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Retrospectiva: confira os temas que mais movimentaram a política brasileira em 2025

© Foto / Kayo Magalhães / Câmara dos DeputadosDeputados federais participam de discussão sobre a PEC da Blindagem, em Brasília (DF), em setembro de 2025
Deputados federais participam de discussão sobre a PEC da Blindagem, em Brasília (DF), em setembro de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 30.12.2025
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Ao podcast Jabuticaba sem Caroço, da Sputnik Brasil, analistas comentam os assuntos mais impactantes do cenário político brasileiro de 2025.
Quatro assuntos marcaram o noticiário político brasileiro em 2025: a PEC da Segurança Pública, o escândalo do INSS, o impacto interno gerado pelo tarifaço dos EUA e a prisão de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
Em entrevista ao podcast Jabuticaba sem Caroço, da Sputnik Brasil, analistas relembram os principais pontos das discussões que marcaram o ano.

Prisão de Jair Bolsonaro

A prisão de Bolsonaro é apontada como um marco na história do país por resultar na primeira punição a militares de alta patente por abusos cometidos, como aponta Francisco Fonseca, doutor em história social pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em ciência política pela Unicamp, professor da PUC-SP e da FGV-SP e coordenador do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da PUC-SP.

"Isso nunca aconteceu no Brasil. Nós estamos falando aqui de mais de 200 anos de história, todo o século XIX, o século XX, e agora já esse quarto de século XXI, em que os militares jamais foram punidos", afirma o analista.

O ex-presidente Jair Bolsonaro aguarda a chegada do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em sua casa onde está em prisão domiciliar, em Brasília, Brasil, 29 de setembro de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 24.12.2025
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No entanto, ele acrescenta que esse tema é um "jogo que ainda está sendo jogado", pois a aprovação do projeto de lei da dosimetria, que reduz as penas dos condenados, ainda deve passar por judicialização.
"Ainda o presidente Lula vai vetar, possivelmente o Congresso vai derrubar [o veto], vamos ver se isso vai ser possivelmente também judicializado, ou seja, uma batalha que não terminou. Mas o fato objetivo de, neste momento, estarem presos grande parte dos golpistas é um fato absolutamente marcante na vida política brasileira."
Ele afirma que o impacto mais simbólico da prisão, antes de tudo, é "a ideia de que intentar um golpe tem consequências".

"Bolsonaro perdeu as eleições e quis virar o jogo. Mais uma vez, a simbologia é esta: quem não respeita as ordens, as normas democráticas, não pode viver em sociedade, é por isso que precisam estar presos, porque se não estiverem presos tentarão novamente um golpe", ressalta.

Fonseca enfatiza que o argumento usado para deslegitimar os resultados das eleições foi fraude nas urnas eletrônicas, mas frisa que a segurança do sistema é reconhecida mundialmente e que a ala bolsonarista tinha conhecimento da lisura do pleito.
"Na verdade, quem tentou impedir, inclusive, a chegada de eleitores no Nordeste foi o governo Bolsonaro, na figura do coordenador da Polícia Rodoviária Federal, o Silvinei Vásquez, que por sinal está preso também. Então, eles sabiam tanto que as urnas eram confiáveis que tiveram que impedir a chegada física dos eleitores fazendo bloqueios nas estradas."

Escândalo do INSS

Analisando o escândalo do INSS, o cientista político e professor do Ibmec-RJ Leonardo Paz afirma que o cerne do esquema é um conluio formado no final do governo Michel Temer e início do governo Bolsonaro por um conjunto de empresas e associações que prestam serviços para idosos.
"Durante esses governos você teve uma abertura de legislação que permitia com que associações pudessem fazer descontos nas folhas de idosos beneficiários do INSS, em tese, para oferecer serviços a eles. A ideia era oferecer, por exemplo, a mensalidade de um clube ou algum tipo de coisa relacionada à saúde, e aí você já poderia fazer esse desconto em folha direto. Obviamente, isso seria permitido desde que o beneficiário, o idoso, aceitasse", explica.
Porém, ele aponta que o conluio de criminosos começou a fazer descontos automáticos para milhões de beneficiários, que muitas vezes eram pessoas humildes e sem conhecimento dos detalhes do documento.
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"No final das contas, isso vai se perpetuando durante bastante tempo, porque é difícil conseguir acessar essas pessoas e elas conseguirem identificar que elas, de fato, estão pagando uma coisa que elas não pediram e obviamente não estão usando. O escândalo explode agora, nesse governo do presidente Lula, e toda a CPMI que é montada está em torno da disputa de quem é o culpado desse processo."

