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Política externa 'altiva e ativa' virou pó diante de tarifas de Trump contra Brasil, diz analista
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Brasil não tem meios para retaliar as tarifas impostas por Trump contra aço e alumínio e está sem diálogo com autoridades norte-americanas de primeiro escalão... 14.03.2025, Sputnik Brasil
2025-03-14T08:20-0300
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Nesta sexta-feira (14), representantes dos governos de Brasil e EUA se reúnem em Brasília para debater os impactos das tarifas de 25% impostas pela Casa Branca contra as exportações de aço e alumínio do Brasil.A reunião terá caráter técnico e não contará com a presença do ministro e vice-presidente Geraldo Alckmin, nem do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que cumpre agenda no Senegal, reportou o jornal O Globo.Em nota, o Itamaraty lamentou as tarifas impostas pelo governo Trump, que terão "impacto significativo sobre as exportações brasileiras de aço e alumínio para os EUA".Apesar de os EUA manterem superávit em suas relações com o Brasil de cerca de US$ 7 bilhões (cerca de R$ 40 bilhões), as tarifas poderão diminuir o faturamento das exportações de aço e alumínio brasileiros, estimados em US$ 3,2 bilhões (cerca de R$ 17 bilhões), segundo os dados da Secretaria de Comércio Exterior do Brasil.A medida de Trump foi adotada apesar de conversas realizadas pelo alto escalão do Itamaraty e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Serviços (MDIC) com o representante do Comércio dos EUA, Jamieson Green, na semana passada.Segunda divisãoApesar da celeridade com que foi marcada, a reunião prevista para ocorrer nesta sexta-feira será entre autoridades de segundo escalão. Por enquanto, os presidentes Lula e Trump ainda não realizaram contatos, e o ministro Mauro Vieira ainda não se reuniu com seu homólogo Marco Rubio.De acordo com a CNN, Marco Rubio já conversou com ministros de cerca de 58 países, mas não procurou o Itamaraty para dialogar. Na América Latina, Rubio não hesitou em conversar com países em polos opostos do espectro ideológico, como México e Argentina, mas ainda não com o Brasil.Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, Gilberto Maringoni, a ausência de relações diplomáticas no alto escalão não é tão preocupante, quanto a incapacidade do Brasil de retaliar as medidas impostas pela Casa Branca.O principal produto exportado pelo Brasil para os EUA é o petróleo, seguido de produtos semimanufaturados, como ferro e aço, além de commodities como café, celulose e carnes. Apesar do volume significativo exportado, os EUA podem adquirir esses produtos de outros mercados, caso o Brasil imponha medidas retaliatórias.Nesta quarta-feira (12), o governo prometeu em nota avaliar "todas as possibilidades de ação no campo do comércio exterior" para reagir às tarifas de 25% sob o alumínio e aço brasileiros. Já nesta quinta-feira (13), o vice-presidente Geraldo Alckmin questionou a efetividade de medidas retaliatórias, dizendo que "se fizer olho por olho, vai ficar todo mundo cego".O professor da UFABC Maringoni lembra que o Brasil não foi o único alvo da política dos EUA, que tem como objetivo o fortalecimento de sua capacidade industrial doméstica.Após praticamente um século de adoção de medidas protecionistas para alavancar sua capacidade industrial, os EUA puderam integrar-se ao mercado internacional partindo de uma posição fortalecida."As tarifas impostas por Trump fazem parte do DNA da economia política norte-americana. Esse é o instrumento que eles usam quando não estão em condições vantajosas ou mesmo monopolistas no comércio internacional", declarou Maringoni.Xerife OMCEm nota conjunta assinada pelo Itamaraty e Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o Brasil considerou recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) para defender os seus direitos. A organização sediada em Genebra possui órgão de solução de controvérsias que funciona como um tribunal para mediar disputas comerciais entre países.Para ele, ao aventar uma solução na OMC, o Brasil prova que está "com poder de pressão mínimo" e "sem estratégia" não só em suas relações com os EUA, mas em sua política externa de modo geral.Segundo ele, o Brasil experiencia um declínio em sua influência internacional, resultado de políticas persistentes de cortes de gastos e investimentos públicos, que remontam pelo menos à segunda metade da década de 2010."Não temos como ter diplomacia 'altiva e ativa' sem estratégia de defesa nacional, sem soberania na área de infraestrutura e sem setores econômicos com poder para atuar em países estrangeiros – como um dia foram as nossas construtoras", disse o professor da UFABC. "Não temos como ter altivez se nossa política externa quiser ir para uma direção, e a política de defesa atuar em sentido contrário."Mas nem tudo está perdido: a coordenação brasileira com seus vizinhos regionais poderá garantir algum poder de fogo para resistir às pressões de Trump, aponta Maringoni. Um exemplo seria o recente bloqueio da candidatura escolhida por Trump para a Secretaria Geral da OEA, derrotada pelo candidato apoiado por Brasil, Uruguai, Bolívia, Colômbia e Chile.Estratégia brasileira?A investida de Trump contra o aço brasileiro exigirá a formulação de uma estratégia mais clara para a política externa brasileira, acreditam os especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil. Para Maringoni, "estamos agora com uma diplomacia sem direção clara".Segundo ele, existem temas que podem aproximar as partes e reverter esse começo complicado de relações sob os governos Trump e Lula. A agenda energética e o potencial brasileiro no setor de terras raras poderiam fomentar o relacionamento bilateral, acredita Vieira."Além disso, temas pertinentes à segurança hemisférica também podem aproximar os países. Há uma boa vontade por parte do governo brasileiro em reforçar sua soberania em relação ao crime transnacional, e essa agenda pode ser explorada – desde que os EUA não partam para o intervencionismo", considerou Vieira.Para o professor da FAAP, as diferenças político-ideológicas entre Trump e Lula darão o tom das relações bilaterais daqui para frente, com pouco espaço para a agenda presidencial."Não vejo uma agenda robusta, mas sim temas pontuais que podem garantir a cooperação. Mas enquanto Lula e Trump estiverem no poder, podemos esperar relações frias e distantes, mas pragmáticas", concluiu Vieira.
