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MANSUP: novo míssil antinavio aumenta a capacidade letal da Marinha contra ameaças, nota analista

© flickr.com / Marinha do BrasilLançamento do Míssil Antinavio Nacional de Superfície (MANSUP), em 25 de abril de 2023
Lançamento do Míssil Antinavio Nacional de Superfície (MANSUP), em 25 de abril de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 20.02.2025
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Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas afirmam que o MANSUP contribui para desencorajar eventuais ameaças à soberania do Brasil em águas jurisdicionais brasileiras, mas frisam que ainda é necessário investir mais em capacidade de logística e defesa própria, de forma a se livrar da dependência externa.
Após testes bem-sucedidos realizados em dezembro de 2024, o Míssil Antinavio Nacional de Superfície (MANSUP) — da Sistemas Integrados de Alto Teor Tecnológico (SIATT), empresa brasileira especializada em tecnologias de defesa — está oficialmente pronto para ser incorporado à Defesa Nacional.
Com capacidade de alcance de 70 quilômetros e alta precisão, o MANSUP usa o sistema Astros da Avibras para ser lançado, será armamento das futuras fragatas da classe Tamandaré e visa elevar a proteção à Amazônia Azul e aos recursos naturais do Brasil.
Jéssica de Freitas e Gonzaga da Silva, professora de história naval, pós-doutoranda em estudos marítimos pela Escola de Guerra Naval (EGN) e doutora em história pela Fundação Getulio Vargas (FGV), considera o lançamento do MANSUP uma importante etapa no processo de execução da Estratégia Nacional de Defesa (END), que estabeleceu como capacidade do Estado para o cumprimento dessa empreitada o desenvolvimento tecnológico para gerar produtos de defesa e sistemas de defesa por meio do incentivo à ciência, à tecnologia e à inovação.
Segundo ela, a contribuição do míssil antinavio para a Defesa Nacional é ampla. Primeiro, porque aumenta a capacidade letal da Marinha do Brasil contra eventuais ameaças à soberania; segundo, porque contribui para o incremento da Base Industrial de Defesa (BID).

"Em terceiro lugar, a incorporação desse instrumento reforça a capacidade dissuasória da Marinha do Brasil no âmbito internacional, mediante ampliação do seu prestígio, mas também desencorajando ações predatórias nas águas jurisdicionais brasileiras", afirma Silva.

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Silva destaca que outro ponto positivo do MANSUP é ser referenciado como uma conquista da indústria de Defesa brasileira, e é "sabido o interesse do Estado em ampliar o nível de domínio das tecnologias de defesa". Ela afirma que o MANSUP integra o rol de projetos estratégicos da Marinha, assim como o projeto do submarino de propulsão nuclear.
"Recentemente, o governo brasileiro anunciou o investimento superior a R$ 100 bilhões para fortalecer esse ramo da indústria. O MANSUP se tornou também um instrumento estratégico de afirmação do Brasil, no âmbito internacional, como um importante mercado de armamento. Outra perspectiva importante é o reconhecimento internacional que pode ser obtido tendo em vista a tecnologia nacional brasileira."
Silva afirma que o MANSUP será de grande importância para garantir a proteção da Amazônia Azul, visto que será usado a bordo dos meios navais flutuantes, com capacidade de responder a eventuais ameaças. Segundo ela, isso se torna ainda mais especial diante das negociações do governo brasileiro para iniciar a exploração de petróleo na bacia da foz do Amazonas, na chamada Margem Equatorial.
"No momento em que respondo a essa entrevista, estamos imersos a uma conjuntura marcada pelas negociações do governo brasileiro para iniciar a exploração de petróleo na bacia da foz do Amazonas. A área de interesse dista de 175 km da costa do Amapá. Portanto, faz parte das águas jurisdicionais brasileiras: a Amazônia Azul. Além das jazidas de petróleo e gás, possui riquezas da biodiversidade marítima. Em suas comunicações marítimas são transportados 95% do comércio brasileiro. Em nosso litoral estão as principais cidades brasileiras e a maior concentração da população. Em síntese, a defesa da Amazônia Azul é imperativa para a integridade do território e do patrimônio do Brasil."
Diante desse cenário, avalia a especialista, o Estado não pode permitir ameaças externas como pirataria, terrorismo, tráfico de armas, drogas e até mesmo um ataque de outros países.

