deveria manter os esforços de desdolarização na pauta do grupo. As perspectivas para 2025 são de foco em temas menos polêmicos para Washington, como mudanças climáticas e governança digital.
"O Brasil sinalizou que manterá temas do G20 na pauta do BRICS no ano que vem, em particular a questão da reforma tributária internacional. E também insistirá na reforma das instituições financeiras globais, como FMI e Banco Mundial", disse Mielniczuk. "Esses são temas que, apesar de importantes, não necessariamente apontam para a desdolarização."
Por outro lado, setores relevantes da economia brasileira como o agronegócio têm interesse na desdolarização e no estabelecimento de trocas em moedas locais, lembrou o coordenador do Núcleo de Estudos de Atores e Agendas de Política Externa do IESP-UERJ, Ghaio Nicodemos.
"O agronegócio é um dos grandes motores de uma política externa brasileira descentralizada, que converse tanto com a Rússia e seus fertilizantes, quanto com os países árabes e China, que garantem superávit para a balança comercial brasileira", disse Nicodemos à Sputnik Brasil. "Esse setor não quer que o Brasil seja obrigado a deixar de exportar por causa de sanções econômicas impostas contra terceiros."
O agronegócio gostaria de alternativas ao dólar para comercializar mais com o Irã, um grande cliente do Brasil na área de alimentos e proteína animal. Alguns setores industriais também demandam alternativas para manter o comércio com países que detêm poucos dólares disponíveis, como a Argentina e países africanos – compradores relevantes de produtos brasileiros de maior valor agregado.
"O Brasil hoje é um país que busca alternativas ao dólar de maneira ativa. E esse não é um projeto da centro-esquerda brasileira, já que também foi mantido em governos de direita, como o de Jair Bolsonaro", notou Nicodemos.
O setor brasileiro menos interessado na desdolarização é o mercado financeiro, altamente integrado no mercado de capitais ocidental e interessado em "usar o dólar como ferramenta para pressionar o governo a aderir à sua agenda".
Caso o Brasil reduza o espaço da desdolarização na agenda do BRICS em função das ameaças de Trump, estaria abrindo mão de maior acesso a Ásia, região mais promissora para a sua estabilidade econômica.
"Essa ideia brasileira de tentar servir a dois senhores não é positiva, afinal o país tem muito mais oportunidade de crescimento econômico na Ásia do que no Ocidente. O comércio com a China é três vezes superior ao comércio com os EUA. E Washington não parece interessado em ampliar sua pauta de importações com o Brasil", disse Nicodemos. "Mas a desdolarização sim, nos garantiria acesso a mercados que hoje não alcançamos, tanto pela imposição de sanções econômicas, quanto pela ausência de reservas em dólar, como no caso da África."
No entanto, a falta de pensamento estratégico e de longo prazo das elites brasileiras podem frear o processo de desdolarização, assim como o temor de uma resposta dura por parte de Washington.
"Economicamente, o Brasil não tem nada a perder com a desdolarização. Mas as elites brasileiras temem um assédio norte-americano a nível político e militar", considerou Nicodemos. "Em caso de bloqueio imposto por Washington, o Brasil não dispõe de infraestrutura alternativa para manter o seu comércio internacional."
O Brasil investe pouco na construção de rotas alternativas de comércio, ao contrário da China, que investe na iniciativa Cinturão e Rota para garantir sua autonomia em caso de confronto com Washington; e da Rússia, que já mostrou ser capaz de comercializar à revelia do Ocidente.
"A
recusa do Brasil a entrar na inciativa Cinturão e Rota e acelerar a construção de infraestrutura alternativa não atende aos interesses econômicos do país", disse Nicodemos. "Isso só se explica pelo alinhamento intelectual das elites brasileiras com os EUA, o que dificulta maior proatividade da política externa brasileira."
Por isso, durante a presidência brasileira do BRICS, "é possível que deleguemos a agenda de desdolarização a outros atores do bloco, como China ou o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), e mantenhamos nossa atuação nos bastidores", concluiu o especialista.
O Brasil assume a presidência do BRICS em janeiro de 2025, com o lema "Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável". Durante a mais recente reunião de sherpas e sous-sherpas do BRICS na cidade russa de Ekaterinburgo, o representante russo Sergei Ryabkov realizou a passagem simbólica da presidência do grupo ao sherpa brasileiro, embaixador Eduardo Sabóia.
Acompanhe as notícias que a grande mídia não mostra!
Siga a Sputnik Brasil e tenha acesso a conteúdos exclusivos no nosso canal no Telegram.
Já que a Sputnik está bloqueada em alguns países, por aqui você consegue baixar o nosso aplicativo para celular (somente para Android).