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exclusiva, donald trump, mauro vieira, estados unidos, brasil, brasília, omc, itamaraty, casa branca, comércio, tarifas, diplomacia, política externa, eua
Política externa 'altiva e ativa' virou pó diante de tarifas de Trump contra Brasil, diz analista
08:20 14.03.2025 (atualizado: 10:34 14.03.2025) Especiais
Brasil não tem meios para retaliar as tarifas impostas por Trump contra aço e alumínio e está sem diálogo com autoridades norte-americanas de primeiro escalão. Analistas explicam por que o Brasil amarga declínio diplomático e como o país pode retomar sua influência internacional.
Nesta sexta-feira (14), representantes dos governos de Brasil e EUA se reúnem em Brasília para debater os impactos das tarifas de 25% impostas pela Casa Branca contra as exportações de aço e alumínio do Brasil.
A
reunião terá caráter técnico e não contará com a presença do ministro e vice-presidente Geraldo Alckmin, nem do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que cumpre agenda no Senegal,
reportou o jornal O Globo.
Em nota, o
Itamaraty lamentou as tarifas impostas pelo governo Trump, que terão "impacto significativo sobre as exportações brasileiras de aço e alumínio para os EUA".
"Em defesa das empresas e dos trabalhadores brasileiros e em linha com seu tradicional apoio ao sistema multilateral de comércio, o governo brasileiro considera injustificável e equivocada a imposição de barreiras unilaterais que afetam o comércio entre o Brasil e os EUA, principalmente pelo histórico de cooperação e integração econômica entre os dois países", versou o governo brasileiro.
Apesar de os
EUA manterem superávit em suas relações com o Brasil de cerca de US$ 7 bilhões (cerca de R$ 40 bilhões), as tarifas poderão
diminuir o faturamento das exportações de aço e alumínio brasileiros, estimados em US$ 3,2 bilhões (cerca de R$ 17 bilhões), segundo os dados da Secretaria de Comércio Exterior do Brasil.
A medida de Trump foi adotada apesar de conversas realizadas pelo alto escalão do Itamaraty e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Serviços (MDIC) com o representante do Comércio dos EUA, Jamieson Green, na semana passada.
Apesar da celeridade com que foi marcada, a reunião prevista para ocorrer nesta sexta-feira será entre autoridades de segundo escalão. Por enquanto, os presidentes Lula e Trump ainda não realizaram contatos, e o ministro Mauro Vieira ainda não se reuniu com seu homólogo Marco Rubio.
De
acordo com a CNN,
Marco Rubio já conversou com ministros de cerca de 58 países, mas não procurou o Itamaraty para dialogar. Na América Latina, Rubio não hesitou em conversar com países em polos opostos do espectro ideológico, como México e Argentina, mas ainda não com o Brasil.
"De fato, é preocupante não ter havido um intercâmbio direto entre Rubio e Vieira. Isso mostra que, para os EUA, politicamente, o Brasil é um ator secundário", disse o professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Vinícius Rodrigues Vieira, à Sputnik Brasil. "Aqui não estamos considerando se o Brasil é visto pelos EUA como um país aliado ou não. A questão é que o Brasil está sendo visto como ator secundário."
Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, Gilberto Maringoni, a ausência de relações diplomáticas no alto escalão não é tão preocupante, quanto a incapacidade do Brasil de retaliar as medidas impostas pela Casa Branca.
"Os EUA impuseram tarifas contra produtos relevantes para nossa pauta comercial, que vão abalar a nossa economia, e nós não temos condições de fazer uma reciprocidade. Nós importamos dos EUA insumos industriais que precisamos para a nossa própria produção", disse Maringoni à Sputnik Brasil. "Isso mostra que não temos mais soberania em quase nenhuma das nossas cadeias de valores."
