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Análise: Brasil reposiciona Mercosul diante de tensões globais e divergências internas com Milei

© Ricardo Stuckert / PRO presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante cerimônia de transmissão da presidência pro tempore do Mercosul da Argentina, do homólogo Javier Milei, para o Brasil. Palácio San Martín, Buenos Aires, Argentina
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante cerimônia de transmissão da presidência pro tempore do Mercosul da Argentina, do homólogo Javier Milei, para o Brasil. Palácio San Martín, Buenos Aires, Argentina - Sputnik Brasil, 1920, 03.07.2025
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Com a transferência da presidência pro tempore do Mercosul da Argentina para o Brasil, o governo Lula reforça o compromisso com a integração regional como ferramenta estratégica diante das crescentes disputas globais, avaliam especialistas.
Em recente declaração, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que "estar no Mercosul nos protege" e classificou a Tarifa Externa Comum (TEC) do bloco como uma forma de "blindagem" contra guerras comerciais.
Discurso que, segundo o professor Matheus Pereira, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), se contrapõe diretamente às críticas do presidente argentino, Javier Milei, que vem atacando sistematicamente o Mercosul e chegou a defini-lo como uma "cortina de ferro".

"A ênfase de Lula contrapõe essa postura, ao reafirmar que o Mercosul amortiza os impactos da inserção comercial dos países-membros em um contexto de competitividade local restrita e intensificação das tensões entre grandes potências. Em outras palavras, juntos somos mais fortes e, quanto mais desafiador o cenário internacional, mais imprescindível se torna a parceria regional", declarou o especialista à Sputnik Brasil.

Para a pesquisadora Beatriz Bandeira, do Observatório Político Sul-Americano (OPSA) e do Laboratório de Estudos sobre Regionalismo e Política Externa (LERPE), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), essa posição expressa a confiança do governo brasileiro em mecanismos multilaterais, ainda que haja divergências internas.

"O governo brasileiro acredita que arranjos multilaterais são a maior proteção contra as oscilações do comércio internacional e o protecionismo dos Estados Unidos e da Europa. […] Essa visão, porém, não é totalmente respaldada por países do próprio bloco, como a Argentina", afirmou à agência a doutoranda em relações internacionais.

Na avaliação de Pereira, "o discurso do presidente Lula dirige-se fundamentalmente aos membros do Mercosul, notadamente à Argentina. O governo Milei tem atacado sistemática e agressivamente o bloco, chegando a defender a saída do país para firmar um acordo de livre comércio com os Estados Unidos".
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O professor destaca que a estratégia brasileira de ampliar parcerias com países asiáticos, como Japão, China e Índia, pode ser vista como uma resposta diplomática às pressões de Argentina e Uruguai por uma maior abertura, sem romper com a lógica da união aduaneira do bloco.

"Trata-se, portanto, de uma adaptação do bloco visando à preservação de sua continuidade."

A proposta de reforçar a Tarifa Externa Comum e avançar em acordos como Mercosul-União Europeia e Mercosul-Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA, na sigla em inglês) também se insere nesse contexto de reposicionamento, segundo Bandeira.
"Esses acordos inter-regionais tendem a posicionar os países do Cone Sul como atores globais relevantes, além de evitar que suas economias fiquem expostas a choques externos."
No entanto, ela pondera que as falas oficiais de Lula ainda enfrentam contradições práticas: "O discurso sobre o fortalecimento da tarifa, por exemplo, foi atravessado nos últimos meses pela ampliação da lista de exceções à TEC — solicitada pela Argentina e apoiada por Uruguai e Paraguai". Ainda assim, reconhece: "Milei sempre criticou o Mercosul, ameaçou sair do bloco, mas entende que estar no Mercosul ainda é melhor do que estar fora dele".

Agendas em foco

Quanto à aproximação com a Ásia, a pesquisadora vê uma mudança relevante. "O Mercosul passou muitos anos atrelado quase exclusivamente às negociações do acordo com a União Europeia e agora busca diversificar parcerias", explica. Segundo ela, o Brasil tem liderado esse esforço, apesar da cautela dos demais membros.
"O que tem direcionado um esforço maior de todo o Mercosul para a aceitação desses novos instrumentos é justamente a instabilidade provocada pelas guerras comerciais e as recentes políticas tarifárias dos Estados Unidos."
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A agenda socioambiental também ganha impulso com a presidência brasileira no bloco. "O governo brasileiro quer 'atualizar' as pautas do Mercosul e não se limitar apenas à pauta comercial-econômica", afirma Bandeira, destacando que essa mudança está alinhada à política externa do governo Lula.
A expectativa é que a segunda etapa do Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul (FOCEM II, no acrônimo em espanhol) e o plano de um "Mercosul verde" abram caminho para investimentos sustentáveis. "Essa também é uma forma de garantir investimentos em projetos que visam o desenvolvimento sustentável e a mitigação e adaptação dos países sul-americanos frente aos impactos das mudanças climáticas", afirma.
Ela ainda ressalta a retomada do projeto das Rotas de Integração Sul-Americana: "Essa retomada só foi possível pois o Brasil saiu da condição de inadimplência no fundo, que vigorava desde 2015".
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