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'Um veleiro': tarifas de Trump contra o Brasil são tiro no pé e expõem novas rotas comerciais
'Um veleiro': tarifas de Trump contra o Brasil são tiro no pé e expõem novas rotas comerciais
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Diante da nova rodada de sobretaxas anunciada pelo governo Trump sobre produtos importados, entre eles o café e o aço brasileiros, crescem as incertezas sobre... 04.08.2025, Sputnik Brasil
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Ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, o pesquisador Fernando Goulart, do Núcleo BRICS da Universidade Federal Fluminense (UFF), avaliou que embora o cenário traga riscos, também abre oportunidades para o reposicionamento do Brasil no mercado global.Em entrevista ao programa, Goulart destacou que, mesmo com a exclusão pontual de alguns itens da lista de tarifas, como o suco de laranja, os sinais vindos da Casa Branca são de instabilidade.Café e aço: oportunidade no meio da criseEntre os produtos mais afetados pelas medidas está o café in natura, que hoje representa a maior parte das exportações brasileiras do grão para os Estados Unidos. A avaliação de Goulart, no entanto, é de que essa mudança pode impulsionar a industrialização do setor e a busca por mercados alternativos."Esse café não exportado para os Estados Unidos, vamos ter que trabalhar aqui pra achar novos mercados com valor agregado. Vai ser cápsula de café, café em pó, bebidas à base de café", disse. Ele lembra que apenas 10% da população chinesa consome café, mas esse percentual, em um país com mais de 1,4 bilhão de habitantes, já representa um mercado gigantesco.O mesmo vale para o setor do aço. Segundo Goulart, o Brasil mantém hoje um superávit na produção e precisa encontrar novos destinos para essa oferta. "A gente tem que colocar esse aço em outros lugares do mundo. O grande parceiro que a gente pode estabelecer nesse momento, pelo menos o que eu vejo muito no BRICS, é a China. Questão de infraestrutura", afirmou, citando ainda o potencial de reativação das obras no Brasil e o papel da China em grandes projetos ao redor do mundo.Goulart foi enfático ao afirmar que, diante da atual política comercial norte-americana, os Estados Unidos não são mais um parceiro confiável. "Eles não estão respeitando muito as regras de comércio global", disse. A instabilidade compromete não apenas as exportações imediatas, mas também a previsibilidade necessária para formular políticas comerciais. "Não dá para você negociar, não dá para você produzir na incerteza se os caras vão ou não cumprir os contratos e os preços contratados", alertou.Ele ressaltou que, embora o Brasil tenha conseguido negociar a retirada de 47% de sua pauta exportadora da taxa de 50%, os riscos permanecem.Multipolaridade e o BRICSNa avaliação do pesquisador, o cenário atual reforça a necessidade de o Brasil ampliar sua inserção em grupos como o BRICS — originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. "O BRICS é uma grande aliança estratégica. Nós hoje somos dez membros plenos e dez associados. A gente quer ter uma voz mais ativa no comércio e nas decisões globais", afirmou.Goulart acredita que o avanço do BRICS e o crescimento econômico dos países que o compõem formam uma espécie de "colchão de amortecimento" frente às turbulências internacionais. Ele também aposta em um futuro onde o BRICS consolide um papel central no novo sistema multilateral, reforçado pela ascensão econômica da Ásia. "O mundo multipolar está se desenhando cada vez mais e fugindo das amarras do garrote estadunidense", observou.O professor Daniel Kosinski, da Faculdade de Ciências Econômicas e da pós-graduação em relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), analisou os impactos dessa conjuntura e defendeu que a verdadeira oportunidade para o Brasil vai além da reacomodação comercial: passa pela reconstrução de um projeto nacional."Se deixarmos de vender café para os Estados Unidos e passarmos a vender para a China, continuamos apenas vendendo café", pontuou. Ele destacou que a grande oportunidade seria usar o cenário para retomar a estratégia de reindustrialização e investimento em setores de maior complexidade tecnológica.Sobre a participação do Brasil nos BRICS, o professor alertou para uma vulnerabilidade brasileira dentro do grupo, ressaltando que o país é o mais frágil entre os membros fundadores, tanto em termos militares quanto culturais.Kosinski argumentou que a vulnerabilidade brasileira está diretamente ligada à ausência de um projeto nacional de longo prazo. "A própria ideia de projeto nacional passou a ser tratada como uma excrescência, uma maluquice, uma coisa do passado", afirmou. Para ele, sem mobilização do empresariado, da classe média e das forças populares em torno de objetivos estratégicos, o país continuará dependente e sujeito a interferências externas.Nesse contexto, a forma como Donald Trump, à frente da Casa Branca, vem lidando com as tarifas é lida pelo professor como parte de um movimento explícito dos Estados Unidos para pressionar o Brasil a abandonar ou enfraquecer sua participação no BRICS.
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'Um veleiro': tarifas de Trump contra o Brasil são tiro no pé e expõem novas rotas comerciais
20:00 04.08.2025 (atualizado: 21:38 04.08.2025) Especiais
Diante da nova rodada de sobretaxas anunciada pelo governo Trump sobre produtos importados, entre eles o café e o aço brasileiros, crescem as incertezas sobre os rumos do comércio internacional. O chamado "tarifaço" reacendeu o debate sobre a dependência brasileira de mercados tradicionais e a necessidade de diversificação comercial.
