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Terras raras e localização estratégica: ameaças de Trump vão acelerar independência da Groenlândia?

© AP Photo / Evgeniy MaloletkaAvião da Greeland Air pousa em aeroporto da capital Nuuk com prédios ao fundo. Groenlândia, 12 de março de 2025
Avião da Greeland Air pousa em aeroporto da capital Nuuk com prédios ao fundo. Groenlândia, 12 de março de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 23.04.2025
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Em meio ao aumento da pressão do presidente Donald Trump para tomar o controle da Groenlândia, o vice, J.D.Vance, chegou a fazer uma visita sem convite oficial ao território no fim de março com outras autoridades norte-americanas. A situação foi classificada pelas autoridades locais como tentativa de "interferência estrangeira".
Maior ilha do mundo que esconde sob as densas camadas de gelo grandes concentrações de metais como grafite, cobre, nióbio e titânio, além de 25% do volume global de minerais conhecidos como terras raras, a Groenlândia voltou a chamar a atenção do mundo desde a eleição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. E com as mudanças climáticas que tem alterado a paisagem do território, a exploração dessas riquezas é cada vez mais viável.
Diante disso, Trump tem repetido mês a mês a intenção de tomar o controle da Groenlândia sob a justificativa de "segurança internacional". A retórica não é exatamente nova e também fez parte de algumas declarações do presidente ainda em seu primeiro mandato, em 2019, quando afirmou que o avanço norte-americano sob a região seria um "grande negócio imobiliário". Mas, na nova gestão, o empenho do republicano tem sido ainda maior, a ponto de enviar o vice, J.D.Vance, para uma visita sem convite oficial a uma base norte-americana na localidade que irritou as autoridades locais.
Com pouco menos de 60 mil habitantes, a Groenlândia é um território semiautônomo da Dinamarca, com parlamento e governo próprio que se dedicam às questões políticas internas. Já ao país europeu fica a responsabilidade pela defesa, relações diplomáticas e política monetária da ilha, além de subsidiar pelo menos um terço do orçamento anual groenlandês.
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Além disso, quase 90% da população é indígena, conhecidos como inuítes, que também habitam outras regiões árticas do Canadá e Alasca, e vivem majoritariamente da pesca. Enquanto isso, o setor industrial é controlado principalmente por dinamarqueses.
No último mês, os groenlandeses foram às urnas em um cenário político totalmente influenciado pelas declarações expansionistas de Trump. Os vencedores do pleito: o partido Democrata, que é de centro-direita e também defensor de uma independência gradual do território rumo a se tornar um Estado autônomo. Mas as declarações do presidente norte-americano podem acelerar esse processo?
A doutoranda em relações internacionais pela Universidade de São Paulo (USP) e especialista em populações indígenas no Ártico Rafaela Costa explicou ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, que a independência da Groenlândia não deve ocorrer de forma imediata, mesmo diante das ameaças de Trump.
"O partido Democrata foi eleito com 20% a mais dos votos que recebeu na última eleição de 2021. Dentre os seis partidos que concorreram, cinco, incluindo a sigla, são favoráveis à independência da Groenlândia, só que o que muda é a velocidade com que isso deveria ser feito. No caso dos vencedores da eleição, eles defendem essa postura mais moderada. A proposta é trabalhar por um Estado soberano, mas com prioridade em fortalecer estruturas importantes que o território precisa para se fortalecer antes", resume, ao acrescentar que 80% da população é favorável à separação.
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A qual país pertence a Groenlândia?

Ainda no século XVIII, foi iniciada a colonização da Groenlândia pela Noruega e Dinamarca, que só em 1979 concedeu o status de território autônomo. Conforme a especialista, a percepção no país europeu é que só a própria população local pode decidir pela independência ou não, enquanto o primeiro-ministro da região, Jens-Frederik Nielsen, afirmou recentemente que a área "nunca fará parte da América".
"Existe uma rejeição de uma eventual dependência em relação aos Estados Unidos e deixar essa estrutura já pré-estabelecida com a Dinamarca. Esse não é um caminho viável de mudança entre quem domina mais [...]. As declarações de Trump acabaram acendendo todas essas questões e o olhar internacional para a Groelândia. Além disso, o presidente foi muito desrespeitoso ao falar sobre a compra do território, porque isso significa também um não consentimento da população com seu próprio status político", enfatiza.
E todas essas ameaças ainda ocorrem sobre um parceiro histórico dos Estados Unidos e que também faz parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
"A Dinamarca tem uma postura bastante conciliatória em relação à possível decisão dos povos indígenas [da região] pela independência, enquanto a retórica de Trump sobre o controle do território mexe em peças estruturais da OTAN e da própria Europa, colocando em risco os pilares da Aliança Atlântica".
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Qual a riqueza da Groenlândia?

Para além da questão sobre as terras raras, a especialista pontua ainda que a Groenlândia representa uma "nova fronteira na disputa por recursos minerais, rotas marítimas e presença estratégica", o que motivaria as declarações do presidente Donald Trump.
"Então, à medida que o gelo acaba recuando no território, surgem essas possibilidades econômicas e militares que antes eram inacessíveis exatamente por esse congelamento prolongado", destaca.
A doutoranda em relações internacionais lembra ainda que o território fica entre a Europa, Ásia e América do Norte. "E os Estados Unidos têm buscado consolidar sua presença em áreas fundamentais, que não seriam só a Groenlândia, mas também Islândia e Svalbard, essa última uma ilha norueguesa. É uma área bastante importante para a geopolítica, com uma passagem marítima entre atores estratégicos", finaliza.
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