"Para cumprir esses objetivos políticos, a Marinha do Brasil desenvolveu uma estratégia naval baseada na negação do uso do mar mediante dissuasão. Por sua vez, para inibir atitudes ameaçadoras e de agressão, é necessário fortalecer a capacidade dissuasória, sobretudo dotando o poder naval de meios modernos, bem equipados e em estado de prontidão", destaca.

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Ela acrescenta que é possível empregar o MANSUP em plataformas terrestres, a fim de ampliar a capacidade de projeção de poder e resposta do Corpo de Fuzileiros Navais.

"Para aumentar a capacidade de resposta do Brasil, esse sistema também poderá ser integrado aos demais meios de defesa, como radares e o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul [SisGAAz]."

Eduardo Siqueira Brick, professor titular aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador do Núcleo de Estudos de Defesa, Inovação, Capacitação e Competitividade Industrial (UFFDEFESA), afirma que a capacidade militar de um país tem como base dois componentes essenciais que se complementam: a capacidade operacional de combate, que é proporcionada pelas unidades militares, e a capacidade militar, constituída pela base logística de defesa.
"Basicamente isso [base logística] é composto pelas indústrias de defesa, institutos de ciência e tecnologia que desenvolvem tecnologias específicas para a defesa de uma organização dentro do Estado que administra a aquisição de equipamentos de defesa e o desenvolvimento de tecnologias de defesa e também suporta o desenvolvimento de indústrias de defesa", explica.
Ele afirma que sistemas de defesa possuem dezenas, às vezes centenas de componentes que têm tecnologias muito específicas, muito próprias, e, sem esses componentes, não há como fazer o trabalho de defesa.

"O Brasil produz alguns sistemas de defesa, alguns equipamentos de defesa, mas a maior parte das tecnologias e dos componentes que são usados para produzir equipamentos ou sistemas é importada. Depende de vários países. Além disso, o Brasil há décadas tem dado prioridade […] a comprar produtos de defesa prontos, vindos do exterior", afirma.

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Ele explica que o MANSUP é uma sequência do desenvolvimento de um motor para um míssil superfície-superfície, que era o Exocet.
"A diferença dele em relação ao Exocet é que ele tem um alcance bem maior do que o Exocet, que tinha alcance de uns 40 km."
Brick ressalta que o MANSUP não resolve o problema do Brasil para negar o uso de áreas para esquadras estrangeiras que fiquem longe da costa, seja no mar territorial ou no mar da Amazônia Azul.

"Alguns países como a China, por exemplo, já desenvolveram mísseis com alcance muito maior, mísseis antinavio com alcance muito maior […]. Eu achava que o Brasil já deveria estar investindo no desenvolvimento desse tipo de tecnologia, porque o Brasil não terá condição de enfrentar uma esquadra poderosa usando seus próprios navios."

Ele afirma que, atualmente, mais importante do que ter um meio de combate ou um míssil como o MANSUP, é ter uma capacidade de logística e defesa própria, capaz de inovar e desenvolver novas soluções para enfrentar ameaças.
"Então muito mais importante do que o míssil propriamente dito é ter uma base industrial e tecnológica capaz de conceber e desenvolver esses mísseis."
Ele também se mostra cético quanto ao uso do MANSUP para a proteção da Amazônia Azul, afirmando que para esse fim são necessários navios de monitoramento, em vez de um míssil desse tipo.

"Você precisa de navios de monitoramento, você precisa acompanhar o que está acontecendo e você precisa de navios de patrulha, que são muito mais baratos e suficientes para se impor a qualquer pessoa que tente fazer uso indevido dessas áreas. Se chegar ao ponto de um conflito, o MANSUP não é para proteger a Amazônia Azul, é para ser usado no combate contra um tipo de ameaça, e vai depender do tipo de ameaça também", explica.

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