Ao
podcast Mundioka, da
Sputnik Brasil, o pesquisador
Fernando Goulart, do Núcleo BRICS da Universidade Federal Fluminense (UFF), avaliou que embora o cenário traga riscos, também abre oportunidades para o reposicionamento do Brasil no mercado global.
Em entrevista ao programa, Goulart destacou que, mesmo com a exclusão pontual de alguns itens da lista de tarifas, como o suco de laranja, os sinais vindos da Casa Branca são de instabilidade.
"Mesmo que hoje esteja fora da tarifa de 50%, isso não quer dizer que amanhã ou depois isso volte. O Trump parece um veleiro: se o vento sopra para um lado, ele vai para um lado. Se sopra para o outro, ele muda."
Café e aço: oportunidade no meio da crise
Entre os produtos mais afetados pelas medidas está o café in natura, que hoje representa a maior parte das exportações brasileiras do grão para os Estados Unidos. A avaliação de Goulart, no entanto, é de que essa mudança pode impulsionar a industrialização do setor e a busca por mercados alternativos.
"Esse café não exportado para os Estados Unidos, vamos ter que trabalhar aqui pra achar novos mercados com valor agregado. Vai ser cápsula de café, café em pó, bebidas à base de café", disse. Ele lembra que apenas 10% da população chinesa consome café, mas esse percentual, em um país com mais de 1,4 bilhão de habitantes, já representa um mercado gigantesco.
O mesmo vale para o setor do aço. Segundo Goulart, o Brasil mantém hoje um superávit na produção e precisa encontrar
novos destinos para essa oferta. "A gente tem que colocar esse aço em outros lugares do mundo. O grande parceiro que a gente pode estabelecer nesse momento, pelo menos o que eu vejo muito no BRICS, é a China. Questão de infraestrutura", afirmou, citando ainda o potencial de reativação das obras no Brasil e o papel da China em grandes projetos ao redor do mundo.
Goulart foi enfático ao afirmar que, diante da atual política comercial norte-americana, os Estados Unidos não são mais um parceiro confiável. "Eles não estão respeitando muito as regras de comércio global", disse. A instabilidade compromete não apenas as exportações imediatas, mas também a previsibilidade necessária para formular políticas comerciais. "Não dá para você negociar, não dá para você produzir na incerteza se os caras vão ou não cumprir os contratos e os preços contratados", alertou.
Ele ressaltou que, embora o Brasil tenha conseguido negociar a retirada de 47% de sua pauta exportadora da taxa de 50%, os riscos permanecem.
"Temos mais três anos e meio para o Trump surpreender a gente com outras coisas, além de tarifas, que só Deus sabe o que virá."
Multipolaridade e o BRICS
Na avaliação do pesquisador, o cenário atual reforça a necessidade de o Brasil ampliar sua inserção em grupos como o BRICS — originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. "O BRICS é uma grande aliança estratégica. Nós hoje somos dez membros plenos e dez associados. A gente quer ter uma voz mais ativa no comércio e nas decisões globais", afirmou.
Goulart acredita que o avanço do BRICS e o crescimento econômico dos países que o compõem formam uma espécie de "colchão de amortecimento" frente às turbulências internacionais. Ele também aposta em um futuro onde o BRICS consolide um papel central no novo sistema multilateral, reforçado pela ascensão econômica da Ásia. "O mundo multipolar está se desenhando cada vez mais e fugindo das amarras do garrote estadunidense", observou.
O professor
Daniel Kosinski, da Faculdade de Ciências Econômicas e da pós-graduação em relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), analisou os impactos dessa conjuntura e defendeu que a verdadeira oportunidade
para o Brasil vai além da reacomodação comercial: passa pela
reconstrução de um projeto nacional.
"Se deixarmos de vender café para os Estados Unidos e passarmos a vender para a China, continuamos apenas vendendo café", pontuou. Ele destacou que a grande oportunidade seria usar o cenário para retomar a estratégia de reindustrialização e investimento em setores de maior complexidade tecnológica.
Sobre a participação do Brasil nos BRICS, o professor alertou para uma vulnerabilidade brasileira dentro do grupo, ressaltando que o país é o mais frágil entre os membros fundadores, tanto em termos militares
quanto culturais.
"Somos uma sociedade muito influenciada, talvez até colonizada, por instrumentos ideológicos estrangeiros, principalmente norte-americanos."
Kosinski argumentou que a vulnerabilidade brasileira está diretamente ligada à ausência de um projeto nacional de longo prazo. "A própria ideia de projeto nacional passou a ser tratada como uma excrescência, uma maluquice, uma coisa do passado", afirmou. Para ele, sem mobilização do empresariado, da classe média e das forças populares em torno de objetivos estratégicos, o país continuará dependente e sujeito a interferências externas.
Nesse contexto, a forma como Donald Trump, à frente da Casa Branca, vem lidando com as tarifas é lida pelo professor como parte de um movimento explícito dos Estados Unidos para pressionar o Brasil a abandonar ou enfraquecer sua participação no BRICS.
"A estratégia já está colocada: Bolsonaro como candidato, redes sociais liberadas para desinformar e um Brasil realinhado com os interesses norte-americanos."
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