O principal produto exportado pelo Brasil para os EUA é o petróleo, seguido de produtos semimanufaturados, como ferro e aço, além de commodities como café, celulose e carnes. Apesar do volume significativo exportado, os EUA podem adquirir esses produtos de outros mercados, caso o Brasil imponha medidas retaliatórias.
Nesta quarta-feira (12), o governo prometeu em nota avaliar "todas as possibilidades de ação no campo do comércio exterior" para reagir às tarifas de 25% sob o alumínio e aço brasileiros. Já nesta quinta-feira (13), o vice-presidente Geraldo Alckmin questionou a efetividade de medidas retaliatórias, dizendo que "se fizer olho por olho, vai ficar todo mundo cego".
O professor da UFABC Maringoni lembra que o Brasil não foi o único alvo da política dos EUA, que tem como objetivo o fortalecimento de sua capacidade industrial doméstica.
"Os EUA voltam à sua vocação protecionista", disse Maringoni. "Muitos se esquecem que os EUA se constituíram como um país industrializado, adotando medidas extremamente protecionistas após a sua independência."
Após praticamente um século de
adoção de medidas protecionistas para alavancar sua capacidade industrial, os EUA puderam integrar-se ao mercado internacional partindo de uma posição fortalecida.
"As tarifas impostas por Trump fazem parte do DNA da economia política norte-americana. Esse é o instrumento que eles usam quando não estão em condições vantajosas ou mesmo monopolistas no comércio internacional", declarou Maringoni.
Em nota conjunta assinada pelo Itamaraty e Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o Brasil considerou recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) para defender os seus direitos. A organização sediada em Genebra possui órgão de solução de controvérsias que funciona como um tribunal para mediar disputas comerciais entre países.
"A ideia de entrar com uma representação na OMC é um factoide, uma ação inócua", lamentou Maringoni. "Primeiro, porque os EUA não respeitam as decisões da OMC. Segundo, porque a organização está em crise. E, por fim, porque uma decisão da OMC demoraria anos para ser concluída."
Para ele, ao aventar uma solução na OMC, o Brasil prova que está "com poder de pressão mínimo" e "sem estratégia" não só em suas relações com os EUA, mas em sua política externa de modo geral.
"Infelizmente, a diplomacia 'altiva e ativa' virou pó, porque ela não é possível em um país que está sem atributos materiais de poder", declarou Maringoni. "Ela virou uma diplomacia declaratória, porque o Brasil está sem os meios concretos para agir externamente."
Segundo ele, o Brasil experiencia um declínio em sua influência internacional, resultado de políticas persistentes de cortes de gastos e investimentos públicos, que remontam pelo menos à segunda metade da década de 2010.
"Não temos como ter diplomacia 'altiva e ativa' sem estratégia de defesa nacional, sem soberania na área de infraestrutura e sem setores econômicos com poder para atuar em países estrangeiros – como um dia foram as nossas construtoras", disse o professor da UFABC. "Não temos como ter altivez se nossa política externa quiser ir para uma direção, e a política de defesa atuar em sentido contrário."
Mas nem tudo está perdido: a coordenação brasileira com seus vizinhos regionais poderá garantir algum poder de fogo para resistir às pressões de Trump, aponta Maringoni. Um exemplo seria o
recente bloqueio da candidatura escolhida por Trump para a Secretaria Geral da OEA, derrotada pelo candidato apoiado por Brasil, Uruguai, Bolívia, Colômbia e Chile.
A investida de Trump contra o aço brasileiro exigirá a formulação de uma estratégia mais clara para a política externa brasileira, acreditam os especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil. Para Maringoni, "estamos agora com uma diplomacia sem direção clara".
"A estratégia brasileira pode ser resumida da seguinte forma: tentar não responder frontalmente a Trump. […] não apostar em bravatas, agir de forma racional e não se subordinar às vontades dos norte-americanos", disse o professor da FAAP Vieira.
Segundo ele, existem temas que podem aproximar as partes e reverter esse começo complicado de relações sob os governos Trump e Lula. A agenda energética e o potencial brasileiro no setor de terras raras poderiam fomentar o relacionamento bilateral, acredita Vieira.
"Além disso, temas pertinentes à segurança hemisférica também podem aproximar os países. Há uma boa vontade por parte do governo brasileiro em reforçar sua soberania em relação ao crime transnacional, e essa agenda pode ser explorada – desde que os EUA não partam para o intervencionismo", considerou Vieira.
Para o professor da FAAP, as diferenças político-ideológicas entre Trump e Lula darão o tom das relações bilaterais daqui para frente, com pouco espaço para a agenda presidencial.
"Não vejo uma agenda robusta, mas sim temas pontuais que podem garantir a cooperação. Mas enquanto Lula e Trump estiverem no poder, podemos esperar relações frias e distantes, mas pragmáticas", concluiu Vieira.
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