Ele afirma que o fato de o esquema ter durado tantos anos e respingado em três governos mostra que "mega casos de corrupção não têm um só dono, mas vários, e esses donos não têm colocação partidária, simplesmente são criminosos".
Segundo Paz, o desafio agora é fechar a torneira do esquema, uma vez que as CPMIs desde a pandemia se tornaram "palcos para políticos fazerem demagogia".

"O problema é você não acabar mais uma CPMI simplesmente em briga política e pouquíssima responsabilização de poderosos, que ficam usando o sistema para corrupção", afirma.

Efeitos do tarifaço de Trump

Já em relação ao tarifaço dos EUA, Paz afirma que há elementos que tornam aparentes a motivação política do tarifaço e destaca a proximidade do governo Trump com a família Bolsonaro.

"O Eduardo Bolsonaro, em algum momento, decidiu ir para os EUA, ele […] começa a fazer uma política de pressão no governo americano para poder tentar aliviar a situação do pai dele", afirma.

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Paz acrescenta que nessa época a política de imposição de tarifas de Trump a outros países já estava em curso, e o Brasil havia sido taxado em 10%, percentual que subiu após a intervenção de Eduardo Bolsonaro junto a pessoas do governo Trump.
"Ele [Eduardo] vai fazer um esforço, tanto é que quando o Brasil é comunicado que ele sofreu uma sobretaxa de 40%, a carta que vem indicando isso, uma carta estranhíssima, super informal para padrões diplomáticos, ela basicamente cita questões relacionadas à política. A metade da carta fala basicamente só do problema em relação ao combate à liberdade de expressão, ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro."
O cientista político afirma que a virada na relação entre Trump e Lula ocorreu após o estadunidense entender que "o que disseram para ele não era verdade". Segundo Paz, foi vendido a Trump um cenário no qual "já estava tudo pronto" para um levante popular, caso Bolsonaro fosse preso. Porém, essa leitura mudou após a prisão do ex-presidente não gerar a comoção prometida nas ruas.

"Acho que o presidente Trump vai imaginando: 'Olha, eu estou apostando no lado errado aqui, não tem essa leitura que me passaram de que ele [Jair Bolsonaro] tinha um apoio ainda brutal da sociedade, que está disposta a ir para as ruas por ele'. Isso não se provou verdadeiro, nesse sentido eu acho que ele foi tirando o time de campo."

PEC da Segurança Pública

Outro assunto que ficou entre os mais comentados de 2025 foi a PEC da Segurança Pública. A proposta tem como objetivo harmonizar, integrar e tornar mais eficiente a articulação entre os diversos poderes da União na luta contra a criminalidade e a violência, como aponta Ignácio Cano, professor do departamento de Sociologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisador do Laboratório de Análise da Violência.
Ele aponta que há resistência à proposta por parte de governos estaduais, que por um lado pedem mais recursos e mais ajuda no combate ao crime organizado, e, por outro, "resistem a qualquer nível ao que chamam de interferência do governo federal".

"Então, a PEC da segurança, na verdade, foi, voltou várias vezes, avançou, retrocedeu. De qualquer forma, é bom que se diga que a PEC da Segurança não vai resolver nossos problemas de segurança. Não é uma panaceia e não é um instrumento que vai resolver. O que ela pode fazer é melhorar a coordenação entre os diversos poderes, as diversas instâncias da federação."

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Um dos problemas no combate à criminalidade no Brasil, avalia o pesquisador, é que as propostas sobre o tema respondem sempre a crises pontuais, desencadeadas por algum evento ou operação policial, como a que deixou mais de 120 mortos no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, e são usadas por atores políticos de forma eleitoreira.
"Infelizmente, as propostas de lei no Brasil não respondem a um diagnóstico detalhado, respondem a um debate político que está baseado no que aconteceu ontem. E as posições dos diversos atores também respondem a isso. Por exemplo, essa operação com tensão aqui no Rio de Janeiro foi uma tentativa do governo do estado do Rio de se posicionar politicamente num momento em que tinha um nível de fraqueza considerável", afima.
Ele considera possível o tema ser discutido em 2026, principalmente no primeiro semestre, mas tem dúvidas quanto à continuidade do debate após iniciada a campanha eleitoral, pois avalia que para muitos atores políticos discutir uma proposta já é suficiente.

"Porque ele se posiciona dizendo: 'Eu lancei a proposta, eu fui contra, eu propus isso ou aquilo outro'. Então não precisa aprovar a PEC para ela ter um impacto político. E com o andamento que nós tivemos até agora, a lentidão, [...] a resistência de alguns estados, não temos nenhuma confiança de que a PEC será aprovada."

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