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Estratégia 'paz e amor' de Bolsonaro no STF pode se revelar 'tiro no pé', avaliam analistas

© flickr.com / Antonio Augusto/STFBolsonaro é interrogado pelo STF como réu da Ação Penal (AP) 2668, em junho de 2025
Bolsonaro é interrogado pelo STF como réu da Ação Penal (AP) 2668, em junho de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 10.06.2025
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Cauteloso, controlado, conciliador. Com esses adjetivos, a analista ouvida pela Sputnik avaliou o interrogatório do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira (10), na ação em que é réu por tentativa de golpe de Estado.
Com pouco mais de duas horas de duração, as perguntas do ministro Alexandre de Moraes e as respostas de Bolsonaro ocorreram em clima polido, e houve até momentos de descontração, como quando Bolsonaro convidou Moraes, relator do caso e que o tornou inelegível por oito anos em 2023, para ser seu vice nas eleições de 2026.
Ex-presidente Jair Bolsonaro nos interrogatórios dos réus da Ação Penal (AP) 2668 no STF - Sputnik Brasil, 1920, 10.06.2025
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Bolsonaro nega ter editado 'minuta do golpe' e diz ter estudado 'possibilidades' após perder eleição
Além de negar todas as denúncias relativas ao seu envolvimento na trama para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022, Bolsonaro também pediu desculpas aos ministros por ter feito acusações sem fundamento no passado.
Para a advogada criminal e doutora em história pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Bruna Martins, ao evitar confrontos, adotar postura respeitosa e negar envolvimento direto em ações golpistas, o ex-presidente reforçou a estratégia de defesa de reduzir tensões com o Supremo e sinalizar estabilidade processual.

"Não houve um 'grande momento', o que pode ser visto como positivo para a defesa, especialmente considerando que o risco era alto, dado o teor da delação do Mauro Cid", comentou à Sputnik Brasil. "Ele falou com bastante liberdade, sem interrupções ou perguntas mais difíceis, pôde desenvolver sua tese sem a alegação de cerceamento de defesa. Os interrogadores tiveram dificuldade de sair do roteiro e explorar as contradições, facilitando o seu desempenho."

De acordo com a advogada criminal, a versão comedida de Bolsonaro "e até irreverente" contrastou com o histórico de ataques institucionais, o que reforça a leitura de que ele seguiu uma orientação clara da defesa técnica.

"Embora estivesse claramente nervoso, ele foi preparado para o interrogatório […]. Tudo indica que foi uma estratégia muito bem pensada. Essa guinada discursiva busca despolitizar o processo, evitar atritos com o relator Alexandre de Moraes e demonstrar suposto arrependimento, respeito institucional, com uma pitada de ironia."

A professora de ciência política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mayra Goulart concorda e acrescenta à Sputnik Brasil que Bolsonaro "fez um depoimento positivo para estreitar laços com seus admiradores" ao demonstrar respeito às leis e as instituições e enfatizar seu jeito falastrão.

"Bolsonaro enfatizou que sempre jogou nas quatro linhas da Constituição e defendeu seu governo quase como uma plataforma eleitoral. Falou que aumentou o Bolsa Família, reduziu os problemas de segurança em 30%, esquecendo que era um período de pandemia. Então acredito que teve esse viés eleitoral, de se apresentar quase como um candidato e renovar vínculos com seus eleitores", disse.

Jair Bolsonaro (PL), então presidente da República, participa da cerimônia de posse do ministro Alexandre de Moraes na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Brasília (DF), 16 de agosto de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 10.06.2025
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Novo 'round' entre Bolsonaro e Moraes é daqui a pouco: relembre os embates mais marcantes
Já Bruna Martins, que também é conselheira da Associação Brasileira de Juristas Pela Democracia (ABJD) e membro da Sociedade dos Advogados Criminais do Estado do Rio de Janeiro (SACERJ), afirmou que Bolsonaro foi orientado a reforçar uma imagem de "excesso de retórica no calor da política", em oposição à imagem de alguém envolvido ativamente em uma conspiração.
A advogada comentou ainda que, ao negar o conhecimento da minuta de golpe, contradizendo o assistente de ordens e tenente Mauro Cid, Bolsonaro afastou a narrativa de premeditação, elemento central para configurar a tentativa de golpe.
Na opinião de Martins, o interrogatório reposiciona Bolsonaro no tabuleiro político-judicial:

"Ele tenta se apresentar como figura institucional, buscando preservar alguma margem de manobra para o futuro, inclusive eleitoral. Mas a resposta concreta do STF virá só após as alegações finais."

Entretanto, pontuou ela, se a Procuradoria-Geral da República (PGR) ou o STF entender que há provas documentais ou testemunhais que confirmem a versão de Cid, isso pode fortalecer a tese acusatória. Caso haja "robustez probatória fora da fala de Bolsonaro, a estratégia de negação poderá se tornar um tiro no pé", ponderou Martins.
O mesmo avalia Goulart. Em sua conclusão, judicialmente, o depoimento de Bolsonaro no STF "pode ser negativo", já que o ex-presidente confirmou participação em reuniões e dúvidas quanto ao resultado das urnas. "Mas, em termos políticos, pode ter tido um ganho."
Ao lembrar que esta é a primeira vez em que figuras do mais alto escalão do Poder Executivo são formalmente responsabilizadas por planejar a ruptura da ordem constitucional, Martins celebrou o fato de que, independentemente do desfecho do processo, o julgamento é um marco histórico na democracia brasileira.

"Isso envia uma mensagem clara: a democracia brasileira, apesar de suas fragilidades, amadureceu o suficiente para reagir institucionalmente a ataques internos. E isso não é apenas uma resposta ao passado recente, mas uma construção de precedente para o futuro. O que está em jogo não é apenas a responsabilização penal de alguns indivíduos, mas o valor simbólico de reafirmar que nenhuma autoridade, por mais poderosa que seja, está acima da Constituição."

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