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'O pior dos mundos': China reage à aproximação de Javier Milei com os Estados Unidos

© AP Photo / Lynne SladkyJavier Milei, presidente argentino, acena após falar com alunos na Florida International University, em North Miami, Flórida. EUA, 11 de abril de 2024
Javier Milei, presidente argentino, acena após falar com alunos na Florida International University, em North Miami, Flórida. EUA, 11 de abril de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 16.04.2025
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A Embaixada da China em Buenos Aires criticou o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, após as declarações durante encontro com o presidente argentino Javier Milei em que criticou o vínculo financeiro entre Buenos Aires e Pequim. O gesto é considerado pouco habitual na diplomacia chinesa.
As autoridades chinesas expressaram "profundo descontentamento e categórico repúdio às maliciosas difamações e calúnias do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, durante sua visita à Argentina em 14 de abril", segundo informou o documento publicado.
Durante sua passagem por Buenos Aires, Bessent havia classificado como "nocivo" o acordo de swap — mecanismo de troca de moedas — entre Argentina e China, vigente desde 2009 e renovado na semana passada por mais um ano.
Por meio desse mecanismo, a Argentina acessa o equivalente a cerca de US$ 5 bilhões (R$ 29,4 bilhões) para reforçar suas reservas internacionais. A declaração segue a mesma linha do que havia dito Mauricio Claver-Carone, enviado especial de Trump para a América Latina, semanas atrás.
A embaixada chinesa afirmou que Washington "deveria abster-se de obstruir ou sabotar deliberadamente a assistência prestada por outros países às nações em desenvolvimento e ao Sul Global. Também não deveria sacrificar o bem-estar dos povos dessas nações em nome de seus egoístas interesses geopolíticos e da defesa de sua própria hegemonia".
O embate diplomático eleva a tensão em um momento sensível para a economia argentina. O governo de Milei celebrou a renovação do swap como um alívio em meio às negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que dias depois resultaram em um acordo de US$ 20 bilhões (R$ 117,7 biilhões) com o órgão.
Apesar de Milei ter se alinhado aos EUA desde o início de seu governo, a China continua sendo um dos principais parceiros comerciais da Argentina e um ator central no apoio às suas reservas internacionais.
Paralelamente, o conflito se insere em uma escalada de tensões entre China e Estados Unidos. Nesta semana, Pequim suspendeu a compra de aviões da Boeing como parte da guerra comercial com Washington, em mais um gesto que reforça a disputa diplomática entre os dois gigantes.
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Argentina entre as tensões EUA-China

"Há uma escalada da China na tensão com os Estados Unidos, e agora a Argentina está no meio", afirmou Sabino Vaca Narvaja, ex-embaixador argentino em Pequim (2019–2023), em entrevista à Sputnik.
Na sua avaliação, a estratégia diplomática de Milei expõe o país a possíveis retaliações de um de seus principais parceiros comerciais. "Esse é o pior dos mundos: Milei se subordinou aos EUA e agora volta a ficar em uma posição desconfortável", explicou.
O diplomata ressaltou que o swap com a China, renovado recentemente por mais um ano, foi fundamental para viabilizar o novo empréstimo com o FMI.
"A China destaca que, se não tivesse renovado o acordo, talvez Milei ficasse sem o acordo com o Fundo", explicou Vaca Narvaja. O especialista também alertou que "suspender o swap é impraticável: não há reservas suficientes para devolver esses recursos".
Já o analista internacional Juan Venturino concordou que o custo do alinhamento irrestrito de Buenos Aires com Washington já começa a aparecer. "Milei assumiu acreditando que o alinhamento total não teria consequências, mas os primeiros efeitos desse posicionamento começam a surgiu", acrescentou à Sputnik.
Nesse contexto, o analista criticou a decisão do governo argentino de rejeitar o ingresso nos BRICS logo após assumir, em 2023. "Para a Argentina, não terá sido gratuito recusar o ingresso no grupo. Aos poucos, essa tensão começa a se manifestar", destacou o especialista.
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Guerra comercial e sinais globais

O comunicado divulgado pela Embaixada da China se insere em um cenário de tensão geopolítica crescente entre Washington e Pequim, que já avançou do campo tecnológico para o monetário. Nesse contexto, a visita do secretário do Tesouro dos EUA à Argentina não apenas provocou uma resposta imediata, como também reacendeu uma disputa de escala global.
"A guerra comercial visa conter o grande avanço da China também no plano monetário", explicou Vaca Narvaja. Para o ex-embaixador, o conflito atual vai além da questão de tarifas bilaterais: "Trump está consciente do declínio até militar dos Estados Unidos e não quer perder a hegemonia do dólar como moeda de troca comercial".
Sob essa ótica, o embate com Bessent é apenas mais uma expressão de um jogo de poder mais amplo. "Esse comunicado não é incomum", relativizou o diplomata, que também comparou os termos do swap com as imposições de outros organismos internacionais.

"Ao contrário do FMI, a China não impõe condicionalidades. Nesse sentido, os termos são mais acessíveis do que os oferecidos por outros organismos. Esse vínculo é muito fácil de romper e muito difícil de recuperar", concluiu.

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