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'Sociedade líbia existe, mas não há Estado', diz analista sobre presença de mercenários no país

© AP Photo / Yousef MuradForças leais a Abdul Hamid Dabaib, um dos dois primeiros-ministros rivais da Líbia, protegem as ruas da capital, Trípoli, na terça-feira, 17 de maio de 2022
Forças leais a Abdul Hamid Dabaib, um dos dois primeiros-ministros rivais da Líbia, protegem as ruas da capital, Trípoli, na terça-feira, 17 de maio de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 05.12.2025
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Fronteiras porosas e instabilidade constante caracterizam a Líbia pelo menos desde 2011, após a queda e assassinato do ex-líder Muammar Kadhafi. A situação no país africano, tomado por mercenários, preocupa vizinhos no continente.
Repetidamente a Tunísia, Argélia e Egito vem exigindo a retirada de todos os mercenários estrangeiros da Líbia, atestando que a interferência estrangeira é um dos principais fatores para o aprofundamento das divisões políticas e institucionais e representa uma ameaça à segurança e à estabilidade do país e da região.
#764 Mundioka - Sputnik Brasil, 1920, 05.12.2025
Mundioka
Líbia: ponto de mercenários na África?
Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, Éden Pereira, pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre África, Ásia e as Relações Sul-Sul (NIEAAS), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ressalta que a prática fortalece tendência de militarização da política na Líbia e dificulta a possibilidade de reintegração.
A a presença de grupos mercenários na Líbia não é um tema novo, mas recorrente desde a guerra civil desencadeada no país após a morte de Kadhafi. "A Líbia hoje, ela está fragmentada em uma série de regiões lideradas por, vamos dizer, senhores da guerra."
O especialista explicou que esses atores não são líderes de milícias locais, mas sim que "estão assessorados por grupos paramilitares estrangeiros, que operam defendendo os interesses de corporações estrangeiras, sobretudo alinhadas ao setor energético, ao petróleo e ao gás, para poder garantir fluxo de abastecimento desses recursos energéticos para os países aos quais essas corporações militares estão alinhadas"
Essa dinâmica ajudou a dividir a Líbia em diferentes governos nas regiões do país.

"Isso faz com que essas lideranças sejam protegidas por alguns desses grupos mercenários. É o caso, por exemplo, que nós temos hoje no atual governo sediado em Trípoli, que é o governo do primeiro-ministro Al-Dabaib, que utiliza não apenas de grupos paramilitares locais de Trípoli, mas também fez acordos com uma organização militar privada".

Apoiado pela Turquia, diz o analista, o governo de Al-Dabaib recebe militares turcos que operavam na Síria para sua segurança em Trípoli.
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Embora muitos países não revelem envolvimento direto nas tensões no país africano, é sabido que a ingerência estrangeira é evidente no território líbio. Luis Haroldo Santos Junior, doutorando em estudos estratégicos internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ressalta que há grupos oriundos de países do Sahel.

"Essa multiplicidade de atores nessa fragmentação de poder na Líbia cria um cenário muito difícil para que você possa pensar em termos de autoridade, com quem negociar", afirma, explicando as dificuldades da promoção de uma reintegração dos poderes no país.

Nesse sentido, embora haja um governo na parte ocidental que seja reconhecido pelas Nações Unidas, eles não têm comando central sobre o poder, o que dificulta no controle do território.
Como já salientado, são os países africanos que ultimamente lideram as discussões sobre a situação no país africano. A negligência por parte da mídia hegemônica com o que acontece na Líbia, se repete ao que acontece também no Sudão e na Somália, ressalta Pereira.
Mas, em busca de resolução da situação interna na Líbia, os especialistas destacam o papel da União Africana, que vem tentando liderar uma mudança de postura no Estado, mas carece de força política e militar.
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"A União Africana tem buscado se posicionar contrariamente à presença dos grupos mercenários na Líbia. Ela, ano após ano, tem se esforçado para poder negociar uma saída pacífica na Líbia, mas ela tem muita dificuldade para poder efetivamente implementar saídas, porque a União Africana carece de uma capacidade, não apenas em termos de força militar, para poder, em alguma medida, tentar intimidar as forças que estão dentro da Líbia, mas ela também carece de uma capacidade de articulação, política, diplomática, pra poder trazer uma solução pra esse conflito", aponta Pereira.
Santos Junior também menciona o papel da entidade na tentativa de expulsar os mercenários da Líbia. De acordo com ele, a União Africana "tem lançado alguns comunicados exigindo a retirada dessas tropas, mas ainda assim a situação é bem complicada nesse cenário de instabilidade que foi criado em função da presença desses grupos estrangeiros".
Diante deste contexto, o que fica explícito em relação à complexa situação na Líbia é que há "a sociedade líbia, porque o Estado da Líbia não existe", sublinha Pereira.
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